COM
MUITO PRA CONTAR
(Breve
Biografia de Hamilton Marinho da Costa)
Nova
Floresta era então um povoado sob o risco de ruazinhas dispersas quando a
parteira chegou àquela casa de tijolo cru, com cinco janelas grandes, duas
áreas pequenas e um comércio, para o parto do terceiro filho - de um total de
11 - do casal Benedito e Leopoldina Marinho. Hamilton Marinho da Costa nasceria
naquela quarta-feira de 16 de maio de 1934, exatamente no mesmo ano em que foi
doado o terreno para construção da Capela de São Severino Bispo.
Hamilton
cresceu junto com o vilarejo. E, em um domingo de 1938, viu acontecer no
terreiro de casa a primeira feira da localidade. Em pouco tempo, já estaria
caçando passarinho no Olho D água, armando arapucas para pegar preá, andando de
jumento, brincando de boi-passa e ouvindo as moças cantarem modas embaixo da
sombra da mangueira da casa de seu Zé Garcia, em tardes que demoravam a passar.
Mas o
trabalho também lhe veio muito cedo. O que menos gostava era vigiar os irmãos
menores postos em uma esteira de palha no meio da sala, mas também já se
encarregava de buscar leite, água e lenha, muitas vezes saindo de casa com o
céu escuro, agasalhado com pedaços de estopa.
Aos
dez anos já apanhava algodão na grota, servia de balconista nas bodegas de
Davino e Valetim e, em barris postos sobre um jumento, carregava água para
outras famílias do povoado.
Logo
aprenderia a dirigir no caminhão Ford 1938 que o seu pai comprara. Porém, foi
no Studebaker que se fez motorista, transportando lenha, farinha e tijolo para
o vilarejo que crescia rápido junto com a cultura do algodão. Terrenos eram
doados e novas moradias construídas e espalhadas.
Em
1951, foi inaugurado o Nova Floresta Clube e, no ano seguinte, já se podia
ouvir a voz de Menézio Dantas ressoar através da moderna e possante
Amplificadora Muirapiranga.
Com a
implantação da cultura sisaleira na região, o foco da economia mudava e, agora,
em um Chevrolet 1949, Hamilton transportava fibras, bagaço e turmas de
trabalhadores para o campo, além de conduzir feirantes com as suas malas,
cereais e bugigangas para Cuité, Barra de Santa Rosa, Araruna e Picuí.
Em
uma sessão de cinema em Picuí viu Elcy pela primeira vez, no início dos anos
50. Em 1952, ela viria morar em Nova Floresta e, entre uma carona e outra, na
boleia do caminhão com destino a Cuité, começaram um namoro que se definiu no
final de 53. Casaram-se em 1961.
Em
1955, enquanto Nova Floresta era elevada à categoria de distrito, Hamilton
partiria juntamente com Bezinho e Zé Dantas para uma viagem em Pau de Arara que
durou quase um mês e sobre a qual ele viria a escrever um livro muito tempo
depois.
Em
1958, Hamilton seria nomeado agente fiscal, trabalhando nessa função em Cuité,
Nova Floresta e Barra de Santa Rosa.
Em
1959, Nova Floresta elevava-se à condição de cidade, um projeto conduzido por
Felinto Florentino, Francisco Estevão e Benedito Marinho, que naquele mesmo ano
seria eleito prefeito sob a vitória de 464 votos contra 93 votos do opositor –
uma maioria até hoje jamais repetida.
Em
1960, junto com Manoel Belo, investiram na compra de uma máquina de 16
milímetros e abriram as primeiras sessões de cinema em um armazém pequeno e
improvisado, onde os fregueses se acomodavam pelo chão ou nos seus próprios
tamboretes. Depois, já providenciando a fabricação de bancos, os filmes
passaram a ser exibidos no Nova Floresta Clube.
Com o
declínio da cultura da farinha de mandioca, a velha casa de farinha foi
desativada em 1965 para dar lugar construção do Cine Íris, cujo prefixo sonoro
“O Milionário” seria rodado até 1990 quando, com o fim do cinema, passaria a
continuar tocando para sempre na vitrola imaginária de gerações de
florestenses.
Ainda
nos anos 70, Hamilton Marinho participou da direção do Grêmio de Nova Floresta,
quando o esporte na cidade atingiu o seu auge. Em 1972, mudava-se com a família
para Cuité, sem nunca perder o vínculo com a cidade natal.
Seja
por transportar parteiras por anos a fio, seja pela popularidade e pela vocação
de ajudar, Hamilton ganhou uma legião de afilhados, amigos e admiradores que
hoje já se estende por uma Nova Floresta nova, com mais de 10 mil pessoas, e se
abre meio mundo afora sob a diáspora de conterrâneos, até o invisível das redes
sociais que riscam a geografia das idéias na atualidade.
Há
mais de 50 anos casado, com quatro filhos, fez um livro e plantou muitas
árvores. Plantou também uma vida digna, cujos frutos são a família, a
solidariedade, a simplicidade, a alegria, bons exemplos e uma história que
continua sendo escrita com maestria.
Parabéns
Hamilton Marinho
Pelos
80 anos de uma vida bem vivida! ( Ramilton Marinho )
*
Texto escrito há seis anos.
Um nova-florentense mais cuiteense que qualquer outro cidadão da aba da Serra, um cidadão que gosta de nosso povo e da nossa história e até faz questão de manifestar com muita diferenciação o quanto é importante a sua relação com a nossa cidade.
ResponderExcluirO mais interessante é saber que ele vez por outra, nos brinda com públicações através de suas redes sociais de um pouco de nossas boas e saudáveis lembranças fotográficas de nosso torrão,outrora já esquecidas por muitos.
Ainda bem que ele resolveu lá nos idos de 1972, colocar pouca gasolina, que só deu para chegar na Rua João Pessoa e pôr lá ficou e em particular me deu mais grande amigo que é Ramilton, foi dura juntamente com Junior de Moca e outros meninos lá da rua, fazer o indinho tímido desarnar, mais depois ganhou o mundo.