Há
um evento histórico que pontua as ações dos profetas: antes dos exilio, durante
o exilio, depois do exilio. O profeta Jeremias que é do Reino Sul de Judá atua
antes do exilio, mas também em alguns fatos do exilio.
O texto que escutamos hoje (Jr 17,
5-8) é uma palavra dura contra a
idolatria, através do profeta, antes do exilio (+- 586 a.C). Começa com uma
maldição ao homem (hebraico= adam. Símbolo de reserva somente de
humanidade) que confia e deposita nele a
segurança: “Maldito o homem que confia no homem, que faz da carne sua força”
(v. 5).
Interessante
abrirmos hoje esta reflexão, pois semana passada, ouvimos Deus escolher o
profeta Isaias (6, 1-8) e Jesus escolher Pedro (Lc 5, 1-11) para uma missão,
dado que ambos alegaram muita fraqueza e pecado.
Nos
versículos que antecedem o texto de hoje (v. 2s), o profeta reclama da
idolatria: “para que os seus filhos se lembrem de seus altares e de seus postes
sagrados, junto às árvores verdejantes, sobre as colinas elevadas” referindo-se
as divindades cananeias da fecundidade e prosperidade como uma conotação de
egoísmo. A queixa contra os ídolos deste mundo é “abandonar o Senhor e confiar
na força da carne”, isto é, afastar o coração do Senhor e ficar centrado no
encurvar-se em si mesmo.
O
Bezerro de Ouro é a ideia da fabricação de uma divindade que eu possa usá-lo e
manipulá-lo como eu quero em função de dispor dele. É um deus que eu possa
controlar segundo os meus desejos. Diz o
profeta: “Afastando o coração do Senhor, ele é como um arbusto no deserto que
nunca verá um tempo bom” (Jr 17, 6a). Há uma plasticidade no texto: “ele vai
morar em deserto, terra salgada, onde ninguém mora” (v 6b).
Mas,
ao contrário, “Bendito aquele que confia no Senhor, pois ELE MESMO É SUA
CONFIANÇA.” (V. 7a). Há outra plasticidade neste texto: “Ele é como uma árvore
plantada junto da água, que lança suas raízes para a corrente, ele não teme
quanto chegar o calor” (v. 7b).
Este
não está isento das situações duras da vida, mas continua confiando e
produzindo frutos: “ele não teme quando chegar o calor, sua folhagem permanece
verde (...), ele não se preocupa e não para de produzir frutos” (v. 8b). Ele
quis depender do Senhor e buscou Nele a água que produz vida, é a casa
construída sobre a rocha. Do contrário, há um culto de si mesmo projetado em
algo: bezerro de ouro.
O Salmo (1, 1-2. 3.4.6 (R.Sl 39,5ª) traz a plasticidade desta árvore plantada na beira
do rio, retratando a imagem da “bem aventurança/felicidade de alguém que não
senta no conselho dos ímpios, não pára no caminho dos pecadores e nem senta na
roda dos zombadores”. Ele evita os fanfarrões que vivem a contabilizar suas
façanhas e conquistas egoístas (fruto de suas iniquidades,) para não aprender o
caminho destes (debochados) que conseguem conquistas as custas injustas dos
outros, principalmente dos mais frágeis.
O
homem que escuta a Deus vive plantado junto d’água corrente, dando fruto no
tempo certo, pois estes não são ímpios.
ONDE ESTOU PLANTADO?
Em 1Cor 15, 12. 16-20. Paulo se lembra do núcleo do kerigma: “Ele
morreu, foi sepultado e ressuscitou” (v.3). A plasticidade da ressurreição, nas
catequeses paulina é a idéia de uma semente lançada na terra que morre para
produzir frutos. A ressurreição da humanidade é, também, uma conformação dessa
semente (a vida do homem) que sepulta o mundo velho (imagem de Adam) para uma
vida nova (vida nova em Cristo).
O
homem velho, que os textos precedem, é transformado pela força libertadora da
ressurreição de Jesus. Dizer que Jesus está vivo é sobrepor a Sua Vida sobre as
imagens do homem velho de seu tempo (Herodes, os Sumos Sacerdotes, os Fariseus,
os Mestres da Lei...) e de todos os tempos (os egoístas, zombadores,
perversos....).
Portanto,
“CRSITO RESSUSCITOU DOS MORTOS, COMO PRIMEIRO DOS QUE ADORMECERAM” (V. 20).
Pelo batismo, fomos sepultados na morte de Cristo e, como peregrinos da
esperança, acreditamos no Senhor. Nossa esperança está cheio de vida eterna.
O
evangelista Lucas apresenta Jesus como o Messias, mas aos moldes dos profetas
que usam a Palavra como instrumento de força transformadora: cura, liberta, faz
discernimentos e ajuda a compreendes as opções de Deus.
A
palavra profética gera dois tipos de reação: acolhida ou rejeição. O que tem
coração aberto acolhe. Mas, uma boa parte, não acolhe e sim rejeita. No Antigo
Testamento muitos profetas foram rejeitados e Lucas quer dizer que assim será
com Jesus. Portanto, se você é amigo do evangelho (Teófilo), sem dúvida alguma
você será caluniado e rejeitado: pelos parentes, pelos conterrâneos, por quem
tem poder, por religiosos fechados, etc...
No evangelho de hoje (Lc 6, 17.
20-26) Jesus abre seus
ensinamentos dizendo: “Feliz”. Essa é a mesma expressão vinda do mundo
sapiencial e das profecias. FELIZ DE QUEM CONFIA EM DEUS.
Há
uma multidão que está em torno de Jesus, como uma árvore plantada próxima ao
rio de água vida, que procura a sabedoria de uma vida leve, sem idolatrias,
atenta às coisas boas e fundamentais da vida (como está atenta aos outros). É
UMA FELICIDADE QUE TRAZ A ALEGRIA DO REINO em contraposição a IDOLATRIA que
implementa uma vida pesada para todos.
O
texto do evangelho também tem uma plasticidade, “ai de vós os ricos, os que
estão fartos, os que estão rindo (deboche), ai de vós que todos falam bem de
vós (como os falsos profetas de uma felicidade/autoestima egoísta)”, estes irão
experimentar os mesmos sofrimentos que fizeram a muitos.
Ai
daqueles que, por medo da morte, procuram sua segurança, procuram seus jeitos,
arrumações e estratégias com meios nem sempre honestos. A liturgia da Palavra
vem nos dizendo que o medo da morte leva o ser humano à serventia ao demônio.
Ai de quem está apegado às coisas.
E porque “aí”? Em hebraico a sonância deste termo lembra não o tom de ameaça, mas de luto. Quem procura está à beira da torrente, procura estar em Cristo. E quem está em Cristo, vive o diferente.
Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo
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