A comunidade de Mateus testemunha os conflitos dos romanos contra os judeus (70 d.C) e a dura perseguição contra as primeiras comunidades cristãs. Era final de um século (e tudo se configurava como final de um tempo/dos tempos) e a Palestina no tempo de Jesus borbulhava em crises.
Esta narrativa é um dos eixos que percorrem todos os Evangelhos Sinóticos e que a comunidade de Mateus incorpora, mas enfatiza esta passagem como princípio que vai diferenciando o que é Projeto de Jesus Cristo e o sistema imperial vigente.
No evangelho deste domingo (Mt 22, 15-21)
dois grupos (Fariseus e Herodianos) tentam
desacreditar de Jesus e suas atitudes:: “Mestre,
sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te
deixas influenciar pela opinião dos outros, pois não julgas um homem pelas
aparências. Dize-nos, pois, o que pensas: É lícito ou não pagar imposto a
César?" (v.v. 16- 17).
Um fato curioso no evangelho de Mateus é
que, Jesus, só é chamado de Mestre por aqueles que não o conhecem; quem o
conhece, chama “Senhor”.
Fariseus e Herodianos unem forças com o
objetivo de preparar uma armadilha para Jesus. A questão é sobre a legalidade
de pagar o imposto ao César. Na prática, a
questão dos impostos é tão delicada que os coletores eram acompanhados por
soldados romanos. Portanto, qualquer oposição de Jesus, naquele momento,
poderia ser considerada como “inimigo de Cesar”.
Então, fariseus e Herodianos, abordam
Jesus com uma intensão de mostrar as contradições de suas palavras e sua vida e
colocar as pessoas simples e os pobres contra Jesus e, ao mesmo tempo, colocar
Jesus contra os romanos.
Eles dizem que Jesus é um homem
verdadeiro, transparente, autêntico e sincero. Em segundo lugar, destacam que
Jesus é um mestre que "ensina o caminho de Deus" (v. 16).
Marcos chama-os de
“hipócritas”, Mateus acusa-os da sua “maldade” e “hipocrisia”: “E conhecendo
Jesus a maldade deles, lhe disse: por que me tentais hipócritas?” (v.18).
A resposta de Jesus desconcerta seus
inquisidores e, “aquele que ensina o caminho de Deus”, leva a questão para uma
reflexão mais profunda: o que é de Deus e o que de César.
A estampa de César na moeda pertence a
ele em sua ambição, na qualidade de tributo, mas o ser humano, que leva impressa
a imagem do Criador (cf. Gn 1, 27), deve pertencer a Deus como seu Senhor
absoluto: somos todos de Deus.
O ensinamento é
simples e pode ser entendido por todos que o ouvem. Suas palavras são
fundamentadas em seu modo de vida, ele é direto e autêntico.
Jesus conhece as dificuldades de seu
povo, que é submetido a um regime de escravidão (cf Mt 11,28). De um lado Jesus
percebe as dificuldades de seu povo sujeito ao pagamento de impostos, taxas,
pedágios, que os judeus tinham de pagar e também o tributo a César.
Do outro lado, Jesus percebe as
dificuldades com as lideranças religiosas, que fazem interpretações das leis religiosas complicando a possibilidade de
viver a fé em esquemas fechados: fariseus, sacerdotes, anciãos do templo que
discriminavam o povo em geral.
A resposta de Jesus não lhe torna
imparcial ao sofrimento das pessoas; essa frieza para com o povo pertence às
lideranças religiosas de Israel e as politicas dos imperadores romanos, que são
chamados por Jesus de “maus” e “hipócritas”.
A moeda tem a imagem de César e pertence a ele como tributo, mas todo
ser humano é a imagem de Deus e nos convida a crescer
(em configuração) a partir de Jesus e, assim, nos
tornarmos mais semelhantes ao Filho de Deus.
Ainda hoje pagamos impostos altíssimos e
reclamamos quando a vida se torna impossível para o povo mais simples. Não é
ético que os grandes empresários (milionários/ grandes de fortunas) paguem seus
impostos na mesma medida dos pobres. Nivelar os pobres na mesma condição dos
ricos é privá-los de ter do direito a crescer de forma equitativa e viver com
dignidade.
Nesses últimos anos encontramos em muitas
cidades do país, também no Estado da Paraíba, muitas obras inacabadas (elefante
branco) por causa de uma má gesta dos recursos ou por que o novo gestor não
quis dar continuidade ao seu opositor. Pagar imposto pode ser licito desde que
sejam feitos os investimentos necessários para melhorar a qualidade de vida do
povo.
Não basta inaugurar obras, com dinheiro
público, para fazer festas, para agradar apenas a classe empresarial, mas é
preciso também investir diretamente na vida das pessoas e das famílias
(educação, saúde, qualidade nas vias públicas, segurança pública, valorização
dos trabalhadores, etc..).
O evangelho deste domingo nos levanta
questões interessantes: estamos oferecendo nossa vida ao Deus da vida ou às
personalidades que tiram a vida do povo? Entendemos que, dá a Deus a nossa vida,
é também um convite a assumir o projeto do Reino de Deus em vista dos pequenos?
“Nossa devoção” com os césares deste mundo nos tornam semelhantes a eles? Nossas
comunidades eclesiais tem a espiritualidade do Reino de Deus ou somos
“cobradores de impostos”? Com quem nos parecemos?
A liturgia já nos encaminha para celebrar
a Festa de Cristo Rei (26 de Novembro) e a Palavra nos movimenta a estar
configurados ao Coração de Jesus, nosso Mestre e Senhor.
Boa semana.
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