domingo, 26 de março de 2023

Padre Edjamir Sousa Silva: Palavra de Deus - o Amor e a Amizade vencem a morte

 




O longo Evangelho deste domingo (Jo 11, 1-45) indica a realização perfeita da profecia de Ezequiel na 1ª leitura (37, 12-14): “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel(…)”.

O sinal do cumprimento é colocado em evidencia quando no evangelho de hoje Jesus faz-nos ir ao túmulo de seu amigo Lázaro e ali antecipa o grande sinal da sua promessa: a ressurreição dos mortos e a vida plena para seus amigos.

A grande inimiga do ser humano, a morte, só é vencida por Cristo. Só Ele tem o poder de transformação às realidades de morte em vida, através da nossa adesão ao seu projeto; ao seguimento vivendo “segundo o Espírito”.

Já se passaram alguns dias, o cheiro da morte é sentido em abundância, seria tempo de deixar que a morte prosseguisse o seu caminho. Mas, Jesus coloca em evidência o poder de Deus e do Seu amor por nós, mostrando que nada nos separará do amor de Deus. Basta confiar: “O teu irmão ressuscitará”.

A narrativa, assim como a do cego de nascença e o diálogo com a samaritana (nos dois domingos anteriores), tende a obter a fé em Jesus, Senhor da Vida.

Em Jesus, a vida há de levar a melhor sobre a morte, a luz brilhara onde antes só havia trevas, desencanto, desilusão, perda e luto.

Ao longo da narrativa somos convidados a observar os sentimentos muito humanos vividos por Jesus, desde que soube da doença de seu amigo Lázaro. Assim, como a situação do cego de nascença, Jesus esclarece que a doença, como a morte, como o sofrimento, pode fazer-nos ver a compaixão e a glória de Deus.

Diante da morte de um amigo Jesus se comove e treme interiormente. Sua reação primeira é o arrepio que nasce da constatação da injustiça da morte: como o amor pode morrer? Por que a morte mutila o amor, a relação? Jesus se perturba: sente dor e angústia. Algo que Ele também sentirá diante da perspectiva da própria morte iminente (cf. Jo 12,27) e na última ceia, quando anuncia “seus a traição de Judas” (cf. Jo 13,21). Diante do tumulo do amigo, Jesus explode em pranto, reação que os presentes interpretam como o sinal decisivo de seu grande amor por Lázaro: “Vede como ele o amava” (Jo 11, 36).

O encontro entre Jesus e Lázaro é o ápice do relato. Ele dirige-se ao túmulo e vê a pedra que fecha o sepulcro. Aquele que é a vida (cf. Jo 14,6) começa um diálogo com o Pai e um duelo, uma luta contra a morte: “Jesus levantou os olhos para o alto e disse: ‘Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas”, assim como Jesus mesmo sempre escuta o Pai (cf. Jo 5,30). É a única vez que ele reza antes de fazer um sinal, mas sua oração é de agradecimento ao Pai, àquele que é o próprio fim da oração.

Jesus deseja que os presentes cheguem a crer que ele é o Enviado de Deus, portanto um sinal que remete à realidade última, à fonte de todo o bem, o Pai. A resposta de Deus chega perceptível na palavra eficaz de Jesus: “Lázaro, vem para fora!”. Jesus tinha anunciado “a hora em que aqueles que estão nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus e sairão” (cf. Jo 5,28-29). A “ressurreição” de Lázaro, sua saída do túmulo ainda envolto nas faixas profetiza a ressurreição de Jesus.

“Aquele que Jesus ama”, manifesta a mesma razão pela qual o Pai também chamará Jesus novamente dentre os mortos para a vida eterna. No duelo entre vida e morte, entre amor e morte, vence a vida, vence o amor vivido por Jesus. Jesus é o amor que arranca da morte as suas ovelhas (Jo 10,27-28); se Ele ama e tem como amigo quem nele crê, não permitirá que ninguém, nem mesmo a morte, leve-o de sua mão!

“Muitos dos judeus creram nele.” A fé não permite escapar da morte física, mas, na verdade, para aqueles que aderem a Jesus, a morte não é mais a realidade última, definitiva. Quem crê em Jesus e está envolvido em sua amizade vive para sempre e traz consigo a vitória sobre a doença e a morte.

É como se lê no Cântico dos Cânticos: “o amor é forte como a morte” (Ct 8,6), mas o amor vivido e ensinado por Jesus é mais forte do que a morte, é profecia e antecipação para todos os amigos do Senhor, destinados à ressurreição.

A amizade e o amor vencem a morte. Se formos capazes de pôr a nossa confiança nele, o evangelho ensina que não estamos sozinhos e que, até mesmo na morte, ele estará ao nosso lado para nos abraçar na hora em que cruzarmos “o vale tenebroso da morte” (cf. Salmo 23) para nos chamar definitivamente à vida no seu amor.

“Vem para fora”. Eis o convite de um amigo que ama. Ele não deseja que o outro pereça ou que esteja atado pelo mundo da injustiça e da morte. Trabalha para recuperar a vida em sua plenitude (dar de comer, dar de vestir, ser próximo, dar educação (libertando da ignorância das trevas) é sinal de um coração que ama).

“vem para fora”. É a lógica do amor que desata-nos dos esquemas de um mundo hostil, de guerras, de ódio, de Fake News, de interesses mesquinhos e oportunistas. É o amor que nos convidando a sair do mundo extremo dos vícios, da falsidade, de relacionamentos abusivos, de paixões desordenadas e seu cheiro de morte/idolatria: poder, dinheiro injusto e do prestigio/vaidades.

“vem para fora”. É um convite a assumir a nossa historia pessoal e comunitária como compromisso ético e fraterno (somos irmãos). É trabalhar para diminuir/vencer as distancias que o veneno do preconceito e do ódio se impõe.

Gregório Nazianzeno canta: “Senhor Jesus, pela tua palavra, três mortos viram a luz: a filha de Jairo, o filho da viúva de Naim e Lázaro, que saiu do sepulcro ao ouvir tua voz. Faz com que eu seja o quarto!”. 

Boa semana!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O conteúdo do comentário é de inteira responsabilidade do leitor.