quinta-feira, 11 de junho de 2020

Com muito pra contar – por Ramilton Marinho




COM MUITO PRA CONTAR
(Breve Biografia de Hamilton Marinho da Costa)

Nova Floresta era então um povoado sob o risco de ruazinhas dispersas quando a parteira chegou àquela casa de tijolo cru, com cinco janelas grandes, duas áreas pequenas e um comércio, para o parto do terceiro filho - de um total de 11 - do casal Benedito e Leopoldina Marinho. Hamilton Marinho da Costa nasceria naquela quarta-feira de 16 de maio de 1934, exatamente no mesmo ano em que foi doado o terreno para construção da Capela de São Severino Bispo.

Hamilton cresceu junto com o vilarejo. E, em um domingo de 1938, viu acontecer no terreiro de casa a primeira feira da localidade. Em pouco tempo, já estaria caçando passarinho no Olho D água, armando arapucas para pegar preá, andando de jumento, brincando de boi-passa e ouvindo as moças cantarem modas embaixo da sombra da mangueira da casa de seu Zé Garcia, em tardes que demoravam a passar.

Mas o trabalho também lhe veio muito cedo. O que menos gostava era vigiar os irmãos menores postos em uma esteira de palha no meio da sala, mas também já se encarregava de buscar leite, água e lenha, muitas vezes saindo de casa com o céu escuro, agasalhado com pedaços de estopa.

Aos dez anos já apanhava algodão na grota, servia de balconista nas bodegas de Davino e Valetim e, em barris postos sobre um jumento, carregava água para outras famílias do povoado.

Logo aprenderia a dirigir no caminhão Ford 1938 que o seu pai comprara. Porém, foi no Studebaker que se fez motorista, transportando lenha, farinha e tijolo para o vilarejo que crescia rápido junto com a cultura do algodão. Terrenos eram doados e novas moradias construídas e espalhadas.

Em 1951, foi inaugurado o Nova Floresta Clube e, no ano seguinte, já se podia ouvir a voz de Menézio Dantas ressoar através da moderna e possante Amplificadora Muirapiranga.

Com a implantação da cultura sisaleira na região, o foco da economia mudava e, agora, em um Chevrolet 1949, Hamilton transportava fibras, bagaço e turmas de trabalhadores para o campo, além de conduzir feirantes com as suas malas, cereais e bugigangas para Cuité, Barra de Santa Rosa, Araruna e Picuí.

Em uma sessão de cinema em Picuí viu Elcy pela primeira vez, no início dos anos 50. Em 1952, ela viria morar em Nova Floresta e, entre uma carona e outra, na boleia do caminhão com destino a Cuité, começaram um namoro que se definiu no final de 53. Casaram-se em 1961.

Em 1955, enquanto Nova Floresta era elevada à categoria de distrito, Hamilton partiria juntamente com Bezinho e Zé Dantas para uma viagem em Pau de Arara que durou quase um mês e sobre a qual ele viria a escrever um livro muito tempo depois.

Em 1958, Hamilton seria nomeado agente fiscal, trabalhando nessa função em Cuité, Nova Floresta e Barra de Santa Rosa.

Em 1959, Nova Floresta elevava-se à condição de cidade, um projeto conduzido por Felinto Florentino, Francisco Estevão e Benedito Marinho, que naquele mesmo ano seria eleito prefeito sob a vitória de 464 votos contra 93 votos do opositor – uma maioria até hoje jamais repetida.

Em 1960, junto com Manoel Belo, investiram na compra de uma máquina de 16 milímetros e abriram as primeiras sessões de cinema em um armazém pequeno e improvisado, onde os fregueses se acomodavam pelo chão ou nos seus próprios tamboretes. Depois, já providenciando a fabricação de bancos, os filmes passaram a ser exibidos no Nova Floresta Clube.

Com o declínio da cultura da farinha de mandioca, a velha casa de farinha foi desativada em 1965 para dar lugar construção do Cine Íris, cujo prefixo sonoro “O Milionário” seria rodado até 1990 quando, com o fim do cinema, passaria a continuar tocando para sempre na vitrola imaginária de gerações de florestenses.

Ainda nos anos 70, Hamilton Marinho participou da direção do Grêmio de Nova Floresta, quando o esporte na cidade atingiu o seu auge. Em 1972, mudava-se com a família para Cuité, sem nunca perder o vínculo com a cidade natal.

Seja por transportar parteiras por anos a fio, seja pela popularidade e pela vocação de ajudar, Hamilton ganhou uma legião de afilhados, amigos e admiradores que hoje já se estende por uma Nova Floresta nova, com mais de 10 mil pessoas, e se abre meio mundo afora sob a diáspora de conterrâneos, até o invisível das redes sociais que riscam a geografia das idéias na atualidade.

Há mais de 50 anos casado, com quatro filhos, fez um livro e plantou muitas árvores. Plantou também uma vida digna, cujos frutos são a família, a solidariedade, a simplicidade, a alegria, bons exemplos e uma história que continua sendo escrita com maestria.
Parabéns Hamilton Marinho

Pelos 80 anos de uma vida bem vivida! ( Ramilton Marinho )
* Texto escrito há seis anos.

Foto: Magno Foto

Um comentário:

  1. Um nova-florentense mais cuiteense que qualquer outro cidadão da aba da Serra, um cidadão que gosta de nosso povo e da nossa história e até faz questão de manifestar com muita diferenciação o quanto é importante a sua relação com a nossa cidade.
    O mais interessante é saber que ele vez por outra, nos brinda com públicações através de suas redes sociais de um pouco de nossas boas e saudáveis lembranças fotográficas de nosso torrão,outrora já esquecidas por muitos.
    Ainda bem que ele resolveu lá nos idos de 1972, colocar pouca gasolina, que só deu para chegar na Rua João Pessoa e pôr lá ficou e em particular me deu mais grande amigo que é Ramilton, foi dura juntamente com Junior de Moca e outros meninos lá da rua, fazer o indinho tímido desarnar, mais depois ganhou o mundo.



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