A feira livre de Cuité sempre foi um atrativo diferenciado em
toda a região, pois começava às quatro da manhã e só terminava as dezenove
horas e era tida como a maior entre os municípios em seu entorno.
Os mais antigos sempre reportavam que ela se iniciou lá nos
idos do ano de 1925 e era apenas uma junção de pequenos comerciantes e
agricultores locais coma única intenção de vender a sua própria produção e/ou
fazer escambo entre os nativos.
Já outros sempre diziam que o ápice de nossa feira livre veio
acontecer em razão da construção do Mercado das Três Portas este que ficava no
encontro de três ruas, fato acontecido nos anos quarenta e que deu um relevante
impulso no comercio local.
Já nos idos dos anos sessenta a mesma foi dividida em dois
segmentos ficando a feira de secos e molhados no novo mercado e feiras e outros
produtos no largo no velho mercado.
Desde que me entendo de gente a nossa tradicional feira livre
sempre era nas segundas-feiras e em algumas situações e datas especiais
acontecia nos sábados e em raríssimos casos nas terças-feiras, sendo importante
frisar que fora da sua data fixa o movimento caia quase que pela metade.
Além do mais talvez fosse a única feira livre que reunia
feirantes e negociantes de vários lugares no estado e também do vizinho estado
do Rio Grande do Norte, sendo por um longo período o maior ponto de encontro de
comerciantes do brejeiro fora de lá.
Em função de ser um importante centro comercial e suas áreas
externas confinadas em determinado espaço era possível se ter um grande
aproveito diante da circulação das pessoas.
Como havia uma proveitosa movimentação de dinheiro, também
existia a massiva presença de pedintes em toda a sua extensão, com destaque
para alguns nativos e outros tantos oriundos de outros lugares, tendo com
destaque aquele que ficou e se tornou o mais conhecido entre nós.
Estou falando de Mané Cego que era brejeiro de origem e
depois se tornou cuiteense por aceitação espontânea dos comunitários, que chegava
aqui trazido pelos feirantes de frutas e verduras que vinham do brejo, que
começavam na feira de Picuí (sábado), Nova Floresta (domingo) e encerravam em
Cuité (segunda-feira).
Sendo que com o passar do tempo foi ficando se não estou
errado fixou primeiro residência em Nova Floresta e depois passou a morar na
antiga Rua do Louro (atual 25 de Janeiro), com a sua presença entre nós logo
ele como era muito esperto passou a conhecer porta em porta e as vozes de seus
moradores feito que muito contribuiu para a sua própria sobrevivência.
Para ele nunca faltou uma roupa usada ou nova pois sempre
tenha alguém com certa generosidade para lhe ofertar, só não recebia sapatos,
sandálias ou chinelos em razão de só andar de pés descalços, já em tempos das
festas natalina, chegavam a ganhar muitos presentes, cédulas e moedas não deixando
de citar as bandas de latas (embalagem de queijo do reino), como também em
tempo nenhum deixou de resmungar em voz alta que “comeram o queijo e Manezinho
ficou apenas com o cheiro nas mãos”.
Como passar ficou doente e por orientação de Dr. Medeiros,
foi aconselhado ter uma pessoa pra cuidar dele, inclusive duas de suas irmãs
estiveram por várias na cidade na intenção de levar ele de voltar para Solânea,
mas sempre havia muita resistência por parte dele, mas o seu quadro de saúde
ficou irreversível.
Quando chegou o dia de sua mudança se não estou fazendo
confusão nas minhas ideias o meu pai que tenha um Jipe foi contratado para deixá-lo
juntamente com as suas irmãs em Solânea, e talvez tenho sido para o meu pai uma
das mais difíceis e penosa viagem em razão de todo lado emocional que envolvia
o seu principal passageiro.
Edifico uma linha de pensamento como ele aí aceitar se
despedir daquele torrão que lhe acolheu e por ele foi adotado como fosse o seu
berço natal, aí se encontrava o seu inconformismo e seu estado de recusa em
voltar de onde veio.
Agora diante de sua presença entre nós e apesar de sua
deficiência visual era cativante e outras vezes meio ranzinza principalmente
quando tomava umas bicadas a mais.
Sempre tive a maior curiosidade em saber o seu nome de
batismo e sua data de nascimento, pois em particular acredito que quase ninguém
entre nós tenha essa informação com precisão.
Assim, foi o início e meio de sua convivência entre nós com
um fim revestido de uma triste despedida de um marcante e simples cidadão que
era conhecido por todos nós e atendia pelo nome de Mané Cego.
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