sábado, 14 de dezembro de 2024

Contos de Natal II - O Menino e o Queijo do Reino por Flauberto Fonseca

 


Flauberto Fonseca

Hoje, acordei mais cedo que o habitual e comecei a vaguear com meus pensamentos. Todos eles me remeteram a um passado que permanece vivo em meus labirintos de memórias. O ponto crucial desse passado é, sem sombra de dúvidas, algo que me faz rejuvenescer diante do transcorrer do tempo: as festividades da natividade realizadas em nossa cidade.

Além da tradicional ladainha natalina, havia confraternizações em família e a festa beneficente em prol da Maternidade Nossa Senhora das Mercês. Esse evento agregava todos em um único objetivo: coletar recursos financeiros para sua manutenção no ano seguinte.

Como era de costume, sempre havia algo diferencial nas reuniões em família. O poder aquisitivo era primordial, pois dava dimensão aos comensais e seus regalos. Na época, era sinônimo de predomínio econômico aquela casa que juntava mais convidados em torno de sua mesa, e ainda mais pelo que era servido. O altivo Queijo do Reino simbolizava o ápice natalino, pois, durante o restante do ano, era apenas uma lembrança do Natal passado!

A tal iguaria era adquirida por encomenda com muita antecedência, pois vinha de fora. De fato, o interessante era que, no dia seguinte, as ruas ficavam repletas de meninos e meninas de abastados poderes aquisitivos em pleno estado de exibicionismo, desfilando com os seus mimos recebidos do bom velhinho.

Dentre as figuras que povoam nossa cidade, havia uma que se fazia presente nos Natais: Mané Cego. Ele também recebia presentes dados por alguns e, dos mais generosos, recebia algumas moedas para seu regozijo. Já outros lhe davam apenas as duas bandas de latas do invólucro do manjar. Daí, ele saía pelas ruas resmungando em voz alta: "Comeram o queijo, e Manezinho ficou apenas com o cheiro nas mãos."

Havia um certo menino morador daquela cercania que só sabia da existência do Queijo do Reino através de outros. Ele tinha quase certeza de que as festividades só seriam completas se houvesse, em exposição na mesa, Sua Majestade, o Queijo do Reino.

 

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