O
final do circulo litúrgico tem um sentido muito importante no que chamamos de
escatologia cristã. A liturgia da Palavra deste domingo está centrada sobre
esta temática que era muito forte na época de Jesus. Jesus também não foge
deste tema, pois certamente sentia esta pressão daqueles que o rodeavam ao
falar sobre o “O Dia do Senhor (Javé)”. Este é o dia em que Deus romperá com
mundo para estabelecer uma nova ordem.
Para
o cristão, o dia de YHWH é o dia da nova esperança. E o dia da nova esperança em
Cristo Ressuscitado. Portanto, o texto não é para nos fragilizar ou inundar-se
de assombro pelo dia que há de vir, mas sim pela conversão e fidelidade que ele
exige e pode produzir dentro de nós: ser novas criaturas.
A
esperança cristã “desvia” a atenção dos acontecimentos escatológicos (a
dimensão da força assombrosa do messianismo) para centrar no verdadeiro dia de
nossa conversão plena, nosso acolhimento do Senhor Ressuscitado e de sentirmos
novas criaturas com Sua Ressurreição.
Na
1ª Leitura (Ml 3,19-20a) encontramos uma palavra de esperança: “Deus não
abandona o seu povo”. O retorno do Exílio da Babilônia causou “alegria” no
povo, mas com o passar do tempo foram se desanimando, pois achavam que as
coisas mudariam rapidamente; então, começaram a entender que Deus estava com
eles, mas Deus mesmo pedia que eles fizessem alguma coisa por eles, que
reagissem. É assim que começa uma nova caminhada na vida do povo de Deus: Deus
e o povo caminhando juntos.
No
Evangelho (Lc 21,5-19) Jesus conversa com seus discípulos sobre o sentido da
história humana. A vida é um caminho ao encontro com o Deus da vida e da
verdade. A história dos homens não é uma história de perdição e catástrofes,
mas uma história de salvação. Por isso que, as vicissitudes da vida (que também
temos ingerência sobre elas) é um convite à conversão para não transformar a
vida numa história de perdição (guerras, destruições, ódio, assassinatos,
genocídios, etc).
O
evangelho de Lucas nos propõe uma pergunta existencial: O que você mais
valoriza? O amor a si mesmo? O amor ao dinheiro? O poder? A ganância? A
ostentação? A futilidade? A vaidade? Será que ainda valorizamos o amor de Deus
e seus ensinamentos? No horizonte da nossa vida qual a pedra preciosa mais
importante que você admira e deseja? A
vida ainda faz sentido?
A
Palavra de Deus testemunha que Deus não abandonou o ser humano. Ele sempre atua
para destruir as forças da morte. E faz das cinzas do mundo velho, nascer para
um mundo novo.
O
profeta Malaquias fala para as pessoas de nosso tempo quando vivemos uma apatia
religiosa que tira a confiança no amor a Deus às coisas secundárias. O culto
que nos inspira a ética da vida, o valor a dignidade humana, a justiça e o amor
ao próximo, vêm sendo substituído progressivamente pelo culto das aparências,
de emoções subjetivas, ambições, moralismo legalista e materialista.
O
profeta prega o dia da intervenção divina não como o dia de ódio, vingança e
violência. Ele vem oferecer a salvação definitiva, será o dia do triunfo da
justiça e do amor. Deus vai repor a ordem no mundo, retirando dele os malvados,
os mentirosos, os cínicos, hipócritas, pois o fogo queimará tudo até a raiz. E
das cinzas, fará brotar um novo povo: “Um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,21)
onde não haverá mais opressão, violência...o mundo será purificado e iluminado
“pelo Sol da Justiça” (Lc 1, 78), pois
dos raios deste sol brotará salvação. Os justos serão libertados de toda a
escravidão, serão livres para uma vida completamente nova. Essa é a linguagem
apocalíptica que vem descrever a salvação que Deus tem para com todos.
A
história dos homens não terminará com o fracasso, pois ao final do caminho
estará Deus nos esperando para nos oferecer a salvação e a vida definitiva.
Hoje, Ele nos oferece a força para enfrentar as crises, as convulsões sociais,
as perseguições, as rejeições que se apresentarão em cada curva da história.
Diante
de um povo ludibriado pela beleza das pedras do templo, Jesus ensina a
contemplar o que de fato é mais importante: a vida; pois faz muito mais sentido
“perder” tempo com os desafios do sagrado-viver do que perder tempo com as
coisas secundárias ou mesmo fútil. Eis ai a voz proféticas de Jesus, o tempo do
Templo de pedra acabou, pois Jesus é o Templo por excelência, Ele é o lugar da
mediação entre Deus e os homens.
Jesus
não tem interesse em se comprometer com destruição de nada, nem o armagedom.
Ele tem predileção de preparar o povo para um “novo tempo que há de vir”. Os
que estiverem dispostos a acolher Sua proposta de vida e salvação que Ele traz
(tempo da vida eclesial em Espírito e Verdade), então, estarão aptos para o
momento definitivo de Sua segunda vinda.
O
caminho de preparação será: Em primeiro momento, um tempo inquietante e bem
desafiador onde o Senhor expulsará os vendedores de ilusões de vida fácil, os
manipuladores da fé do povo (que usam a catequese do medo para o domínio), os
falsos profetas que geram confusão. Em segundo momento, o da esperança onde
será possível vislumbrar a beleza dos sinais desse tempo novo (do mundo novo).
No terceiro momento, os filhos de Deus experimentarão a rejeição, a perseguição,
enfrentarão todo o tipo de calunia, mas Deus cuidará de cada um com amor de
Pai.
Com
toda esta boa expectativa convém assumir a vida e fazê-la valer apena. É
preciso esforçar-se pela construção de uma vida digna para todos. CORAGEM!
Boa
semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo.

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