segunda-feira, 17 de abril de 2023

Padre Edjamir: A misericórdia nos põe em relação com Deus e com sua obra




Para os judeus, o primeiro dia da semana (o domingo), é o primeiro dia do trabalho do fiel. Pois como ele, Deus inicia o seu ato criador no primeiro dia. Para os cristãos, Jesus ao ressuscitar no primeiro dia da semana sela a (re)criação definitiva de Deus na Vida que não passa mais.

Os primeiros cristãos também entendiam que o domingo recorda as bem-aventuranças. Ser Bem aventurado é estar em marcha, a caminho. Assim, a ressurreição de Jesus no Domingo completa a marcha da vida que é, evidentemente, ressuscitar.

Na labuta e na marcha da vida uma das bem-aventuranças é o agir com misericórdia para alcançar a misericórdia divina (cf. Mt 5, 7). A Sagrada Escritura está repleta de misericórdia. Os salmos tem um lugar especial nesse movimento de fé e de esperança. Eles são uma coletânea de hinos inspirados que expressam a fé nas mais variadas formas da vida humana: dor, sofrimento, alegria, louvor, vitórias, doenças, mortes.

A relação é sempre com Deus que ouve o sofrimento, que aceita o louvor e mantém laços de eternidade com o ser humano a partir de sua misericórdia infinita.

Éleos (Hesed em Hebraico) expressa a emoção que temos diante do sofrimento do outro, isto é, a compaixão e a misericórdia. Daí que esmola (em Grego eleemousúne), é o ato de sentir, de ter compaixão em relação ao outro. Mesmo sendo um ato muito humano, a misericórdia tem uma relação direta com Deus. Dentre as 296 citações de misericórdia, na Bíblia, 236 referem-se à misericórdia de Deus e somente 60, ao ser humano. Disso resulta que o agir misericordioso é característica de Deus. Para o ser humano, fica sempre o desafio de ser misericordioso como Deus.

Diante das situações extremas na vida (como uma tragédia) não há como não sentir compaixão, misericórdia por quem sofre a dor (desempregados, injustiçados, doentes, abandonados, excluídos, insultados (deboches), violentados…). Quando alguém perde a capacidade de sentir misericórdia a sua humanidade não existe mais, pois a essência de Deus – que é misericórdia – morreu dentro dessa pessoa.

Para louvar a misericórdia de Deus (nos mais profundo Dele) os salmos e os textos são muitos (Sl 106, 1; 1Cr 16, 34; 2Cr 5, 13; 7, 3; 20, 21; Esd 3, 11; Dn 3, 89; Sl 100, 5; Jd13, 14). Louvar, incansavelmente, ao Deus da misericórdia (“Dai graças ao Senhor, pois Ele é misericordioso”) faz da história do povo da Bíblia uma história de salvação. Eternidade e tempo se cruzam pela via do amor divino. Eterna será a nossa vida, pois a sua misericórdia é eterna.

Misericórdia é o outro nome de Deus. Em Jesus, Deus veio ao nosso encontro para nos ensinar a olhar para o nosso semelhante com o mesmo olhar divino (com misericórdia). Só a misericórdia é capaz de manter a nossa relação com Deus.

Quando o final de nossa vida terrena chegar, seremos julgados pela misericórdia. A vida renasce quando agimos com misericórdia com nós mesmos e com os outros. Um estado permanente de ser (existir) se atualiza em nós quando a bondade reina dentro de nós. Assim, poderemos cantar: “Dai graças ao Senhor por que Ele é bom, eterna é a Sua misericórdia” (Salmo 117(118), 1).

Que a nossa vida seja um eterno domingo da misericórdia onde o fragor da vida faça renascer todas as coisas. É necessário humanizar o mundo pela via da misericórdia para recriar a vida, recomeçar na labuta do caminho semanal até o dia em que nos encontraremos com Jesus Misericordioso.

Pela vossa dolorosa Paixão, tende de misericórdia de nós e do mundo inteiro.

Boa Semana!

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