segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Padre Edjamir Sousa Silva: O olho mal não vê a beleza da graça

 




É primavera! Os dias quentes que dão sinais de uma resposta severa da natureza, por causa do aquecimento global, inquietam ainda mais os cientistas e as pessoas de bom senso que procuram uma forma adequada de como nos relacionar, de modo novo, com a Casa Comum (Mãe Terra).

É a vida, em todas as suas manifestações, pedindo de nós um pouco mais de respeito e cuidados. Cremos que as diversas epifanias de Deus, incluindo a Encarnação (como máxima da comunicação divina), sejam os modos de Deus nos lembrar que precisamos zelar por aquilo que Ele nos deu: “Eu vim para que TODOS tenham vida” (Jo 10,10).

Estamos na reta final deste mês popularmente dedicado à Sagrada Escritura. Esta dedicação acontece porquê celebramos no dia 30 de setembro a memória de S. Jerônimo, grande estudioso da Bíblia, presbítero e doutor da Igreja.

Jerônimo foi intitulado secretário do 37º papa de Roma, São Dâmaso (366-384), que o encarregou de traduzir os textos sagrados para o latim e ajudar a redigir as cartas do papa e escrever muitos outros textos. Foi uma época de muitas agitações em meio ao convite ao cuidado pela comunhão fraterna no ceio da igreja.

Também nós vivemos numa época de muitas agitações e inquietações assombrosas que retratam o quanto a criação está sedenta de Deus, de sua palavra e presença. E nós, somos os responsáveis por levar o evangelho e dar sabor de vida aos dias de hoje: “diante de ti ponho a vida e ponho a morte” (Dt 30, 19. Cf. Eclo 15, 18-19), “Vós sóis o sal da terra vos sois a luz do mundo” (Mt 5, 13). E só ouvindo Jesus, teremos a sabedoria que precisamos…

Depois de nos falar sobre o zelo pela fraternidade na vida comunitária (Mt 18, 15-20. 21-35), o Evangelho deste domingo (Mt, 1-16a) nos apresenta uma parábola na qual Deus (o Senhor da Vinha) faz um convite a cada um de nós: “Ide também vós para a minha vinha” (Mt 20,4.7).

Ser convidado (a) para trabalhar na vinha do Senhor não é privilégio, uma vaidade de status (uma raça pura privilegiada), mas responsabilidade, que nos cabe assumir com humildade e sabedoria.

A parábola sobre o Reino de Deus, deste domingo (Mt 20,1-16), é contada em Jerusalém. Em 19,1 Mateus afirma que, “depois que concluiu essas palavras, Jesus deixou a Galileia e foi para a região da Judeia, do outro lado do Jordão”.

O relato em questão começa com essa introdução: “De fato, o Reino dos Céus é como (…)”. Trata-se de uma parábola que Mateus entende por Reino “dos céus”, isto é, realidades de origem divina, pois os céus são a morada de Deus (Is 66,1).

A “parábola dos trabalhadores da vinha” conta-nos a história do proprietário da vinha que foi, em vários momentos do dia, contratando trabalhadores. Ele combinou com cada um dos trabalhadores um denário. O cenário descrito aqui se encaixa facilmente na experiência de camponeses mediterrâneos. Estes deviam lutar amargamente para ganhar o salário de um dia, a fim de sobreviverem.

Jesus compara o Reino dos Céus a um dia de trabalho, no qual um patrão sai a chamar pessoas bem cedo, à primeira hora, às nove da manhã, ao meio-dia, à tarde e na última hora. Temos um dono de casa como um típico patrono mediterrâneo, uma espécie de sistema de patronagem na Palestina romana.

Parece que ninguém está à procura de trabalho, mas é o patrão que sai de madrugada para escalar trabalhadores. Por várias vezes, esse patrão volta à sua função de empregar pessoas para a vinha. É imagem de um Deus ativo, que sai à procura dos seus, levando-os a se ocuparem do seu Reino.

Ele cumpre o acordo preestabelecido e mostra sua patronagem ao “dar a este último o mesmo que a ti” (Mt 20, 14). Portanto, não há pretexto para reclamar de sua justa medida. Os insatisfeitos lançam um olhar de inveja, e o patrão responde: “Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou me olhas mal porque estou sendo bom?” (v. 15).

Nesse versículo há uma antítese de expressões: olhar mal, ser bom. E em Mateus o olho mal é aquele que não consegue ver a beleza da graça de Deus.

A parábola ensina que o Reino dos Céus é para todos, que, indistintamente, são convidados a participar da peleja na lavoura de Deus (1Cor 3,9). Deus mesmo paga a cada um por seu trabalho, não segundo a nossa forma de quantificar ou de retribuir. A dinâmica salvífica e o Reino pertencem a Deus e tudo se baseia em sua gratuidade. Para nós, basta nos ajustarmos à sua maneira de pensar e de agir e não nos fixarmos em nossas obsessões humanas.

Quem segue a Jesus e serve a Sua Vinha, saiba que pertencer à comunidade de Jesus não é privilégio de um povo. Deus abre as portas do seu Reino para todos e os convida a entrar. A salvação é presente de Deus, que chama todas as pessoas na situação em que se encontram e na hora em que se deixam encontrar.

A nossa lógica de julgar as coisas nem sempre condiz com a lógica do Reino de Deus: “meus pensamentos não são como os vossos pensamentos” (Is 55, 8-10) e, por isso, corremos o risco de murmurações vãs. Portanto, alegremo-nos por Ele ter nos chamado para anunciar o Reino que é bondade, justiça, perdão, fraternidade, amizade, inclusão…

SEGUIR O FILHO DE DEUS já é a realidade mais nobre da nossa existência. Seduzidos para o serviço (Jr 20, 7) é a nossa maior alegria e devemos responder sem interesses, mas com generosidade e gratidão.

Boa semana!

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