quinta-feira, 17 de março de 2022

Um lugar para se arranchar, por Flauberto Fonseca



 

 Flauberto Fonseca

A nossa cidade nunca deixou de ser um lugar de pessoas acolhedoras e receptivas no que tange a receber estranhos em seu convívio diário.

Dentro dos poucos e quase raros lugares que existiam lá, nos longínquos anos de minhas reminiscências de menino havia em nosso lugar apenas três pontos tidos como hospedarias para o recebimento de caixeiros viajantes, bancários, motoristas, servidores públicos entre outros que tinha necessidade de permanecer na cidade por uma noite pelo menos.

Tinha como destaque os Hotéis São Luiz (João Régis), o do Motorista (Maria de Pedro Conceição) e o Dona da Luz e depois apareceu a Pousada de Ritinha Caicó.

Hoje poucos lembram que havia ali na Rua 17 de Julho uma casa que em muito serviu como lugar de pouso para os menos endinheirados e outros tantos desavisados que se perdiam em seus horários e não arrumavam uma acomodação nos chamados hotéis da cidade.

Eu, em particular, muito me lembro daquela casa rústica de apenas uma porta e duas janelas de tramelas que sua sala de visita tinha à disposição de todos um pote com água doce coberto com pano e um porta canecos de zinco, um oratório ornado de Santos e Santas de sua plena veneração, pois era católica fervorosa e devota de Nossa Senhora das Mercês e rezadeira por excelência; já em seu quintal tinha muitas plantas de uso medicinais.

Estou falando da casa da Senhora Joana Gonçalo, que era parede com parede com a Bodega de Antônio Oliveira e nela se alojavam para um pernoite os feirantes que vinham do Brejo e outros tantos que apenas tomavam banho e faziam as suas refeições, pois como não havia espaço para todos dormirem, alguns usam os seus caminhões como dormitórios e assim, pastoravam as suas mercadorias.

Talvez não fosse um primor de hospedaria, mas sua proprietária era dona de uma maravilhosa receptividade e o melhor dos tratamentos, pois além de acomodar os seus hospedesem sua sala que servia de redário e alimentá-los, até tratava de seus males com chá de ervas que eram coletadas em seu quintal e se necessário fosse até uma reza com um galho de arruda ela fazia como meio de aliviar a dor do incauto.

Em pleno dia da feira ela abria a sua única porta para fornecer refeições para quem se dispusesse almoçar, inclusive fornecia para os feirantes em forma de marmita que na realidade era um prato feito.

Acredito que em algum tempo de suas atividades um dos meninos lá de casa era o encarregado de fazer as entregas das refeições prontas e receber o pagamento no meio da feira.

Com a passar do tempo, com a mudança em definitivo do local da feira e com avançar de sua idade, acredito eu que ficou apenas no passado e na lembrança aquele lugar que muitos usaram pra se arranchar.

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