O trecho do Evangelho de Marcos proclamado neste domingo (1, 29-39) apresenta um dia de Jesus em Cafarnaum. Trata-se de um dia que serve de paradigma narrativo/teológico para todos os demais dias da evangelização de Jesus.
Depois de ter chamado seus quatro primeiros discípulos (Mc 1, 14-20), o Mestre vai com eles para a casa de Simão, a quem posteriormente chamará Pedro, e seu irmão André.
Domingo passado Jesus expulsava um “espirito imundo” de um possesso dentro de uma sinagoga, um lugar de oração e meditação da Palavra (Mc 1, 21-24). Neste domingo, é a casa o segundo cenário para a ação taumatúrgica de Jesus em Marcos.
Os discípulos comentam com Jesus que a sogra de Simão estava de cama e com febre. Jesus tocou-a com a mão, levantou-a e a curou. Em seguida, a mulher curada pôs-se a servi-los (diekonein é o verbo grego utilizado por Marcos).
À tarde (v. 32), levaram a Jesus todos os doentes. Na madrugada (v. 35), Jesus se dirigiu a um lugar deserto para orar. Jesus nunca fica parado, está sempre em movimento. Vai de um lugar a outro e, mesmo em momentos de repouso, aproveita para anunciar o Reino de Deus.
Trata-se de um dia revelatório de Jesus, do seu poder autorizado por Deus. Jesus é o enviado do Pai, aquele que vem realizar a plenitude da criação. É o Messias por palavras e por obras. Ele ensina, cura e, gradativamente, vai aproximando cada vez mais as pessoas de Deus.
Os discípulos mostram a preocupação: “todos Te procuram”, parecendo que Jesus estava fugindo do povo, mas escutemos o que Ele diz: Vamos a outros lugares, ao encontro das pessoas, há mais pessoas que querem e precisam de escutar a palavra de Deus. É essa a minha missão: pregar, levar a todos a Palavra de Deus para que todos tenham a oportunidade de acolher os novos tempos da salvação.
Todo aquele que se aproxima de Jesus saiba que, enquanto mais próximo de Deus, mais perto das pessoas devemos estar. Viver em Deus é deixar-se transbordar para os outros…para o mundo….deve ter interesse com a vida social.
Vivemos tanto numa paranoia de autodefesa que nem damos conta que corremos o risco de nos isolar das pessoas, dos seus contextos e do mundo. A maneira de muitos lerem a Bíblia, fugindo ou não se importando de seu contexto literário, pode indicar um sintoma de uma religião que não consegue se situar, por isso que para muitos o único contexto de sua espiritualidade é o isolamento devocional, nos seus objetos ou lugares tidos como sacros… nas na sua maneira restrita de ler e estar na vida.
O “sair do real” implica também a esquizofrenia de uma instituição que criou um mundo “irreal” para “existir” dentro dele.
Jesus diz: “Vamos a outros lugares”. As pessoas, nas suas diversas situações e contextos, são o lugar privilegiado/teológico do anúncio da Boa Nova: “foi para isso que eu vim”. Este o sentido do viver de Jesus.
É da eternidade que Deus nos busca: Vem. Desce. Habita-nos. Encarna. Faz-Se história. Faz-Se tempo. Vive no meio de nós. É Deus conosco. Procura-nos, Percorre, em Jesus Cristo, os dramas e os sonhos da (nossa) humanidade. Leva sobre seus ombros a cruz do nosso sofrimento, não por ter muitas forças, mas por transbordar de Amor. Amar é a força maior. Quem ama vai mais longe. Quem ama predispõe-se a oferecer a vida pelo outro, pelo filho, pelo irmão, pela mãe e pelo pai, pelo amigo e mesma pela humanidade (causa humanitária).
A primeira leitura (Jó 7, 1-4. 6-7) e o evangelho (Mc 1, 29-39) faz a gente se perguntar, no final das contas, o que é viver bem? Quem nunca parou para ouvir, cantar e dançar a canção de Gonzaguinha num bonito poema sobre a vida: o que é, o que é? Quantas e belas canções fazem-nos pensar a vida, não é verdade?
O livro de Jó ensina-nos que, se na nossa fragilidade encontrarmos o Deus da vida, a esperança recoloca-nos na eternidade, a duração da nossa existência medir-se-á pela intensidade com que vivemos, pelo amor, pela paixão, pelo sonho, pela beleza e não só se fomos aventureiros.
“E a vida. Ela é maravilha ou é sofrimento? Ela é alegria ou lamento? (…) Você diz que é luta e prazer. Ele diz que a vida é viver. Ela diz que melhor é morrer, Pois amada não é e o verbo é sofrer. (…) Somos nós que fazemos a vida. Como der, ou puder, ou quiser. Sempre desejada, por mais que esteja errada”…
Deixemo-nos encantar pelas coisas do Reino, para o encontro de Deus na história! É do cotidiano de nossa vida, e nunca fora da vida, que alcançamos Deus. É nesse caminho chamado de vida que Deus caminha e manifesta seu amor por nós.
Boa Semana!
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