Chegamos
ao 4º Domingo da Páscoa e continuamos a contemplar os sinais do ressuscitado na
vida do povo. Neste domingo escutamos
Jesus se definindo como Bom Pastor, contrapondo-se as autoridades de seu tempo,
que tinha se tornado uma casta de mercenários. O papa São Paulo VI (1964)
instituiu este domingo como Dia Mundial de Orações pelas Vocações.
No Evangelho de hoje (Jo
10,27-30) encontramos Jesus no Templo de Jerusalém. Para os judeus o Santuário é o lugar por excelência do encontro
com Deus. Um fato que não passa
despercebido é que todas as vezes que Jesus vai ao Templo há sempre uma
situação de conflito. Essa é a ultima vez que Jesus vai ao Templo e dessa vez
tentarão apedrejá-Lo.
A
ida de Jesus ao Templo se dá no contexto da Festa da Dedicação do Templo de
Jerusalém. É a festa da reinauguração do Santuário feita por Judas Macabeu (165 a. C). Este episódio podemos conferir no
Primeiro Livro de Macabeus (4,36).
Em
outra ocasião festiva Jesus foi ao Templo e observou um enorme castiçal aceso.
Era a Festa das Luzes. Ali houve um conflito entre a festa das luzes e Jesus
que se apresentou como “Eu sou a luz do mundo” ( ).
Quando
Jesus entrou no templo foi imediatamente cercado pelas autoridades que lhe
perguntavam: “Até quando tu tirarás a nossa vida” (Jo10, 24). A missão de Jesus
não era tirar a vida, mas de devolver. Porém, é preciso tirar das autoridades
que dominam o povo, pois eles sugam a vida do povo.
“Vós
não credes, pois não são das minhas velhas” (Jo 10,26) É nítido de que lado
Jesus está e fica: ao lado do povo simples, explorado e frágil. É dentro desse contexto que Jesus se coloca
como verdadeiro pastor enviado por Deus. Sua missão é reunir e cuidar. Jesus
ainda denuncia que alguns não fazem parte desse rebanho ponde em evidencia a
recusa das autoridades religiosas em seguir Jesus. São as lideranças
espirituais que acreditavam estar mais próximos de Deus. À estes, Jesus diz que
eles estão excluídos da presença de Deus.
Quem
são as ovelhas de Jesus? No evangelho de João (10, 27a) se diz: “Disse Jesus:
‘As minhas ovelhas escutam a minha voz’”.
Jesus, aquele que dá a vida pelas ovelhas, diz que AS SUAS OVELHAS são
aquelas que escutam a sua voz. A voz de Jesus, que é a voz de Deus, é a própria
resposta de Deus as necessidades de vida plena para o povo e cada uma das
pessoas. Na voz de Jesus a voz amorosa do Pai que propõe vida plena.
“Eu
as conheço e elas me seguem” ( Jo 10,27b). As ovelhas conhecem intimamente
Jesus e o seguem por que nele encontram bons ideais de vida, liberdade,
alteridade, fraternidade, de paz, de respeito...já que não encontram naquelas
autoridades espirituais. Enquanto em Deus se encontra o sopro de vida, naqueles
homens se encontra mercenários que sugam o povo. Eles são pesados, sugam todo o
tipo de vida plena, liberdade e esperança.
Os
mercenários estão tão enrizados em suas falcatruas que não conseguem perceber a
leveza de Jesus. Para eles, as obras de Jesus são fúteis e não sustentam os
seus projetos maquiavélicos. As obras de Jesus tem a finalidade de restaurar a
vida das pessoas e são eles que sufocam este povo simples. Esses gurus se
apossam de Deus e vivem a manipular as pessoas.
“Dou-lhes
a vida eterna” (Jo 10,28a). A vida eterna é um tema muito caro ao evangelista
João. A vida eterna é um dom de Deus que ninguém negocia e compra. A vida
eterna não pode ser entendida num padrão temporal, mas numa idéia de qualidade
e uma jeito de ser. É uma vida indestrutível.
“Eles
jamais se perderão (...)” (Jo 10,28b). Jesus é o pastor a conduzir este rebanho
no caminho da verdade, justiça e vida plena para todos. Ele mesmo dará a vida
por estas ovelhas e ninguém as tirará de seu caminho.
“Meu
Pai me deu estas ovelhas (...)” (Jo 10,29). O rebanho foi dado como presente
para que o Filho cuide com zelo. “Jesus e o Pai vivem numa perfeita harmonia de
unidade” (cf Jo 10,30 ) que as autoridades espirituais do Templo não
reconhecem. O Rebanho que pertence ao Pai está nas mãos de Jesus ( o Filho) e
ninguém tente roubar este rebanho.
Aqui
reside a sentença final para Jesus: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). Ele está
dizendo que é Deus assim como o Pai. Por isso, seria acusado de blasfêmia.
Jesus é a manifestação visível do que Deus é: “Deus é amor” (cf. 1Jo 4, 8).
As
lideranças espirituais do povo pegam em pedras para apedrejar Jesus pela
blasfêmia de “sendo homem, querer ser Deus” (cf. Jo10 33). O plano de Deus de
reconciliar a humanidade com a Sua vida divina, a filiação divina...coisas que
os religiosos deveriam fazer, era tido por eles como uma blasfêmia a ser punida
com a morte.
Quantos
que, em nosso tempo, tentam arrancar o povo das mãos de Deus. Quantos que se
passando por santinhos, ungidos, eleitos, profetas, eficientes na execução de
obras, planejamentos...são muito mais lobos ferozes querendo alimentar-se para
ganhar poder, dinheiro e fama às custas do rebanho usando a religião. Os exploradores do povo se ESQUECEM DE que o
rebanho é de Jesus.
o que
distingue Jesus dos falsos pastores é o fato de dar ao povo a vida eterna, ou
seja, a qualificação da vida eterna. Ele não veio trazer a ameaça do castigo
divino, como pregam os falsos pastores.
No
Antigo Testamento os profetas já tinham chamado à atenção de pessoas que se
apossavam das coisas do Reino de Deus: “Ai dos pastores de Israel que se
apascenta a si mesmo. Acaso os pastores não devem apascentar as ovelhas” (Ez
34,2). Deus ameaça à estes dizendo: “Eu mesmo me ponho contra os pastores. Vou
reclamar deles as minhas ovelhas e lhe caçar o oficio dos pastores” (Ez 34,
10).
O
modelo de Bom Pastor que Jesus exerce e que propõe está em três verbos
utilizado no evangelho: “Escutar”: as ovelhas escutam o
pastor com o interesse de entender e obedecer aquilo que se escuta (cf. Jo 10,
3. 16. 27). Essa é a mesma atitude do próprio Senhor que escuta os clamores do
povo (cf Gn 4, 10/ Ex 3, 7/ Sl 33 (34)/ Sl 86 (87), 1-8. ). “Conhecer”:
é o verbo que dá a idéia de mútua compreensão e aceitação (Jo 10, 27). “Seguir”: é o seguimento que define a
qualidade de vida do discípulo que se identifica com a obra do pastor.
Qual o sinal pascal do ressuscitado
no texto de hoje? Jesus
ressuscitado se faz presente onde se oferece um modelo bom de relação entre
lideres e comunidade. Quando uma liderança sabe compreender, acolher, cuidar,
aconselhar, corrigir caminhos (quando necessários), nunca explorar como
mercenário, nem tirar o direito de vida plena do povo, ai reside um sinal da
presença do Bom Pastor que dá a vida pelo povo. A eficácia do seguimento não é
aburguesamento dos ungidos, mas do crescimento do rebanho. É assim que vamos
percebendo a autenticidade dos pastores que o mundo precisa e o reino de Deus
legitima.
Nesse
Domingo do Bom Pastor, oremos para que a igreja e a sociedade tenham líderes
verdadeiramente bons: uma bondade não dissimulada e cheia de interesses de
grupos burgueses e mercenários. Que a nossa geração saiba discernir compreender
o que significa “seguir” e “servir” a Jesus com coerência.
Oremos
pelo Papa Leão XIV, o novo pontífice. Que ele seja um pastor que saiba fazer
bons discernimentos e pontes (nunca muros). Que a paz que ele veio anunciar (a
Paz de Jesus) seja fruto da justiça, do amor e da misericórdia. Que como Pedro,
primeiro papa da igreja, a quem ele sucede, possa também compreender: “Pedro
tomou a Palavra e disse: ‘Estou compreendendo que Deus não faz distinção de
pessoas’” (Atos 10,34). Não excluir ninguém, mas cuidar de todos é parte
constitutiva do ministério petrino. EM CRISTO SOMOS UM.
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo
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