segunda-feira, 26 de junho de 2023

Padre Edjamir Sousa Silva: Não tenha medo dos homens

 


Domingo passado ouvíamos (Mateus 9,36-10,8) que Jesus estava preocupado com as necessidades do povo e a conVOCAÇÃO dos discípulos para que, cuidando das pessoas, anunciassem o Reino de Deus: “Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios”. (10, 7- 8).

Hoje, o evangelho (Mateus 10,26-33) e a primeira leitura (Jeremias 20,10-13) nos apresentam o “desafio de anunciar a justiça do Reino”.

O projeto de Jesus nem sempre é um projeto “simpático”, aclamado e aplaudido por aqueles que mandam no mundo, que “manipulam” odiosamente a opinião pública ou por aqueles que patrocinam grandes eventos religiosos (sem nenhuma noção do evangelho); pois o Reino de Deus é provocativo, exige a vitória sobre o nosso egoísmo, a ostentação, o comodismo, a opressão e a injustiça…

Os anos de vida em comunidade eclesial e o anúncio do evangelho faz o conVOCADO perceber e refletir os desafios deste compromisso. Basta pensar que, muitas pessoas e grupos, talvez não se identifiquem mais com o profético anúncio do evangelho, e o risco de “estarmos reduzidos” a devoções intimistas que enrijece e traz medo de semear a autêntica santidade que nasce da justiça e equidade: “a ele nós sirvamos sem temor em santidade e em justiça diante dele, enquanto perdurarem nossos dias. (Lc 1, 68-76).

Evangelizar não é fazer uma afronta birrenta (de meninos mimados) ou uma militância odiosa; nem deveria ser uma catequese proselitista, porém, é um projeto capaz de agitar os fundamentos das ordens injustas e alienantes sobre a qual as sociedades muitas vezes se edificam.

Há um “mundo” que se sente ameaçado nos seus fundamentos e que procura, todos os dias, encontrar formas para subverter e domesticar o projeto de Jesus.

A nossa época inventou formas (menos sangrentas, mas certamente mais refinadas do que as de Domiciano) de reduzir ao silêncio os discípulos: ridiculariza os que defendem os pobres, desautoriza os que falam no bem comum, calunia os que denunciam as alienações, massacra com publicidades enganosas, etc. Assim como na comunidade do evangelista Mateus, hoje, muitos andam assustados, confusos, interrogando se vale a pena continuar a remar contra a maré. É preciso continua ouvindo Jesus: “não tenham medo”.

“Os vi espalhando o medo” (Jr 20, 10). O medo de ser ridicularizado, perseguido, de ser vitima das calunias e denuncismos (infantis, fúteis e arcaicos) de ser reduzido ao nada da indiferença ou de ser morto, não pode impedir do discípulo de dar testemunho com coerência: “Mas o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos” (v. 11).

“Se calarem a voz dos profetas, as pedras gritam” (cf. Lc 19, 40). A Palavra libertadora de Jesus tem de ser vivamente afirmada com gestos e com atitudes provocativas. Diante da dureza da vida e da resistência daqueles que não tornam a vida mais leve (rígidos), até mesmo a arte se torna uma boa aliada da profecia e da fé: “Pra ser feliz num lugar pra sorrir e cantar tanta coisa a gente inventa, mas no dia que a poesia se arrebenta. É que as pedras vão cantar”.

Se nos entregarmos confiadamente nas mãos do Deus Libertador, não teremos qualquer receio de enfrentar os homens: “quem é você para derramar meu mungunzá?”

 

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