Mergulhar nas histórias natalinas é sempre algo que me leva, especialmente, a lembrar dos Natais tão distantes de outrora, e como não ter, como esteio, os passados na velha rua João Pessoa. Era um local onde havia famílias numerosas, e o poder aquisitivo era visível, até hoje, como referência socioeconômica; por extensão, sempre se destacavam os melhores e mais modernos presentes natalinos entre aqueles que faziam parte de determinadas proles.
Na cartilha das minhas muitas lembranças, acordar na véspera de Natal era um momento mais que especial, visto que era uma data importante que estava prestes a atingir seu ápice. Pois, no dia seguinte, era o dia do natalício do menino Jesus, o aniversário mais festejado no Ocidente, e, logicamente, o dia em que o bom velhinho vinha visitar os meninos e meninas que moravam naquela rua.
Na manhã de Natal, nada era mais interessante do que observar o passeio dos agraciados com os mimos que ganharam na noite anterior. Havia alguns que, de posse de seus presentes, festejavam com os coleguinhas que estavam de mãos vazias.
Em um determinado Natal, na Serra, um garotinho, meu contemporâneo do velho Vidal de Negreiros, saiu pela rua para mostrar seu presente: um carrinho vermelho. Era muito diferente dos tradicionais e frequentemente vistos na época. Ele se auto-movimentava, pois era alimentado por pilha; bastava ligá-lo para que saísse pela calçada, movendo-se sozinho. Sua cor vermelha lhe dava um tom diferenciado; era, no momento, o melhor presente em exposição nas brincadeiras daquela manhã natalina.
E o pai daquele menino observava atentamente o filho, compartilhando todo o seu contentamento diante do maravilhoso e radiante presente.
Hoje, sustento e mantenho firme um laço de amizade com o menino do carrinho vermelho, pois, sendo diferente no que diz respeito ao poder aquisitivo de sua família, ele jamais se absteve de compartilhar seus brinquedos com meninos que viviam na velha rua João Pessoa e de tantos outros que chegavam de outras ruas.
Obrigado, pois descobri que não são os brinquedos repartidos que nos fazem felizes, mas sim os verdadeiros sentimentos de apreço e amizade que estão dentro de nós, despertados pelo Criador nos Natais.
Flauberto Fonseca
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