quinta-feira, 31 de março de 2022

O Flagelo e a Dispersão por Flauberto Fonseca


A literatura brasileira traz em seus escritos e em outras tantas dissertações acadêmicas o tema a seca no semiárido nordestino como fonte de referência.

Para muitos, a maior seca no Nordeste e mais devastadora ocorreu no período imperial brasileiro, lá nos idos de 1877-1879.Segundo os estudiosos, ela foi responsável pela morte de meio milhão de nordestinosem razão da datação do evento pouco se sabe acerca dos seus efeitos no município de Cuité.

Minervino Ângelo de Farias (tio dos Anjos) que era um homem tipicamente rural e como ele mesmo se intitulava matuto das Muralhas dos Vinos, pois nunca tenha morado em outro lugar que não fosse lá, gostava de contar que sua primeira experiência com a seca aconteceu no ano de 1930 na região e que foi assoladora em todos os sentidos sendo a primeira que gerou dispersão da população de nosso município em busca de abrigos e de outros meios para amenizar a fome e a sede.

Em particular tenho apenas algunsfragmentos de lembranças da pior das piores secas que se fiz presente entre nós: falo da do ano de 1970 que deixou muitas sequelas em diversos seguimentos da nossa agricultura, economia e principalmente nas famílias.

Quando dou dimensão ao fenômeno e suas nefastas consequências trago a inquietação social que se fazia presente em todos os municípios da região e em Cuité não era diferente, haja vista que o município era o maior em extensão territorial, de população e outro fator de premente preocupação era a falta d’agua em função das baixasprecipitações pluviométricas que ocorria na região, sem deixar de citar aqui que não tínhamos uma malha satisfatória de reservatórios hídricos na zona rural que desse vazão as necessidades para o consumo humano e animal.

No campo da assistência social pública municipal, a gestão municipalpouco pode fazia devido a total falta de recursos próprios e da total dependência do erário estadual, já no âmbito estadual o governador João Agripino (1966/1971) tentava e fazia o possível e o impossível que atender e contemplar os mais de cento e cinquenta municípios em pleno flagelo da seca.  

As notícias advindas do sertão paraibano eramde constantes ataques e saqueamentos ao comércio e as feiras, situações que não ocorreram em nosso município, graças a pontuais intervenções do poder público.

Em contrapartida a nossa feira pública era apenas um ajuntamento de pessoas com pouco ou nenhum dinheiro, muitas pelas esquinas, frente a prefeitura e nas portas das casas das lideranças políticas apenas do afã de receberem uma ajuda.

Os nossos principais tentáculos agrícolas: O agave, algodão, frutas e mandioca eram apenas resquícios diante da grande devastação que a seca produziu entre nós.

As frentes de emergência eram apenas paliativas e sem nenhum resultado concreto no que tange ao combate ao flagelo da seca.

Diante do estado de agravamento da seca já estávamos em pleno junho e nada de melhoras, aí pensado de forma coletiva e sem levar em conta o revés eleitoral no último pleito eleitoral, o senhor Jaime Pereira, ex candidato a prefeito da cidade, foi o responsável direto e por conta própria mandou para o estado da Bahia muitos cuiteenses como forma de adquirem meios próprios de subsistência, como também outros também buscaram acudir os nossos irmãos e irmãs levando para outras lugares.

Perante ao quadro que só exacerbavanão havia outro caminho que não fosse a ladeira do Campo Comprido como meio de escapar do flagelo aí muitos partiram em busca do Centro-Sul do Brasil, tendo o novo eldorado da agricultura como o destino final, falo do sul de Goiás (Santa Helena, Rio Verde, Itumbiara entre outros), já outros tantos seguiam para São Paulo e Rio de Janeiro pois sempre havia um parente para recebê-los em sua casa e por tabela lhe arrumar uma colocação no mercado de trabalho, que invariavelmente seria na construção civil.

Desde modo, o flagelo da seca além de ter produzido o nosso declínio econômico, ainda nos concedeu a dispersão e esfacelamento de muitas famílias que até hoje vivem apenas de lembranças daqueles que outro dia se faziam presentes. 

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