segunda-feira, 3 de abril de 2023

Padre Edjamir Sousa Silva: O que o povo viu em Jesus?

 



Jesus, o Jovem Nazareno, entra na cidade (como na encarnação quando entrou no mundo): um rei manso, humilde e determinado. Não é um jovem alienado em sonhos egocêntricos e de consumo, mas guiado por motivações divinas em restaurar o mundo e transformá-lo em um novo céu e uma nova terra (cf. Ap 21, 1-6).

Suas motivações são confundidas, por alguns, com um tipo de messianismo davidico politico e aristocrata (Atos 1, 6). Também rejeitado, por outros, por não ser um piedoso tradicionalista (cf. Mt 12, 9-13. Jo 9, 1-21). Entre estes, que muitas vezes se alinham em alianças obscuras, caminha Jesus com muita liberdade de espirito e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundancia” (Jo 10,10).

Toda a cidade de Jerusalém sente fortemente o impacto daquilo que se atravessa em suas portas e o cumprimento das escrituras: “Ó porta, levantai vossos frontões. Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, a fim de que o rei da glória possa entrar!” (cf. Salmo 24 (23)). As multidões sentem que aquele jovem profeta gentil e humilde é um rei que pode mudar as coisas, trazer a paz aos dias desastrados e com pouca esperança.

Jesus é um homem de paz e sem o brio da nobreza perversa, arrogante ou o destempero dos homens violentos e autoritários de todas as épocas e lugares (cf. Mc 10 43). O povo não sente Jesus como um juiz dos últimos tempos, mas como salvador “manso e humilde” (cf. Mt 11, 29). E mesmo que lhe seja atribuído o titulo de “Leão da Tribo de Judá” (cf. Gn 49, -10. Ap 5, 5), Ele age muito mais como o “Cordeiro de Deus” (Jo 1, 29-34).

Esperado há séculos, anunciado desde os tempos do profeta Zacarias (9, 9), o rei messiânico cavalga sobre as roupas das pessoas e os ramos das árvores (21, 8), mas o seu domínio não escraviza o povo, mas toca a vida dos homens e a natureza toda, para fazer brilhar neles aquilo que guia o seu coração: o desejo de vida plena para todos.

As multidões cantam hinos, mas são susceptíveis as mentiras e o veneno odioso das autoridades que tentam a todo custo desmoralizar e desestabilizar Jesus e a sua mensagem (cf. Mc 14, 1-2. Lc 23). As autoridades religiosas sabiam que as multidões eram manobráveis.
Jesus não tem pretensões triunfalistas e nunca se vinculou com quaisquer instituições que o colocasse acima das pessoas humildes: “Senhor, meu coração não é orgulhoso, nem meu olhar é arrogante, não ando a procura de grandezas” (Sl 131, 1). Ao contrário, sua missão se realizou junto às gentes humildes e frágeis que lutavam dia a dia pela sua sobrevivência num mundo marcado pelas injustiças e tiranias.

O fiel leitor das Sagradas Escrituras percebe que Jesus em suas aventuras missionárias andava muito nas periferias e arrasta um povo marginalizado. Por isso, ao chegar perto da cidade de Jerusalém pede pra trazer para ele um animal típico das atividades daqueles com quem Ele teve muito contato. O Mestre não era um homem das elites das cidades (identificado com as bancadas de poder ou prestigio e as suas ideologias aparentemente nobres), mas estava junto ao povo.

A partir das narrativas evangélicas, a imagem que se constrói de Jesus, é o avesso de tudo que uma sociedade do espetáculo ou um cristianismo triunfalista produz (ou produziu).

Jesus não tinha jóias ou grandes fortunas nem amigos que lhe presenteassem, mas ensinou a simplicidade do Reino. Era muito semelhante àqueles que o aclamavam. Um povo que carregava em seus ombros a responsabilidade e todas as implicações de uma luta antissistema. E aos que chamou para estar de seu lado e ser seu amigo ensinou a fazer o mesmo (Jo 13, 13-15) evitando reproduzir o comportamento dos mercenários oportunistas.

Brilhava em seus olhos a esperança de quem sabe que nem a morte pode destruir um sonho de um mundo melhor.

“Como eram belos” (cf. Is 52, 7) os Seus pés empoeirados, do chão do povo simples, de onde veio e onde seu corpo iria descansar. Mas, também, como são belos as suas mãos vazias e seu coração cheio de fé e esperança na vida que se compartilha e no Deus que o trouxera até ali.

“Como é bela” Sua pele demarcada pelo sol, o suor e as lágrimas de todas àquelas gentes que clamavam por dignidade. Ele não foi ovacionado como um herói ou uma pessoa famosa. As pessoas não gritavam “Mito” ou palavras de ordem sem sentido. Mas, o que se ouvia da multidão era um autêntico grito por socorro, de pessoas cansadas por serem exploradas pelo sistema de morte representado tanto pelos romanos como pelo judaísmo.

Era em direção a esses que Jesus sempre caminhava. E sabia que ao optar por eles, caminhava para a morte, pois esse seu modo de ser incomodava. Sem medo, não recuou em nenhum instante e foi até o fim no seu propósito de ensinar o mundo a amar como se não houvesse amanhã.

Que neste domingo de ramos sejamos tocados pela simplicidade, por aquilo que parece ser invisível, pelas insignificâncias, por aquilo que é frágil, pelo comum, pois é neste lugar que se manifesta o sagrado e o mistério da vida.

Boa Semana Santa!

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