Palavra do Senhor – Remover os medos
Festejamos a Ressurreição de Jesus, neste final de
semana, com o IV Domingo do Tempo da Páscoa. A Liturgia da Palavra (Atos 4,
8-12. Sl 117. 1Jo 3,1-2. Jo 10, 11-18.) insiste a nos dizer que o Crucificado-Ressuscitado,
continua no meio de Seu Povo (cf. Mt 18,20) e quer fortalece-lo na estrada da
vida rumo ao Pai.
No evangelho deste domingo (Jo 10, 11-18.), Jesus
se apresenta como o bom pastor. Ele se diz bom porque conhece seu povo e o povo
o conhece. Conhecer, em sentido bíblico, é ter “proximidade”, “comunhão” e
“relação pessoal de amor e amizade”.
“Conhecer” de verdade as pessoas implica disposição
a arriscar-se e pagar o preço de se colocar ao lado delas (cf. Gn 4, 9-12. 37,
12-36). É estranho dizer que se paga um preço ao se colocar ao lada das
pessoas, mas, arriscar-se em estar ao lado é o preço da gratuidade de um
coração que ama. É ASSIM QUE O BOM PASTOR, CRUCIFICADO-RESSUSCITADO, CAMINHA
CONOSCO.
O salmista canta: “O Senhor é o meu pastor, nada me falta (...) Mesmo se eu tiver de andar
por um vale de sombra mortal, não temerei os males, porque estás comigo (Sl 23,1.4).
E ainda: “O Senhor é minha luz e minha
salvação: de quem terei medo? O Senhor é o refúgio da minha vida: diante de
quem tremerei?” (Sl 27,1).
À luz da bela poesia da fé destes salmos apreciamos
que o Bom Pastor caminha ao lado das pessoas (ovelhas) numa tentativa de
remover os medos que cada uma traz dentro de si. Ele é o irmão e o amigo que,
caminhando ao lado, traz um novo fragor à vida: “não tenhais medo!” (Mt
10,26-33).
Colocando-se ao lado das pessoas o Bom Pastor
procura conhecer as feridas delas para poder trata-las e, assim, Ele ensina que
“ser bom” passa por “saber cuidar”.
Carl Gustavo Jung, um dos maiores estudiosos da
vida interior do homem (que tomou a si mesmo como matéria prima de suas
descobertas) fez-nos pensar que é necessário conhecer as próprias feridas para
poder tratar as feridas dos outros e que conhecer as feridas dos outros ajuda a
tratar as próprias. O que o psicanalista
Jung fez-nos intuir vale também para a vida espiritual e de fé. Como não
lembrar que o ressuscitado, ao nos convidar a ter paz, ainda carregada em si as
suas feridas. Um enfermo que deve ajudar os outros a curar: “a paz esteja
convosco!” (Jo 20, 20).
Do inicio ao fim das Escrituras há questão da qual
deve ser tratada e que preocupa as ovelhas em relação a Deus e a vida: não ter
medo! Vejamos: “Moisés disse ao povo: ‘não tenham medo’” (Ex 20,20). “não tenha
medo, pois estou com você” (Is 41,10). “Não
tenhas medo, pequeno rebanho” (Lc 12,32), “Por que tendes medo, fracos na fé”
(Mt 8,26).
É verdade que o medo pondera algumas ações que “sem
ele, nos tornaríamos vulneráveis a toda espécie de perigo” (Solomon. Robert C.
“Fiéis às nossas emoções”. O que elas realmente nos dizem. Rio de Janeiro.
Civilização Brasileira, 2015. p. 57). Porém, o medo tem poder para restringir e
roubar a alegria e a diversidade do saber viver.
O que, de fato, é o medo? O medo é a reação a uma
ameaça real ao nosso ser, a resposta a um perigo real ou presumido: do maior
perigo de todos, que é o da morte, aos perigos particulares que ameaçam ou a
tranquilidade, a integridade física, o nosso mundo afetivo (instinto
fundamental de conservação).
Conforme se trate de perigos objetivos, reais ou
imaginários, fala-se de medos (justificados e injustificados), ou neuroses: do
abandono, claustrofobia, agorafobia, medo de doenças imaginárias, desempenho,
social (...). A psicologia e a psicanálise buscam tratar medos e neuroses
analisando-os e trazendo-os do inconsciente ao consciente.
O Evangelho não nega estes meios humanos, mas
acrescenta algo. São Paulo escreve: “Quem
nos separará do amor de Cristo? Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez,
perigo, espada?... Em tudo isso, porém, somos mais que vencedores, graças àquele que nos
amou” (Rm 8 ,35.37).
A LIBERTAÇÃO TEM UM NOME, É UMA PESSOA, JESUS CRISTO, aquele que disse “Tende coragem! Eu venci o mundo” (Jo
16,33).
O medo é uma condição existencial (desde a infância
até a morte). A criança tem medo de muitas coisas (temores infantis). O (a)
adolescente tem medo de suas descobertas afetivas e sexuais se envolve às vezes
em complexos de timidez e de inferioridade. A fase adulta e os seus desafios de
sobrevivência, saúde, acolhimento, bem estar... também tem seus
amedrontamentos.
Jesus deu um nome aos nossos principais medos da
vida adulta: medo do amanhã: “que comeremos?” (Mt 6,31). Medo do mundo e dos
poderosos: “dos que matam o corpo” (Mt 10,28). Qualquer pessoa, tirano ou
regime totalitário (politico ou religioso (teologia do medo)) sabe como
manipular pessoas a partir de seus medos. Sobre cada um destes medos, Jesus
pronunciou: não tenham
medo! Eis uma palavra que não é vazia e impotente; é uma palavra eficaz, quase
sacramental.
Na Carta aos Romanos,
São Paulo diz: “Nem a morte, nem a vida! (Rm 8, 38)”. Cristo
venceu a coisa que mais angustia as pessoas: a morte. “Nem a altura, nem a profundeza” (v. 39) nem o universo ou
o infinitamente pequeno. É preciso dizer, também, que confiar em Deus não é
jogar sobre Ele todas as nossas responsabilidades, mas crer, que, no fim, “tudo
coopera para o bem daqueles que amam a Deus” [e que Deus ama!] (cf. Rm 8,28).
Todos os dias muitas coisas nos assustam e afligem
ainda mais neste mundo violento e enlouquecedor, tornando as pessoas mais
vulneráveis. Mas, não esqueçamos: “Não
temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele
mesmo foi tentado em tudo, à nossa semelhança, sem todavia pecar.
Aproximemo-nos então, com confiança, do trono da graça, para conseguirmos
misericórdia e alcançarmos a graça do auxílio no momento oportuno (Hb
4,15-16).
CORAGEM!
Boa semana!
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