terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

O Armarinho de Seu Alves por Flauberto Fonseca

Houve um tempo em que praticar qualquer atividade mercantil em nossa cidade, primeiro seria necessário ser persistente e perseverante na vontade de vencer, nada tão diferente de hoje, porém, é salutar lembrar com muita propriedade e consideração aquele que nos permitiu ao seu modo e tempo o acesso a produtos que só eram comercializados nos grandes centros Brasil afora: falo do estabelecimento comercial de seu Alves, que além de tem sido um marco para cidade, tenha em sua essência atender de um modo bem peculiar e próprio as necessidades de nosso povo.

Em um momento de cintilação de minhas memórias formato de forma clara aquele estabelecimento que ficava ali na esquina das ruas João Pessoa e Epitácio Pessoa (onde hoje é o supermercado de Calú) e que jamais vou esquecer de seu ambiente interno que era composto de um balcão de madeira em linha reta com divisões internas e vidros, um expositor de quatro ou cinco prateleiras em seu terminal e internamente havia uma fileira de prateleiras com gavetas que ornava toda a área interna ; além do balcão, uma espreguiçadeira, um birô com cadeira e sobre um porta rolo de papel de embrulho de dois estágios, e por fim, uma porta que dava acessa a casa que era parte integrante do imóvel.

Havia também umm pequeno banco de madeira na parte externa do salão que acolhia os visitantes e clientes e que tinha em seu dono um vanguardista que com suas práticas comerciais fazia o diferente no tocante a condução de suas atividades, pois naquela época ele já usava uma sistema eficaz de código de barras, um rígido controle de estoque (com fichas moduladas em formato de Cardex) coisa tão em voga nas grandes empresas na época, sem deixar de citar que o sistema de custos e precificação que utilizava era de uma eficácia assombrosa e que lhe permitia o total controle de seus resultados. Era um dos poucos que fazia um balanço anual físico (estoque) e contábil (haveres e deveres).

Entre os produtos que tinha em seu catalogo: Linhas Correntes, Ancoras, Cléa, Bicos, Sinhaninhas, Babados, Agulhas finas, medias e grossas, Botões de Pressões, Botões, Ilhós, Meias, Bonecas Calungas, Bolas Dente de Leite e Canarinho, Perfumes, Sabonetes, Talcos entre outros tamanhos produtos, que simetricamente eram organizados dentro de ordenamento por tipo de produto, tendo como destaque o expositor de produtos de higiene pessoal que permitia enxergar o que tenha para vender.

Quando em determinado tempo de nossas vidas lembramos e até falamos de nosso tempo de escola, logo muitos vamos nos lembrar do “Armarinho de seu Alves”, que até então era um dos únicos que nos facultava o mais singelo meio de termos mata-borrão, caderneta, caderno aramado de uma matéria, caderno capa dura, lápis grafite, caneta esferográfica, borracha de duas faces, borracha cabeça de lápis, escarcela, prancheta, estojo, coleção de lápis de cor de 06 e/ou 12 cores, compasso, transferidor, régua, esquadro, escalímetro, caderno de desenho, caderno de caligrafia, cartilha método ABC - ensino prático para aprende a ler e principalmente uma tabuada de Theobaldo Miranda.

É importante trazer à memória que dentro de nossa escala de ascensão escolar havia um determinado material que nos acudia ano a ano sem jamais deixar de enunciar que o acesso a eles exigiam poder aquisitivo por parte de nossos pais, ou seja, muitos ficavam a mercê da boa vontade de nossos colegas de classe de querer compartilhar.

Como um bom negociador de uma cidade pequena, não faltava sobre o birô a velha e enxovalhada caderneta de fiados que atendia aos mais chegados.

Na minha visão de menino de calça curta, lembro do gato persa que quando não estava deitado sobre o balcão estava esparramado na espreguiçadeira, pois era tido como membro da família e um grande xodó de dona Severina.

Quase todas as noites muitos amigos e vizinhos se juntavam a seu Alves para conversarem, como destaque para seu Felix e seu Bozinho que em tempos de inverno sempre chegava com noticias de chuvas que caíram lá pra bandas do sertão de Padre Rolim.

Assim, como na vida tudo é passagem, o estabelecimento cerrou as suas portas em meados dos anos setenta e em mim ficaram apenas os retalhos de uma saudável lembrança do Armarinho de seu Alves. 

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