segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Padre Edjamir Sousa Silva: “E começou a ensinar”

 



Depois de ouvirmos o chamado dos discípulos (cf Mc 1, 14-20) agora ouvimos que Jesus inicia seu ministério e anúncio da Nova Aliança (Mc 4, 21-28). O evangelista Marcos diz: “Na cidade de Cafarnaum, num dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar”. (4,21). Dentro de um contexto religioso, revelando que sua palavra tem poder de destruir o mal (satanás ou diabo). É o sinal do poder de Deus no aqui e agora.

Na sinagoga, lugar de oração e instrução dos judeus, Jesus ensina em dia de sábado. Ali encontra um homem com espírito impuro, símbolo dos males que alienam e destroem a pessoa (não fala nem age por si mesma).

Marcos nos lembra do cumprimento da profecia de Isaias que se realiza em Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, ele me ungiu para libertar” (Is 61 / Lc 4, 18ss).

A prática taumaturga de Jesus não se dá meramente dentro de um fenômeno “sobrenatural”, como um fenômeno único e exclusivo, pois em sua época eram muitos os que exerciam a função de curandeiros. As ações de Jesus se inserem dentro de um contexto catequético da Nova Aliança com a finalidade de falar da justiça do Reino de Deus.

A Palavra de Jesus tem poder curativo de despertar a vida que há dentro das pessoas e estruturas. Ela tem poder sobre a aflição humana.

O homem com o “espirito imundo” ou “impuro” é uma maneira tipicamente semita para designar a personificação das forças do mal que se apoderaram do ser humano. Esse espirito imundo está em contraposição ao Espírito de Deus e de sua santidade.

De um ponto de vista psicológico, esse ser humano tomando pelo espirito imundo (impuro) pode ser entendido com alguém tomado pelas forças ideológicas maléficas que dominam (tem posse) a cabeça das pessoas.

Esse espírito imundo incorporado no homem é causador do mal pela reação que se observa no comportamento, tornando-o exasperado (vocifera, grita ao pondo de mandar calar a boca), agressivo (“vistes para nos destruir”) e múltiplo.

De um ponto de vista teológico esse espirito impuro que fala pela boca do homem, demonstra ter clareza de quem é Jesus: “Sei quem és, o Santo de Deus” (Mc 1, 25). Por ser um espirito contrário ao espirito que anima Jesus, não compactua com o Seu projeto: “o que há entre nós e ti” (Mc 1, 24). E esse supõe que Jesus vive um proselitismo guerreiro: “vieste para nos destruir”.

A radical oposição entre o “espirito imundo” e o “Espirito de Deus”, põe em evidencia que a Palavra de Deus traz a paz e a justiça, enquanto que a palavra do maligno produz perturbações e desordens: “sacudi-lo” / “agitando-o” / “gritando”. A força desse espirito maligno era tão intensa que trouxe ao homem na sinagoga repercussões sobre seu modo de pensar e agir, bem como sobre todo o seu corpo. Ele estava literalmente possuído pelo mal.

A ironia literária da narrativa (Mc 1, 21-22 e Mc 1, 27-28) faz referência aos presentes na sinagoga de Cafarnaum como pessoas que, do ponto de vista psicológico, estão num crescente “encantamento” por Jesus. Mas ao mesmo tempo faz referencia ao espirito opositor que agita uma religião que não produz vida, que é fardo pesado, alínea as pessoas de seus direitos humanos.

Por isso, as pessoas encontram-se “admiradas” (v.v. 27-28) da autoridade de Jesus sobre os espíritos imundos que dominam as pessoas nos espaços religiosos e na própria sociedade.

A ação pontual de Jesus sugere o quanto Ele é humano. Ele liberta! Ele traz à vida! É tão humano que só pode ser de Deus.

Jesus ensina com autoridade. Pratica o que ensina. Não tem divisão dentro de si (que é tão própria da ação do diabo: dividir). Tem coerência de vida e com a vida. Realiza atos libertadores. Os doutores da Lei, ao invés, eram vazios; só exibiam conhecimento e impunham sobre o povo pesadas observâncias religiosas que eles próprios não cumpriam. O povo percebia essa incoerência.

Jesus, porém, com uma palavra que tem o poder de recriar a pessoa, expulsa o demônio: “Cale-se, e saia dele”.

Ao ouvir o evangelho deste domingo cabe-nos perguntar: Que espíritos maléficos deste mundo, ou seja, que ideologias causadoras do mal neste mundo, dominam o ser humano ao longo da historia? Que ideologias, inclusive religiosas, tomam a cabeça das pessoas ao ponto de mantê-los alienadas de si mesmas e alienadas com o compromisso da vida social?


Boa semana!

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