domingo, 21 de janeiro de 2024

Padre Edjamir Sousa Silva: Eles se interessaram pelo Evangelho de Jesus e pela causa do Reino


 


Por vontade expressa do Papa Francisco, o terceiro Domingo do Tempo Comum é o Domingo da Palavra de Deus. O zelo apostólico do papa Francisco nos convoca à importância da escuta e meditação diária Deus, através da Escritura.

A Palavra de Deus é sempre viva, eficaz e atual; não foi dirigida no passado, a um povo, com o risco de, ao avançar do tempo, perdeu a sua relevância e atualidade. A Palavra de Deus é para hoje, para mim e para ti, há que ressoar nos nossos ouvidos e, sobretudo, envolver o nosso coração, plasmar a nossa vida, inspirar os nossos comportamentos, iluminar as nossas escolhas, mudar nossa compreensão, guiar-nos no caminho do bem, pela verdade e pela justiça.

Esta palavra tem muitos rostos, mas o Rosto, por excelência, é Jesus, a Palavra encarnada, a Palavra que Se incorpora num corpo, na humanidade, na história e no tempo: “Quem Me vê, vê o Pai”, diz-nos Jesus. Quem O escuta, escuta o Pai. A palavra também nos diz.

Por vezes, em algumas ocasiões, vamos dizendo que, mais que as palavras, importam as obras. De fato, quando as palavras são vazias, quando estão desligadas do coração, quando são ditas apenas para impressionar, solenizar, iludir, para mostrar o que não se é. Se a palavra é autêntica, então, ela reflete-se, traduz-se e concretiza-se nas obras, na vida.

O Evangelho deste domingo (Mc 1,14-20) remete-nos precisamente para o anúncio do Reino de Deus: Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo: ‘Cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho’”.

Até João Batista tudo foi uma espécie de preparação. João Batista cumpre sua missão, sai de cena e Jesus assume o ministério do anúncio do Reino de Deus. A partir deste evangelho vemos Jesus assumir o protagonismo e será até o final do evangelho (cap. 19).

Jesus já tinha sido apresentado pelo Pai (no batismo) como o seu enviado. João Batista deu testemunho da luz dizendo: “Eis o cordeiro de Deus”. Agora, Ele mesmo vai se apresentar revelando seu projeto e sua proposta de vida contida no evangelho de Deus, contida no seu evangelho, uma vez que Ele mesmo é o evangelho.

“O Reino está próximo” (Mc 1, 15b). O Reino chegou (é Jesus) e está próximo das pessoas, caminha com as pessoas. É algo acessível às pessoas, principalmente as que respondem ao convite a uma nova mentalidade, a alinhar-se ao evangelho de Jesus: “Convertei-vos”.

A pertença à comunidade da Antiga Aliança dependia, essencialmente, do componente genealógico (casta familiar) e do preceito étnico (nacionalismo). Já o acesso ao Reino de Deus, cujo embrião é a comunidade cristã, depende unicamente de uma adesão/conversão ao Evangelho.

Embora o Evangelho tenha implicações comunitárias a sua adesão é pessoal exige um processo de conversão. E conversão não significa tornar-se uma pessoa mais devota ou religiosa, mas principalmente uma mudança de mentalidade. É passar a ver as coisas de um jeito novo, segundo uma nova lógica. Começando com a mudança da imagem que temos de Deus (trazida desde o AT pela religião oficial de Israel).

“O tempo se cumpriu” (v. 15a). Com Jesus é chegada à Plenitude dos Tempos, na qual Deus Se manifesta pelo Seu Filho. É o Kairós (Tempo da Graça). Para isso é fundamental a assimilação da Boa Nova construída a partir da Justiça e do Amor, da solidariedade e da paz e não mais se reduzir a um código de normas e preceitos (Lei de Moisés). 

E para levar adiante essa missão e se efetivar ao longo dos tempos Jesus sai à procura de colaboradores. Ele chama para Si pessoas concretas/discípulos que irá, por meio da convivência, ensinar-lhes o jeito de ser do Reino.

Como refletíamos semana passada, há um fato curioso nesses textos vocacionais, pois Jesus não vai buscar seus colaboradores em ambientes religiosos (Sinagoga ou no Templo). Não procura as pessoas mais devotas ou mais santas. Ele vai ao encontro das pessoas onde não há seletividade.

É da “margem do Mar da Galileia” que Jesus começa a chamar seus discípulos. Não esqueçamos isso “DA Margem” e não do centro das atenções da piedade e da nobreza.

“À margem” se torna o lugar teológico da vocação e da missão. Ali Jesus se encontrava com as pessoas, conversava com elas, brincava, sorria e, assim, ensinava os valores do Reino. O evangelho de hoje mostra o inicio dessa aventura à beira mar.

Quando chegar o momento de Jesus regressar ao Pai, serão eles a prosseguir com a missão de anunciar a Boa Nova a todos.

“Jesus passa e os ver” (v.16). O ver fala da atenção Dele. Ele tem interesse pelas pessoas e esse interesse por elas é causa do chamado do discípulo para que eles também “vejam”, se “interessem por elas”: “Segue-me e eu farei pescadores de homens” (v. 17).

Jesus fez do Mar da Galileia um ambiente vocacional onde seus vocacionados não estivessem preocupados com os adornos do Templo, mas que tivessem interesse pelas pessoas. Nossas comunidades são ambientes vocacionais? Nossos seminários, as casas de formações religiosas, as faculdades e escolas católicas vocacionam pessoas para a Boa Nova do Reino de Deus e o interesse pelas pessoas ou vivem num espectro-devocional?

O “farei de vós pescadores de homens” é muito significativo para a missão cristã, mas ela pode se tornar muito perigosa, pois às vezes ela pode ser usada para legitimar proselitismos e até intolerância. Por isso ela só pode ser bem entendia á luz do EVANGELHO DE JESUS DE NAZARÉ.

“O Mar” é para o povo da Bíblia um ambiente perigoso é a morada das forças do mal (Leviatã) é sinônimo de negação da vida. Tornar-se pescador de seres humanos significa empenhar-se para libertar as pessoas de todas as formas de opressão e morte. É libertar as pessoas do submundo das situações em que a dignidade humana é ferida. E muitas vezes é a própria instituição religiosa que faz o papel do mar na vida das pessoas (quando introjetam medos, sentimentos de culpa e dentre outras formas de coação e vingança como a segregação, a exclusão). “Pescar seres humanos” é, sobretudo, apontar o caminho da liberdade, da justiça e do amor.

“Deixaram tudo e o seguiram”. Eles aceitam aquela proposta de Jesus. Eles se interessaram por Jesus, pelo evangelho e pelo Reino.

“A periferia Galileia” é o ambiente rejeitado pelas autoridades religiosas da religião oficial, mas é o lugar escolhido, lugar do inicio da missão de Jesus. É a pátria do evangelho.

Que este domingo, os filhos da Nova Aliança, reunidos em torno da Palavra de Deus, faça novos discernimentos no seguimento de Jesus e, ao ouvir o Evangelho, que aprendamos a “permanecer na Palavra de Jesus” (João 8, 31). Renovemos nosso seguimento, nova conversão e nos empenhemos mais no anuncio do Reino de Deus.

Boa semana!

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