segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Padre Edjamir Sousa Silva: O perfil dos líderes que Deus deseja

 



Os evangelhos constatam que, no caminho com Jesus, os discípulos ficaram muitas vezes para trás numa acalorada discussão. Eles falam, murmuram, questionam-se. Jesus, por sua veze, desafia-os a expressar-se (cf. Lc 22, 24. Jo 6, 60-69.)

No evangelho de hoje (Mt 16, 13-22) é Jesus que pergunta. Os discípulos já estão no caminho com Jesus já tem alguns meses; já se conhecem bastante, já tem um tempo suficiente de convivência para compreenderem as fragilidades e qualidades uns dos outros. Mas, para prosseguir a missão, Jesus quer saber até que ponto pode contar com eles e se estão aptos ou seguros para poder testemunhar o Evangelho.

Algumas pessoas cultivam uma preocupação ao que os outros dizem a respeito delas. Às vezes, são pessoas tão inseguras de si mesmas, que fazem um grande malabarismo (se submetem a fazer tudo o que os outros querem) só para escutar bons elogios do outros (narcisismo primário). Outros ligam pouco para as opiniões que circulam entre as pessoas ao seu respeito. Mas ninguém aprecia andar nas bocas do mundo e ser malfalado!

É fato que alguns sublinham que mais vale dizerem mal deles, do que não serem lembrados, pois de quem não se fala nada é porque passa indiferente, insignificante, sem marcas, nem positivas nem negativas.

Se nos magoa ouvir opiniões depreciativas de estranhos ou mesmo de conhecidos, quanto mais ouvi-las daqueles a quem temos grande estima?

“Quem dizem ser o Filho do Homem? (Mt 16, 13). Se a primeira pergunta de Jesus é quase neutra, pois não implica em nada os seus interlocutores; “E vós, quem dizeis que Eu sou?”(v. 15) esta segunda questão compromete os discípulos totalmente. Jesus quer saber da opinião dos mais próximos. É sempre os mais próximos que nos surpreendem, seja pela via negativa ou positiva.

Pedro, então, responde: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (v. 16). E eu? E tu? O que dizemos a respeito de Jesus? Se tivermos que apresentar Jesus, que diremos d’Ele?

Responder essa questão exige de nós um caminho de amadurecimento, de escuta, de compreensão, de conversão… Apesar da confissão de Pedro, aquele que será o primeiro papa da Igreja, Ele ainda terá de percorrer um bom caminho de amadurecimento para falar algo sobre Jesus. Feliz de quem se coloca nesse caminho (cf. Mt 16, 17).

Com a confissão de fé de Pedro, Jesus responde confirmando-o na liderança dos Doze e no futuro da Igreja. Pedro será líder, não pelas suas aptidões, competência administrativa ou pela sua capacidade de agarinhar recurso para construções e manutenções, não apascentará a Igreja de Cristo para despertar lideranças carreiristas, autoritários, frias, frívolos na ânsia de poder, mas pela sua fé, manifestada na adesão ao Evangelho, no seguimento do Mestre, na vivência da caridade.

No evangelho de João (cf 21, 15-22) Jesus questionará Pedro sobre o amor: Pedro, tu amas mais do que estes? Se amas, então, estás preparado para apascentar o meu rebanho. A proclamação da fé de Pedro é performada e provada no amor!

O profeta Jeremias (3,15) trouxe-nos uma promessa do Senhor nosso Deus, que se cumpre, em plenitude, com a vinda de Jesus, ainda que seja preparada nos líderes que O precedem e naqueles que Lhe sucederão, ao longo da história, como Pedro: Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentarão com sabedoria e inteligência”.

O profeta Isaias (22, 19-23), na primeira leitura, traça o perfil dos líderes que Deus deseja para o seu povo. A propósito de Eliacim, filho de Elcias, descreve: “Ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá. Porei aos seus ombros a chave da casa de Davi: há de abrir, sem que ninguém possa fechar; há de fechar, sem que ninguém possa abrir. Fixá-lo-ei como uma estaca em lugar firme e ele será um trono de glória para a casa de seu pai”.

Nesse mês dedicado às vocações, compreendamos que nossa vocação passa por fazermos coincidir a nossa vida com a vontade de Deus.

Fazer a vontade de Deus leva-nos a praticar o bem, seguindo o caminho da Verdade, colocando-nos diante dos outros em atitude de serviço, privilegiando o cuidado e a atenção ao nosso semelhante. Procurar traduzir e concretizar a vontade de Deus faz-nos corresponsáveis pelos sofrimentos e pelas alegrias uns dos outros.

“(..) E o sujeito que encontrou a paz de Deus já não tem mais ilusão ele achou o que buscava e agora vive pelos irmãos”. (Padre Zezinho, Lá vem vindo à paz de Deus).

Rezemos para que nossa vida e nosso testemunho sejam qualificados pela escuta da Palavra de Deus. Rezemos por aqueles que o Senhor coloca à frente da Sua casa, pedindo que o Senhor dê um coração sensível e desperto ao acolhimento e ao reconhecimento da Sua presença nos sinais que nos dá e nas pessoas.

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