No evangelho proposto para este
domingo (Lc 10,1-12. 17-20) encontramos
as temáticas do chamado e do anúncio da paz (dom do Reino de Deus).
Jesus
tinha enviado, anteriormente, os Doze em missão e tinha visto o fracasso desse
anúncio ao perceber que o povo não tinha entendido a proposta do Reino de Deus
(cf. Lc 9,1-6). Tanto os Doze como as demais pessoas ainda tinham dúvidas, mas
também conservavam a velha idéia de um “Messias Nacionalista”: uma imagem e um
esquema que se tornou ideologia da primazia e do sucesso de Israel que deveria
subjugar todos os povos. Com isso, Jesus tenta mudar a estratégia do anúncio
escolhendo 72 discípulos e os envia dois a dois (Lc 10, 2).
Porque
os 72 discípulos? Certamente para arejar a mentalidade da comunidade dos
apóstolos (enraizados na ideologia nacionalista) Jesus integra muitos outros
membros, com uma mentalidade aberta, para dar uma nova conotação ao anúncio do
Reino.
No
Livro do Gênesis (cap. 10) os povos pagãos são precisamente setenta e dois
(72). Este número que se repete no evangelho de hoje quer indicar que “outros
povos são chamados”; mais precisamente do território da Samaria. Na ocasião,
Jesus ainda pede: “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso,
pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita” (Lc 10 ,20). A
inclusão de uma mentalidade mais aberta – que supere a mentalidade nacionalista
dos Doze - será causa de “uma colheita mais abundante” ( ).
Jesus
rompe com os esquemas “fechados” e ensina que é preciso da cooperação de todos
para o bom anúncio do Reino. Na esteira
do que está sendo dito é importante dizer às pessoas de nosso tempo que este apelo
de Jesus não se refere, apenas, as vocações sacerdotais e religiosas. Não basta
rezar apenas por categorias especiais de serviços e ministérios, caso
contrário, estaremos reduzindo as palavras de Jesus. Tornar-se um trabalhador
da messe é um chamado que se dirige a todos.
“Envio-vos
como cordeiro no meio de lobos” (Lc 10, 3). Já tivemos a oportunidade de
identificar Jesus como cordeiro, como apontou João Batista (cf. Jo 1, 29) e não
tanto como o Leão da Tribo de Judá (cf. Gn 49,9). Leão, Lobo...são animais silvestres. O Leão
da Tribo de Judá traz a imagem da realeza e de um Messianismo que Jesus
rejeitou. O Lobo é o símbolo da violência e da arrogância. Já o cordeiro
simboliza a fraqueza, a fragilidade, a mansidão. O cordeiro só escapa da
agressão do lobo se o pastor intervir em sua defesa. O discípulo não é lobo,
mas cordeiro.
Isaías
profetizou (9, 6) que o verdadeiro Messias seria conhecido como príncipe da
paz. Seria uma paz profunda e como fruto da justiça (cf Is 32,17). Os
discípulos de Jesus devem ser como Ele: sonhadores
da paz. Fazedores da paz (cf. Mt 5 ,9). Deverão enfrentar o ódio em muitos
ambientes, mas não devem perder tempo com pessoas de má vontade, tem que sacudir
a poeira dos pés e seguir adiante.
O
anúncio do Reino de Deus exige que os mensageiros sejam leves (Lc 10, 3-4). É a
imagem do cordeiro fraco e indefeso. O discípulo de Jesus deve resistir a
tentação das ambições e apegos para colocar sua confiança em Deus como
absoluto. A austeridade é a marca do discípulo e faz gerar credibilidade (v.v.
5-6).
Em
Atos dos Apóstolos (10, 28) Pedro lembrava que na cultura judaica era proibido para
um Judeu se relacionar com um pagão e entrar na casa de um estrangeiro (uma
contradição, pois os judeus, nas suas origens, foram peregrinos desde Abraão). Jesus
rompe essa lógica e diz que “Em qualquer casa em que entrardes dizei primeiro:
‘A paz esteja nesta casa’” (Lc 10,5). Assim, compreendemos que “A paz” é o
próprio discípulo enviado que entra naquela casa como dom de felicidade.
“Amigo
da paz” (Lc 10, 6). A amizade é sinal de sintonia com esta paz. Se ali houver
hospitalidade (tema caro para o mundo Judaico) haverá amizade, haverá paz:
“comei e bebei do que tiverem” (Lc 19, 7a). Caso contrário, ela voltará para
vós. Jesus ensina que onde não houver o “amigo da paz” não se deve perder a paz
por isso, ela deve voltar para vós. FIQUE EM PAZ
“Não
passeis de casa em casa” (v. 7b). Eis uma insistência de Jesus de não perder
tempo, mas tampouco se ter escrúpulos evitando entrar na casa de alguém e ficar
cobrando tratamentos especiais por questões religiosas, ideológicas... não
sejam pessoas pesadas e difíceis. Vão a todos sem se tornarem problemas para
ninguém .
“Curai
os doentes e dizei que o Reino está próximo de vós” (v. 9). É função da missão
dos discípulos curar. A cura não é só sarar uma ferida, mas uma ação espiritual
profunda de libertação das pessoas de tudo o que não deixa a vida acontecer.
“Quando não fordes bem recebidos, sacudi até a
poeira dos pés” (Lc 10, 10-12). É do mundo judaico que Jesus retira esta
expressão. Um Judeu ao passar por uma cidade pagã sacudia a poeira dos pés para
não levar nada do mundo pagão e impuro. Jesus diz aos discípulos que onde não forem
bem recebidos (hospitalidade /quem não acolhe o dom da paz), não se incomodem com
isso e nem levem nada deles.
“Por causa de teu nome, até os demônios obedeceram”
(Lc10 17). Diferente dos Doze que retornaram tristes da missão, os setenta e
dois (72) retornaram cheios de alegria. Eles conseguiram libertar muita gente
das falsas ideologias demoníacas que faziam as pessoas perderem o respeito, paz
entre si e se odiarem. JESUS LIBERTA.
“Jesus disse: ‘Eu vi satanás cair do céu’” (v. 18).
Na época de Jesus se dizia que Satanás habitava no céu. O livro de Jó (1,6-12)
diz que ele era um tipo de “fiscal da vida dos outros” que descia do céu para
supervisionar os filhos de Deus e viver acusando eles.
Jesus, como Deus do amor, vence satanás que vive a
acusar a todos e de todo tipo de injúria: “Foi expulso o acusador dos irmãos
aquele que acusava dia e noite junto a Deus” (Ap 12,10). Satanás perdeu o seu
papel de acusador. E nós, perdemos? A gente não pode esquecer que ele foi expulso.
Tomemos cuidado para não sermos os próximos.
“Eu vos dei o poder sobre toda a força do inimigo (...).
Mas ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu” (v.v.19-20). Os
setenta e dois discípulos são mais fortes do que o mal e as dificuldades. Eles
não se envenenam com a maldade dos que não tem paz.
“Sonhadores da paz. Fazedores da Paz. Construtores
da paz. Cristãos de um tempo diferente onde a gente tem que lutar. Se quer
fazer alguma coisa pela paz a gente tem que lutar. Tem que arriscar. Tem que
falar. Tem que levar o pão e a paz!” (Pe. Zezinho. Sonhadores da Paz). Deixemos
que o sonho de paz de nosso Deus nos reencante. Sejamos promotores desta paz.
Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre Psicólogo.
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