quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Há 124 anos nascia Pe. Luiz Santiago, ex-vigário de Cuité


Padre Luiz santiago. Suas origens - por Rau Ferreira

Onde nasceu o Padre Luiz Santiago? Antes, porém, precisamos responder quem foi este clérigo polêmico e ousado; filósofo, arqueólogo, historiador, escritor e piloto de avião, uma personalidade com ideias muito avançadas para o seu tempo. 

Os seus pais Delfim Izidro de Moura e Antonia de Andrade Santiago uniram-se em casamento no Sítio Lagoa Verde, em Esperança, a 18 de novembro de 1896, de onde seguiram para residir numa propriedade na Meia Pataca. Fruto desse enlace matrimonial, nasceu em 25 de agosto de 1897 um filho, a quem deram o nome de "Luiz".

A “Meia Pataca” é uma comunidade rural na divisa de Esperança e Remígio, dividida por um acidente geográfico, ficando assim chamada de “Meia Pataca de Cima” e “Meia Pataca de Baixo”. A maior parte pertence a Esperança, terra agricultável para feijão e batatinha, sendo assim chamada, pela tradição, por ali ter sido encontrada uma moeda de valor.

Uma áurea de mistério envolve o lugar. O menino cresceu ouvindo as histórias da passagem de Antônio Silvino, cangaceiro temido na região; e lendas indígenas, como a “Caricé”, passada por sua escrava forra Gestrudes, que contava a paixão de Yara pelo agrimensor Morais, moço do serviço da demarcação de terras das Sesmarias.

Não era incomum, na sociedade patriarcal da época, que um dos filhos se tornasse padre, médico ou advogado, sendo este primeiro ofício o mais indicado para aqueles menos afortunados.

Assim, sob a proteção do areiense Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, primeiro Bispo da Parahyba, seguiu o jovem Luiz Santiago de Moura para o seminário, ingressando na turma de 1918, onde permaneceu por uma década.

Ordenando-se padre aos 31 anos de idade, foi nomeado no ano seguinte (1929) para a freguesia de Cuité.

A sua formação religiosa obedeceu à risca os trâmites canônicos exigidos para a época, que vasculhavam a vida pregressa do candidato, pontuando Crisólito da Silva Marques (2016) que fora revista toda a sua documentação e formação:

“(...) desde o seu nascimento, se o mesmo seria ou não filho legítimo de seus pais, a data de seu batismo, e de crisma, que para a Igreja é a confirmação do batismo”.

Em Cuité e região o padre construiu capelas e combateu ardorosamente o protestantismo, assumindo ainda as freguesias de Picuí e Pedra Lavrada. 

Foi também pecuarista e responsável pela introdução do agave no Curimataú criando uma máquina para facilitar o seu manejo. 

Como arqueólogo, investigou o passado pré-histórico e indígena do Curimataú, colhendo vários artefatos, que hoje restam depositados em um museu. Contribuiu também, a pedido do governo, para a confirmação dos limites territoriais entre Paraíba e Rio Grande do Norte. 

Assim escreve João Suassuna, Presidente que governou a Parahyba de 1925 à 1930: 

“Havendo certa confusão de limites entre a Parahyba e Rio Grande do Norte, recomendei o padre Luiz Santiago ao presidente Juvenal Lamartine, para o delineamento de um acordo entre os dois Estados” (MS-AL: 1926, p. 31).

É autor dos livros “Serra do Cuité: sua história, seus progressos, suas possibilidades” (1936) e “Fatos e lendas do meu sertão” (1965).

O padre tirou seu “brevet”, tornando-se um dos primeiros religiosos a pilotar avião no Brasil. Sobre esta faceta, encontramos uma nota de jornal:

“(...) na nova turma de pilotos do Aero Clube da Paraíba figura o Padre Luiz Santiago, vigário de Cuité, e primeiro sacerdote brasileiro a receber o ‘brevet’ de aviador” (A Ordem-RN – Ed. Nº 2.363: 1943).

Faleceu Luiz Santiago em 1989, aos 91 anos de idade, na Fazenda Ubaia do Município de Barra de Santa Rosa.

Mas retornemos a questão da sua naturalidade, seria ele esperancense? 

Em que pese a sua certidão de nascimento ter sido lavrada em Remígio, no Cartório de Estanislau Eloy (Livro nº 01, fls. 75), à época uma pequena povoação, declarou o seu genitor que o filho Luiz nascera “em seu domicílio em Meia Patada deste Distrito”.

A escolha desse registro pode ter sido motivada mais por conveniência do que propriamente por direito. Com efeito, a “Lagoa do Remígio” situava-se mais próxima do que a sede do Município de Esperança, além disso a influência de políticos remigenses para agregar eleitorado, fortalecendo as bases daquela localidade, podem ter influenciado a decisão. 

Ora, Remígio era um povoado do termo da cidade de Areia, enquanto Esperança sim, já havia se emancipada desde 1925, e constituía termo judiciário, cujo “Sítio Velho”, englobava boa parte da Meia Pataca.

A Câmara Eclesiástica, no procedimento “Genere Vita et Moribus”, submeteu ao processo investigativo não apenas a origem (pureza do sangue, legitimidade) do pretenso seminarista, como a sua formação religiosa. Em busca dessa verdade, esmiuçou os documentos existentes na Paróquia de Esperança, conforme adiante se anota: 

“Tendo sido de fato confirmado não só o seu batismo, como também a data de seu crisma, que foi encontrado em documentação da paróquia da cidade de Esperança - PB; no qual foi constatado que ele foi crismado na data de quatro de março do ano de mil novecentos e sete, com nove anos de idade, cerimônia realizada pelo então Arcebispo Dom Adauto e registrado todo esse acontecimento pelo padre José Barges de Carvalho, então pároco da citada cidade, na data de vinte e nove de junho de mil novecentos e vinte e sete, fazendo-se juntar esse documento aos demais para cumprir as formalidades para a formação do futuro padre" (Marques: 2016). 

Entre os documentos admissionais amealhados para aquela sabatina, que antecedia ao ingresso do seminário, “foi encontrado ainda, uma carta do então Arcebispo Metropolitano da Paraíba, Dom Adauto, pedindo ao pároco da cidade de Esperança, a real procedência do mais novo candidato ao sacerdócio e o motivo de ser a cidade de Esperança, é que é o município de seu nascimento e onde estão assentado os seus primeiros registros" (Marques: 2016).

Em resposta, o Padre José Borges de Carvalho, e mais cinco esperancenses, testemunham inexistir qualquer fato que desabone a conduta do neófito, assim como uma certidão lavrada pelo Escrivão João Clementino de Farias leite, atestava que não havia processo crime que fosse causa impeditiva. 

Portanto, não apenas a sua instrução primária teria sido iniciada aqui, como também a eclesial, participando da vida católica de nossa Paróquia do Bom Conselho. Ademais, seus pais eram da Lagoa Verde, e escolheram ainda, por morada, a Meia Pataca, nas confrontações do Sítio Velho e Mulatinha, territorialidades esperancenses.

Espancando qualquer dúvida, é o próprio Luiz Santigado que, em sua petição de “Vida et moribus”, dirigida ao Padre Raphael de Barros, da Arquidiocese da Parahyba, se declara nascido e residente na freguesia de Esperança, e batizado na Paróquia de Areia.

A historiografia respeita os modernos limites municipais e, nesse caso, resta claro que atribuir a cidadania esperancense seria mais adequado, não apenas por ser este o seu local de nascimento, como ficou bem esclarecido, como ter o padre se declarado cidadão de Esperança, cujos registros eclesiais dão conta de sua vida religiosa em nossa comunidade. 

Rau Ferreira

 

Referências:

- BRITO, Vanderley; OLIVEIRA, Thomas Bruno. Breve biografia do pesquisador Pe. Luiz Santiago. Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia. v. 19, p. 1-11. Campina Grande/PB: 2008.

- MARQUES, Crisólito da Silva. Fé e poder: imaginário coletivo sobre o padre Luiz Santiago na cidade de Cuité -PB - (1929-1941). 2016. 229 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa: 2016.

- IBGE, Site. Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=251270&search=||infogr%E1ficos:-hist%F3rico, acesso em 18/12/2017.

 - SUASSUNA, João. Mensagem à Assembleia Legislativa do Estado. Imprensa Oficial. Parahyba: 1929.







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