segunda-feira, 16 de junho de 2025

Padre Edjamir Sousa Silva: – O Filho nos deu a conhecer

 


Depois de termos celebrado os mistérios de Jesus (Paixão, Morte e Ressurreição), o derramamento do Espírito Santo na Igreja, hoje celebramos a identidade de Deus: Uno e Trino. A história humana (história de salvação) desde a suas origens tem sido lugar da revelação de Deus. 

Na 1ª Leitura (Provérbios 8, 22-31) a sabedoria toma a Palavra: “Desde a eternidade fui contada. Ainda não havia os abismos (...), eu fui dada a luz”. A sabedoria fala de si mesmo na anterioridade do tempo e das coisas. Este texto une duas pontas: Gênesis (1-2) e o Prólogo do Evangelho de João: “No principio existia a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus. E Deus era a Palavra. No principio  ela estava junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela e sem ela nada foi feito (...). O que estava nela era a vida. E a vida era a luz dos seres humanos (....). Ela, porém deu o poder de se tornarem filhos de Deus à todos os que a receberam (...). E a Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós. Ninguém jamais viu a Deus, mas o Filho único, que estava junto do Pai, o revelou a nós” (Jo 1, 1-4. 12. 14-18).

No livro de Jó Deus faz uma pergunta: “Onde você estava quando coloquei limites ao mar? Até aqui você vem e não passa”. A sabedoria diz: “Eu estava lá para que as águas não transgredissem a sua ordem e lançava os fundamentos da terra. Eu estava ao seu lado como mestre de obras (...)” (cf. Jó 38, 4-4,1, 4). À luz do Novo Testamento se pode dizer que esta presença de Jesus que é a Palavra eterna, por meio de quem o Pai criou todas as coisas. (cf. Jo 1,3).

A Palavra, a Sabedoria, o Logos não é um texto/livro, mas uma Pessoa que é princípio harmonizador de todas as coisas, estava ao Seu lado e era o Seu encanto, que brincava com as criaturas (cf. Pv 8, 23. 27. 30-31. Sl 104(105), 25-27).

Os santos padres Capadócios (São Gregório Nazianzeno, Basílio e Gregório de Nissa) entendiam a Trindade não de forma estática, mas ativa como numa dança (perí= ao redor/ Chóreo= dançar) para dizer que as três Pessoas estavam numa perfeita harmonia, como se tivesse dançando e brincando com as criaturas. Eles não estavam dialogando na eternidade, mas na superfície da terra: dançando e se alegrando com os filhos de Adão. Ele vem de Deus e se alegra com os filhos de Adão. É a dança do Deus-amor. Para eles, para entender a Deus é preciso entrar nesse movimento.

No evangelho de João, Jesus afirma que “ninguém jamais viu o Pai, mas só o Filho que veio de Junto do Pai" (1, 18). O Novo Testamento vai muito além do Antigo Testamento ao afirmar que, sendo um único Deus (em natureza), há três pessoas (na mesma natureza divina) que se relaciona e se manifesta numa perfeita harmonia: O Pai Criador, o Espírito Santificador que nos falou pelos profetas e o Filho Encarnado que nos revelou o Mistério da Sua Glória.

Em toda a criação esta presente as digitais do Deus Uno e Trino. A sabedoria que está junto de Deus é a mesma que vem brincar conosco.   

O Salmo 8, 6-9 canta as maravilhas de Deus: “Quando vejo os teus céus, obras dos teus dedos, a lua e as estrelas, as coisas que criastes, que é o ser humano para que dele lembrares e um Filho de Adão, que venha visita-lo?”.  O cântico sálmico parece muito com a imagem de um homem das cidades do interior contemplando a beleza da criação.

“que é um mortal (...), que fizeste um pouco menos do que um deus, mas coroastes de glória e beleza para que domine as obras de tuas mãos sob os teus pés tudo o colocastes” (Salmo 8, 5a. 6-7). O Ser humano é apresentado aqui como uma obra importantíssima constituído pastor da criação. Estar acima da criação não significa usurpar para destruir, mas para cuidar. Estamos no mundo, entre as criaturas, mas com um principio espiritual: cuidar dela.

Conscientes do que somos isso nos dá a responsabilidade de cuidar da obra de Deus. Vale apena, aqui, recordar o diálogo pascal entre Jesus e Pedro: “Pedro, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 15-22).  O Criador sujeitou a criação aos cuidados nossos. Somos sacramentos da presença de Deus.

Em Romanos 5, 1-5. Paulo nos fala da esperança que não decepciona. Este é o texto que o papa Francisco escolheu para o ano jubilar: Peregrinos da Esperança: “Justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Já tivemos a oportunidade de exortar em nossas homilias/catequeses que Deus, em Jesus, estabeleceu a relação adequada de se relacionar com Ele: “Foi em Cristo que Deus Pai nos escolheu para sermos Nele (....)”. (Ef 1, 4-5). Jesus é o lugar teológico do encontro com o Pai. Não é mais o Templo, mas o templo de Sua Encarnação/Seu Corpo, isto é, sua existência, que nos faz compreender a Revelação do Pai (cf. Jo 1, 18) e a nossa comunhão com Ele.

“Antes éramos inimigos, mas Nele se estabelece a paz” (Rm 5, 10ss). A graça da amizade e da paz, com Deus, foi nos dada em Jesus Cristo (cf. 2Tm 1, 2-14). É nesta esperança da amizade com Jesus que nos gloriamos.

No horizonte da esperança, não mendigamos as glórias humanas, mas nos sustentamos na glória de Jesus Cristo. Distante das glorias humanas, nos gloriamos até mesmo nas nossas tribulações, como é descrito nas Bem aventuranças (cf. Mt 5, ).

Curiosamente, as tribulações tendem a gerar uma constância, perseverança e persistência como uma virtude comprovada que faz nascer a esperança. No caminho, vamos percebendo que a esperança não decepciona. E sabe porque? “Porque o ágape de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo.” (Rm 5,5). A esperança nos ensina que somos homens novos dentro de um mundo velho.

Em João 16,12 Jesus diz: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos”. O amigo Jesus tem ainda muitas coisas a dizer. Estas coisas são aqueles que um bom amigo dará a prova de uma boa amizade, dizer as coisas do Pai. Mas, parece que os discípulos/amigos não podem suportar agora de ouvi-las.

A linguagem simbólica da revelação é pedagógica, segue um caminho de pequenas indicações de um caminho, com capacidade crítica, mas é preciso continuar a Revelação dentro do principio do caminho da vida sob a guia do Espírito. O Mistério não se esgota numa única explicação, homilia, pregação, catequese. Ás vezes, pregamos, mas é no caminho que as pessoas vão entendendo a força daquilo que ouviram. E os frutos que cada um dá, vai dizer o que entenderam. Por isso, dizemos, História da Salvação.

No Espírito de Cristo, dizemos que a paz é um dom do alto, mas quantos de nós ainda não descobrimos que é fundamental viver e estabelecer a paz para que a vida aconteça. Parece que só sabe o valor que tem a paz as pessoas que já passaram e sofrem com as tiranias das guerras e ditaduras. Quem vive a semear o ódio, a discórdia, a perseguição e exclusão e a morte das pessoas e da obra de Deus não é capaz de compreender em profundidade a obra de Deus. SERÁ QUE ESTAMOS CONVENCIDOS DISSO?

“O Espirito vos ensinará tudo o que é meu” (Jo 16,14). Jesus dá aos seus amigos, por meio do Espírito, tudo o que recebeu do Pai. É um círculo muito bonito de comunicações e amor que somos incluídos nele. Esta mesma dinâmica que ocorre dentro da Trindade (como perfeita comunidade) e que nos envolve, também nos ensina a nos envolver com a dinâmica e círculos de comunicações com o outro que também é obra de Deus. Essa é a nova dinâmica e ponto ideal: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).

Só temos acesso ao Mistério por que nos foi revelado e o caminho do conhecimento do Mistério é o amor.

Boa Semana. 

Edjamir Silva Souza

Padre e Psicólogo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O conteúdo do comentário é de inteira responsabilidade do leitor.