EDNALDO LOURENÇO DA COSTA (in memoriam)
Por Flauberto Fonseca
Sempre tenho alguma reparação ou uma citação para fazer aí pergunto como dimensionar uma das situações e faze-las dentro de um plano sem quaisquer extremismo e pedido de reconhecimento, mas é necessário fazer prevalecer o princípio do valor humano como esteio.
Talvez para alguns, aquele cidadão simples e de hábitos comuns, que na sua labuta diária se apresenta como mais um perdido no meio de uma multidão de meros trabalhadores, tenha como princípio a sua subsistência e por tabela dos que viviam sob o seu guarda-chuva.
Como podemos dar crédito a um comum que ia e voltava fazendo uso de força física guiado um carrinho de mão ou uma carrocinha de madeira com direção e tração manual sobre os quais carregava cimento, telhas, tintas, ferro entre outros itens, eram valiosos bens de terceiros sob a sua responsabilidade a serem entregues em seu destino final previamente escrito em romaneios de lavra de seu empregador.
Muito maior que os bens sob a sua guarda havia algo que não podemos define ou atribuir valor material, falo de seu intelecto e toda a sua capacidade de saber e entender a humanidade desde dos primórdios de sua constituição bíblica e sem falar que o seu conhecimento musical era diferenciado.
Ele aquele ser único em sua singularidade, que ao se apresentar logo a primeira impressão em razão de sua simplória forma de se vestir aos olhos de terceiros uma radiografia era prontamente tirada e o seu diagnóstico era de pleno desprezo em algumas situações, pois tamanha era a sua falta de padrão social na forma de se vestir.
Um sujeito que usava um chapéu de couro surrado e outras vezes um capotão de bola de futebol como EPI, em muitas das vezes uma camisa amarrotada, uma calça esgarçada pelo uso e alpercata de couro já desfigurada pelo tempo e um cigarro de fumo no canto da boca vez outra apagado pois nem sempre o fósforo ou uma brasa estava ao seu alcance, tenha alguém tão ocupado com os seus ouvidos a sua disposição pra lhe ouvir e dar crédito ao seu conhecimento.
Eu, um moleque em plena formação, a ele não emprestava os meus ouvidos, muito pelo contrário, tinha bastante interesse em obter preciosas conversações pois através de tais diálogos era possível ter dimensão de toda a sua capacidade intelectual e quando tudo aquilo era importante para a minha formação escolar e quem sabe no meu caminhar mundo fora.
Ele era um contumaz rádio ouvinte das principais frequências brasileiras e tinha a Voz do Brasil como sua principal fonte, pois dela tirava as suas afirmativas e convicções políticas, haja vista que ninguém lhe fazia de pelego político.
O seu voraz gosto pela literatura fosse ela que fosse lhe dava o direito de discutir os mais variados temas principalmente os de repercussões internacionais sem cansar o seu interlocutor.
Vez por outra até na porta principal da casa da Mãe Mercês em plena celebração da missa dominical estava eu e ele a realizarmos as mais diversas conversações fosse o tema que fosse, ele era uma verdadeira enciclopédia.
Como era apreciável a sua capacidade de conversar e acredito que poucos sabiam ou tinham conhecimento de seu estado de comentarista e dissecador que iam das Revoluções Russa e Cubana, as grandes Guerras Mundiais, e principalmente pela história do Brasil e todas as suas nuances que fazia menção ao movimento de 1964, por aí ia ele enveredando pelos caminhos no seu autoconhecimento e de sua pura erudição.
Lembro de suas duas grandes citações a primeira "Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontece" era uma citação histórica de Vladimir Lenin, e a outra era a mais gostava de ouvir " Dos arrabaldes do lupanar até a casa de Pedro Medeiros, os caminhos do Bujari é a nossa verdadeira Estrada Real", aí depois de muito tempo dei por conta que as suas caminhadas por aquela vicinal tenham muito mais que conhecimentos pois era a via que lhe levava ao encontro de sua cara metade.
Antes que esqueça ele também atuou como figurante no papel de um dos discípulos que seguia Jesus nas encenações da Paixão de Cristo em Cuité, dando a sua contribuição em prol da cultura de nossa cidade.
Falo, com muita admiração, consideração e eterno respeito pela grande figura humana que atendia e se apresentava a todos como Ednaldo de Preta Lourenço, ele mesmo que outrora foi um simples, porém, valoroso funcionário da Loja de material de construção de Castelão Viana e um digno cidadão cuiteense.
Flauberto Fonseca
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