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(Foto: Edson Pereira) |
Segunda feira 25 de
janeiro de 1937, no horizonte despontava os primeiros raios de sol, anunciando
um tempo novo para os cuiteenses, estávamos nos desligando definitivamente de
Picuí depois de 33 anos, passando assim da condição de Distrito para a categoria
de Cidade.
Eu tinha 19 anos de
idade na época, era um rapaz que gostava de fazer amizades, pois tinha uma
facilidade enorme de me comunicar e por isso logo conquistei a amizade de
muitas pessoas, eu sabia ser agradável e prestativo com todos aqueles com os
quais eu convivi.
Eu estava lá
presenciando e participando daquele dia festivo em Cuité, momentos estes que eu
nunca esqueci.
Lembro – me bem que o
Senhor Benedito Venâncio, um dos lideres do Movimento da Emancipação mandou um
de seus funcionários me chamar em casa, dizendo que eu comparecesse com
urgência em sua residência, e um chamado de seu Benedito eu não poderia deixar
de atender, então me arrumei e fui até sua presença, chegando lá a primeira
coisa que ele me falou foi o seguinte:
- Você é cuiteense? Eu
disse sim, nasci e me criei aqui, então ele me disse; tome estas propagandas e
cole em todos os carros pequenos e caminhões que venham de Picuí para Cuité – o
Panfleto tinha os seguintes dizeres: “ TUDO PELA INDEPENDÊNCIA DE CUITÉ ”,
então ele me deu uma quantia em dinheiro pelo serviço e eu fui cumprir a minha
missão, missão essa talvez até um pouco ariscada, mas fui.
Logo me deparei com um
carro pequeno que estava estacionado bem próximo a casa de seu Benedito e
tasquei a propaganda no pára-brisa do carro, claro com certo receio que o dono
do automóvel viesse tirar satisfação comigo, e assim fui fazendo meu trabalho,
em cada automóvel que ia encontrando pelo caminho com placa de Picuí eu pregava
um panfleto.
Só que em uma delas eu
me dei mal, foi num misto feirante, fui me aproximando e vi que não tinha
ninguém e lá colei a propaganda, mas para minha surpresa o dono apareceu de
repente e me disse com voz firme e segura – seu cabra o que você ta fazendo?
Pregando essas propagandas no meu carro! Vi que o homem estava muito alterado e
perguntou. Qual o seu nome? Eu disse é José, mas José de quê? Quero saber seu
nome completo. Meu nome Senhor, é José Dias dos Santos, mas todos aqui em Cuité
me conhece por Zé de Luzia.
Pois é meus amigos, isto
não foi ficção e sim partes de uma entrevista que tive a oportunidade de fazer
com o Senhor Zé de Luzia, em abril de 2012, aquele que sem dúvida foi a memória
histórica de Nossa Terra.
A Emancipação Política
do nosso Município se deu pela luta e esforço de muitos cuiteenses, por que
naquela época não era fácil conseguir que um Distrito passasse a categoria de
cidade, segundo a historiadora Lêda Venâncio durante os 33 anos de 1904 a 1937
Cuité viveu sob o jugo de rivalidades, mesquinharias e interesses sediado em
Picuí, o que sobrou para Cuité foi um lento desenvolvimento, ou mesmo um
considerável atraso, por isto e contra isto, estava empenhado toda a comunidade
cuiteense em prol de sua Emancipação.
Ainda segundo a
historiadora Lêda Venâncio, o processo que desencadeou a possibilidade concreta
de nossa Independência Política tem suas origens no reordenamento de forças do
Estado a partir de 1930. Naquela época o político de maior influência no estado
era o Sr. Argemiro de Figueiredo, em Cuité nas eleições de 04 de outubro de
1934, o Sr. Jeremias Venâncio dos Santos chega a suplente de Deputado Estadual
em 24 de Janeiro de 1935 concretizou –se a posse dos eleitos para a Assembléia
Legislativa da Paraíba, Seu Jeremias tinha ficado de fora, mas apenas cerca de
dois meses depois em março um jovem advogado, eleito Deputado em 1934, morre
vítima de um acidente automobilístico, esse jovem era o Deputado Tavares
Cavalcanti, então a vaga foi preenchida pelo suplente Jeremias Venâncio dos
Santos, então é a partir desse momento e com essa força política na Assembléia
que começa a luta oficial pela Independência de Cuité, pela Emancipação
Política do Município.
Os termos encaminhados
de nossa Independência foram para apreciação dos Senhores Deputados, que por
unanimidade aprovaram as condições para a Emancipação Política de Cuité, o que
posteriormente foi confirmando pelo governador Argemiro de Figueiredo, através
da Sansão da Lei, Nº 99 criando o Município e o Termo Judiciário de Cuité, em
18 de dezembro de 1936.
Não poderia deixar de
citar o Sr. Ezequias Fonseca, artesão de profissão e um dos grandes batalhador
pela nossa Emancipação, sendo o braço direito de seu Jeremias em Cuité. O Sr.
Ezequias era o encarregado de executar as tarefas práticas para que se
cumprissem as exigências legais necessárias para que fosse possível a
Emancipação Política de Cuité. Uma das exigências era colher assinaturas
necessárias para a efetivação do processo de Emancipação, e sendo assim ele
percorreu a pé, a cavalo todo o Município, casa por casa, até conseguir todas as
assinaturas para essa etapa do processo.
Foi ele também que
demarcou toda a área que viria a ser o Município de Cuité, com a finalidade de
delimitar sua extensão com a elaboração de um mapa de Cuité referentes aos
nossos limites territoriais.
Então a nossa
Independência resulta de um movimento onde todos se empenharam em um só bem
comum, praticamente toda a população participou direta ou indiretamente no
sentido de adquirirmos a autonomia política e administrativa de nossa terra.
Foi muito válido a
contribuição do Sr. Jeremias Venâncio dos Santos como Deputado na Assembléia
Legislativa da Paraíba, como também o corpo a corpo diretamente com o povo do
Sr. Ezequias Fonseca, e não poderíamos deixar de registrar o empenho de muitos
outros ilustres cuiteenses nessa luta que foi de todos nós: há exemplos do Sr.
Basílio Magno da Fonseca, Benedito Venâncio dos Santos, Padre Luis Santiago,
Jovino Pereira da Costa, João Venâncio da Fonseca, João Teodósio da Silva
Coelho, Rivaldo Silvério da Fonseca, Ulisses Viana da Costa, Benedito Regino
Cabral, Amalio Limeira entre outros.
Eliel Soares -
Historiador
Fonte: Cuité; Diagnostico Sócio – econômico; SEBRAE; João Pessoa – 1996
Ao Nosso Querido Oswaldo/ Lêda Venâncio, João Pessoa: Idéia, 2010
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