domingo, 26 de novembro de 2023

Padre Edjamir Sousa Silva: O Reino Deus tem muito a nos dizer…

 



Neste último domingo do ano litúrgico, a Igreja celebra a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Junto aos membros da Rede Mundial de Oração do Papa (RMOP), o Movimento Eucarístico Jovem (MEJ) e os muitos leigos (as) que são forças vivas de nossas comunidades, celebramos a mística do compromisso com o anúncio do Reino de Deus anunciado por Jesus.

As leituras desta liturgia falam de um reino, que foi inicialmente semeado no Antigo Testamento, mas plenamente realizado a partir dos ensinamentos de Jesus: “Ouvistes o que foi dito, eu, porém, vos digo” (Mt 5, 17-37).

O profeta Ezequiel (34,11-12.15-17), exerceu seu ministério entre os judeus exilados (597 a.C). Ele anuncia o plano de Deus para pastorear seu povo, como um bom pastor. Assim, é anunciado pelo profeta, um reino onde o próprio Deus apascentará (ensinará a justiça do reino), reunirá os que estão dispersos (unidade/fraternidade), reconduzindo as que estão perdidas (reorientação da vida), cuidando daquelas que estão feridas e confortando as que estão abatidas (curando).

Essa profecia se cumpre em Jesus (cf. Is 61/Lc 4, 18-19/ Jo 10, 14-18). Ele indica que o Reino de Deus já está presente, é Ele, de forma discreta (cf Lc 17, 20- 21).

O evangelho deste domingo (Mt 25,31-46) marca o final da atividade pública do Jovem de Nazaré, antes de sua paixão. Jesus conclui com um ensinamento sobre o Reino e o juízo final. E assume a missão de pastorear e governar. Como Senhor deste reinado, ele enumera todas as obras de misericórdia que o Pai estabeleceu como as exigências do Reino dos Céus (cf. Mt 5, 3-12. 25, 31-46).

No texto, o Senhor revela um mistério: tudo aquilo que é feito ao menor de nossos irmãos é a Ele que fazemos. Eis ai a espiritualidade que nos garantirá as bênçãos divinas.

Em sua catequese renovada Jesus atualiza a antiga aliança para a realidade dos novos tempos, na qual se destaca a mística do “cuidado” e da “inclusão”.

Mas, como os apóstolos e os primeiros discípulos compreenderam a mensagem de Jesus? Como os leigos (as) das primeiras comunidades cristãs (ainda “enraizadas” nas antigas catequeses meramente doutrinais) foram entendendo a mensagem do Reino e migrando para um “novo jeito de ser igreja”?

Aquelas jovens comunidades que acolhiam pessoas de muitas culturas enfrentaram problemas de muitas discórdias e interesses por haver concepções diferentes acerca de valores espirituais, éticos e morais.

Por exemplo, a cultura grega marcada por filosofias e crenças sem sintonia com a fé cristã (como o desprezo pelo corpo e a supervalorização apenas da alma, a aceitação pacífica de práticas escravagistas e a indiferença ao sofrimento alheio) confrontava-se com o anúncio de um reino que consistia em acreditar que Jesus venceu todas as vãs ideologias de morte (pecado). A certeza da ressurreição de Jesus convocava a uma conversão a novos valores: liberdade, partilha, equidade, respeito pelas diferenças, sejam elas quais forem, pois ASSIM SE REALIZA O REINO.

Entre os judeus, o anúncio do reino, enfrentou a oposição de um sistema religioso fechado, rigoroso, com pautas morais legalistas, oportunistas e intransigentes (cf. Lc 11, 37-54), que não dialogavam com a vida concreta e real das pessoas (cf Jo 10, 10). Era necessário uma “nova compreensão” e uma visão mais abrangente da vida, para tanto, exigia-se dos rígidos a abertura como atitude de fé.

No início de sua vida pública Jesus já dava sinais de certo “desconforto” por parte de alguns grupos, e os convidava: “Convertei-vos e credo no evangelho” (Mc 1, 15), ou ainda: “Buscai primeiro o REINO DE DEUS E A SUA JUSTIÇA” (cf. Mt 6, 33).

Ao longo deste ano litúrgico a Palavra de Deus, por meio de uma série de parábolas, foi dando às nossas contemporâneas comunidades, as indicações para uma verdadeira caminhada de fé, pois a justiça do reino de Deus ainda nos provoca fortemente, isto é, tem muito a nos ensinar.

O Reino de Deus tem muito a dizer às pessoas de nosso tempo que: procuram aumentar os celeiros e sorrindo com a segurança do seu enriquecimento se tornaram insensatos na idolatria do apego e acúmulo dos bens que não souberam partilhar (cf. Lc 12, 16-21).

O Reino de Deus tem muito a dizer às pessoas de nosso tempo que: quando deres uma festa não convides apenas amigos que possam te dar recompensas, mas inclui aqueles distantes (pobres, aleijados, esquecidos…irmãos excluídos) que não tem nada a lhes dar em troca (cf. Lc 14, 13ss).

O Reino de Deus tem muito a dizer às pessoas de nosso tempo que: como sacerdotes e levitas se formaram e enrijeceram com doutrinas desumanas e vão cuidar apenas de si e não se aproximam para cuidar dos que estão à margem e no chão da vida (cf. Lc 10 30-37).

O Reino de Deus tem muito a dizer às pessoas de nosso tempo que: se julgam maiores que os demais por cumprir preceitos, cargos, piedade (impiedosa), prudência (maquiavélica) ou modinhas devocionais intimistas e mercantilistas (cf Mt 23, 1-33).

O Reino de Deus tem muito a dizer às pessoas de nosso tempo que: não prejudique a vida de ninguém, mas que ajude as pessoas/irmãos a darem razões de viver a sua existência sem lhes roubar a sua dignidade humana (cf. Lc 19,8).

O Reino de Deus tem muito a nos dizer…

“Venha a nós Senhor, O VOSSO REINO E SEJA FEITA A VOSSA VONTADE”.

Boa semana!

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