A Festa da Santíssima Trindade que hoje
celebramos ela existe em função não apenas para dizer “creio em Deus”; não
basta, pois é insuficiente. Porém, é importante saber em qual deus nós cremos.
Em nossos dias fala-se de um movimento
que impulsiona a volta da sacralidade, de um retorno à espiritualidade, de uma
volta de Deus que o homem moderno tinha apontado como desaparecido ou morto.
A construção de muitos templos, igrejas
lotadas, jovens e casais militando sua denominação religiosa porta-a-porta ou em
redes sociais, grupos políticos usando e privatizando o nome de deus... parece
não descrever muito a idéia de que Deus está morto. Porém, a questão é: de que
realidade sagrada ou de que deus celebra-se sua volta? Estávamos com saudades
de Deus, como canta o salmo 41(42)? Ou dos tradicionais fetiches religiosos que,
diante de uma sociedade tão liberal, paradoxalmente, convoca a um retorno ao recalque?
Celebrar Deus não se trata simplesmente
do nome com o qual denominamos ou o invocamos, mas semblante que O
reconhecemos: “muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais pelos
profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio de seu Filho” (Hb 1, 1-2).
“Mostra-nos o Pai, isso nos basta.
Respondeu Jesus: Há tanto tempo estou convosco, e ainda não me tendes
conhecido, Filipe? Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 8-10). O cristianismo contempla em Jesus a face
revelada de Deus que se manifestou desde a criação do mundo: “No inicio era o
Verbo e o Verbo estava voltado para Deus, e Verbo era Deus. Ele estava no
inicio (...). O Verbo se fez carne e habitou entre nós (...)” (Jo 1, 1-18).
“Se fez CARNE e HABITOU”. Aqui está a
nova face de Deus, em Jesus Cristo. A imagem de Deus que se extrai da Sagrada
Escritura e mais especificamente no Novo Testamento, não é de alguém distante
como eram apresentado os deuses pagãos, mas um Deus que caminha perto junto aos
acontecimentos da vida do seu povo.
Um Deus amigo e protetor da pessoa humana
(dos pobres, dos injustiçados, dos rejeitados e excluídos...) é motivo de
alegria, de segurança, de paz, de serenidade para aqueles que crêem Nele: “não
temerei, pois estas comigo” (Salmo 23(24)/cf. Salmo 118,6).
Na segunda leitura (Rm 8, 14-17) Paulo revela qual a nossa realidade perante a
nova manifestação de Deus, depois do batismo, ao nos ensinar que já não somos
simples criaturas, escravos ou serviçais de um senhor na esperança de receber
uma recompensa pelo temor que devotamente lhe guardamos. O Espirito Santo nos
comunica vida e nos faz cheios de confiança para chamar-lhe de “Pai querido!”.
A religião do medo, dos castigos, dos
fetiches de perfeitinhos, dos moralistas, dos méritos pelo fardo da
“subserviência” não condiz muito com o Deus anunciado por Jesus. É incompatível
tal profissão de fé.
No Evangelho (Mt 28, 16-20)
Jesus-Ressuscitado se apresenta dizendo que lhe foi dado todo poder no céu e na
terra (v. 18). O poder de Jesus se estende por toda a criação. A Sagrada
Escritura diz que “no começo Deus criou o céu e a terra”. Jesus afirma que nada
escapa ao domínio que o Pai lhe conferiu.
Dominar significa ter autorização para
conduzir, mas não agir como tiranos (cf. Mt 20, 25-27), pois Jesus desde o começo
de seu ministério sempre recusou esta espécie de poder que o demônio lhe tentou
no deserto. Sua autoridade é apascentar para que a vida aconteça para todos.
O evangelho diz que este poder Jesus não
guardou para si, mas concedeu aos seus discípulos para que eles se tornassem um
elo de continuidade de Sua presença. A tarefa da Igreja consiste em introduzir
todos os homens na família de Deus. Por
isso, são investidos de tanto poder.
As comunidades eclesiais que acolhem com
respeito as pessoas em suas demandas existenciais refletem a presença desse
Deus Uno-Trino (cf. Mt 18 , 18-20).
O Ato de Fé que
as comunidades eclesiais professam deve estar sempre imbuído de muito amor:
“Como o Pai me amou, também eu vos amei” (cf. Jo 15, 9). Portanto, “amai-vos”
(cf Jo 13, 34). O batismo nos insere na mesma vida de Cristo que veio ao mundo
para libertar e salvar a humanidade dos laços da morte.
Glória ao Pai, ao
Filho e ao Espirito Santo...
Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo
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