Domingo passado ouvimos como Jesus Se apresentou no meio dos discípulos, Lhes comunicou o dom da paz e os enviou para anunciar a Boa Nova do Reino de Deus em todos os lugares. Naquela mesma tarde, primeiro dia da semana, na presença de Tomé, Jesus mostrava-lhes as mãos e o lado e a comunidade unida contemplava as marcas da paixão – no crucificado ressuscitado – e professava a Sua fé: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20, 28-29).
No evangelho deste domingo (Lc 24 13-35) o ressuscitado entra no caminho de dois discípulos. Era um final de tarde. A luz do dia se despedia e as trevas da desilusão já se avançavam no coração daqueles discípulos entristecidos por causa dos fatos ocorridos com Jesus. Eles também estão feridos por verem tanta injustiça, pela maldade das autoridades (romanas e religiosas) que mataram friamente a esperança de Israel. Feridos também por ouvirem um povo envenenado de ódio e gritando “crucifica” atiçado pelos asquerosos do sinédrio que vivam cheios de inveja do testemunho de Jesus que era pura bondade e misericórdia. Aqueles dois discípulos estão decepcionados e assustados.
Naquele caminho uma liturgia (Palavra e Eucaristia) começa ser celebrada com ares de renovação, de esperança e vida. Pelo caminho, o Ressuscitado vai-lhes explicando as Escrituras, preparando-os para o que está para acontecer, para O reconhecerem e anunciarem.
Eles relatam uma espécie de testemunho: “Jesus de Nazaré, profeta, grandioso em palavras e obras, foi morto e com ele a esperança de ser o libertador do povo simples de Israel, pois passaram três dias e não aconteceu nada, ainda que algumas mulheres tenham ido ao túmulo e tenham dito que lhes apareceram Anjos a anunciar que Jesus estava vivo. Alguns discípulos foram comprovar o que as mulheres tinham visto, mas não viram o Senhor” (Lc 24, 19-19), mas é uma narrativa fria e sem esperança.
Em meio a essa “partilha dolorosa” Jesus entra com uma boa provocação (numa espécie de pregação): “Não tinha o Messias de sofrer tudo isso para entrar na sua glória?”. Jesus lança pontes para a Sua vida pública (cf Isaias 61, 1ss/ Lc 4, 18ss), em que tinha anunciado o sofrimento e a perseguição se prosseguisse com o seu programa de vida, denunciando a prepotência, a mentira, a arrogância, o autoritarismo, a intolerância e optando pelos mais pobres, pelos excluídos, pelos mais pequeninos, pelos publicanos e pecadores, pelas mulheres e pelas crianças, incluindo, promovendo, devolvendo a dignidade perdida, revelando-lhes o amor de Deus, tratando-os como irmãos.
É claro que esta postura de Jesus criou inveja, ciúme, gerou ódios que viriam a custar-Lhe a vida. Esse também foi o destino dos profetas, então, o que esperar dessa gente? É previsto que todos os que falem pelo bem comum seja perseguido, morto…etc. Chegar à meta sem esforço e sem sacrifícios não é possível. Há que ter provações, obstáculos, dificuldades a se vencer.
A catequese de Jesus não era de cunho proselitista, nem vivia apontando pecados ou aprofundando as feriadas do povo por causa de seus pecados, como muitos pregadores narcisistas e perversos, mas sempre foi de um conteúdo amoroso e suscitou a fé das pessoas “Aquele que perseverar será salvo” (cf. Mt 24, 13).
Jesus vai dialogando e serve-se de uma boa exegese e hermenêutica da Sagrada Escritura para lhes mostrar as intuições da Lei e dos Profetas no que ao Messias diz respeito. Entretanto aproximam-se da sua povoação e Jesus faz menção de seguir o Seu caminho.
Jesus vem até nós, mas não Se impõe, dá-nos a liberdade para O acolhermos, ou para O deixarmos prosseguir para outros lugares. Os discípulos de Emaús sentem-se impelidos a deixar que Ele permaneça: “Ficai conosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite” (Lc 24, 29) .
Ao entrar na casa daqueles dois discípulos Jesus mostra-nos outra forma de O reconhecermos. Pôs-se à mesa com eles, “tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho”. Abrem-se os olhos, melhor, o entendimento e reconhecem-n’O. A fração do pão, da forma como Jesus no-lo dá, a Eucaristia, faz-nos irmãos, aproxima-nos, abre-nos a compreensão.
Jesus desaparece da sua presença, pois está no pão a partilhar e anunciar. Eles compreendem e partem imediatamente para partilhar o que viram e ouviram.
Quando vamos à Eucaristia levamos tudo o que arde dentro de nós, não só sensações boas e uma visão de mundo romantizado, levamos os nossos projetos e angústias, os nossos sonhos e as nossas alegrias, levamos a esperança do povo sofrido.
O caminho de Jesus com os discípulos de Emaús é o caminho eclesial (da Igreja) que tem sua razão de ser no anúncio da Boa Nova do Reino. O ressuscitado está presente na vida das comunidades eclesiais e exorta-as ao bom caminho, como canta o poeta: “Irmãos companheiros na luta vamos dar as mãos (…). Na grande corrente do amor na feliz comunhão, irmãos. Unindo a peleja e a certeza vamos construir aqui na terra o projeto de Deus, todo o povo a sorrir” (Zé Vicente).
A Celebração da Missa não um é “ordo missae” superficial cheio de pompas ou uma vitrine esteticista da ultima moda litúrgica (um mero fetiche religioso), mas é um diálogo com a vida, com o Deus da Vida, no caminho das pessoas. A Eucaristia abre-nos os olhos e o coração e envia-nos em missão. A tendência do caminho da fé é nos amadurecer.
“Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome estarei no meio deles” (Mt 18, 20). Os dois discípulos regressam ao seio da comunidade, para testemunharem o encontro com Jesus e para escutarem e absorverem o testemunho dos outros discípulos. A comunidade de fé deve ser o lugar onde se garante a colhida, onde se fortalece a boa fé. É o lugar que se acolhe a todos. Todos são bem vindos!
“Fica conosco Senhor!”
Boa semana!
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