segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Cuité 84 Anos de Emancipação Política

 


(Foto: Edson Pereira)

Segunda feira 25 de janeiro de 1937, no horizonte despontava os primeiros raios de sol, anunciando um tempo novo para os cuiteenses, estávamos nos desligando definitivamente de Picuí depois de 33 anos, passando assim da condição de Distrito para a categoria de Cidade.

Eu tinha 19 anos de idade na época, era um rapaz que gostava de fazer amizades, pois tinha uma facilidade enorme de me comunicar e por isso logo conquistei a amizade de muitas pessoas, eu sabia ser agradável e prestativo com todos aqueles com os quais eu convivi.

Eu estava lá presenciando e participando daquele dia festivo em Cuité, momentos estes que eu nunca esqueci.

Lembro – me bem que o Senhor Benedito Venâncio, um dos lideres do Movimento da Emancipação mandou um de seus funcionários me chamar em casa, dizendo que eu comparecesse com urgência em sua residência, e um chamado de seu Benedito eu não poderia deixar de atender, então me arrumei e fui até sua presença, chegando lá a primeira coisa que ele me falou foi o seguinte:

- Você é cuiteense? Eu disse sim, nasci e me criei aqui, então ele me disse; tome estas propagandas e cole em todos os carros pequenos e caminhões que venham de Picuí para Cuité – o Panfleto tinha os seguintes dizeres: “ TUDO PELA INDEPENDÊNCIA DE CUITÉ ”, então ele me deu uma quantia em dinheiro pelo serviço e eu fui cumprir a minha missão, missão essa talvez até um pouco ariscada, mas fui.

Logo me deparei com um carro pequeno que estava estacionado bem próximo a casa de seu Benedito e tasquei a propaganda no pára-brisa do carro, claro com certo receio que o dono do automóvel viesse tirar satisfação comigo, e assim fui fazendo meu trabalho, em cada automóvel que ia encontrando pelo caminho com placa de Picuí eu pregava um panfleto.

Só que em uma delas eu me dei mal, foi num misto feirante, fui me aproximando e vi que não tinha ninguém e lá colei a propaganda, mas para minha surpresa o dono apareceu de repente e me disse com voz firme e segura – seu cabra o que você ta fazendo? Pregando essas propagandas no meu carro! Vi que o homem estava muito alterado e perguntou. Qual o seu nome? Eu disse é José, mas José de quê? Quero saber seu nome completo. Meu nome Senhor, é José Dias dos Santos, mas todos aqui em Cuité me conhece por Zé de Luzia.

Pois é meus amigos, isto não foi ficção e sim partes de uma entrevista que tive a oportunidade de fazer com o Senhor Zé de Luzia, em abril de 2012, aquele que sem dúvida foi a memória histórica de Nossa Terra.

A Emancipação Política do nosso Município se deu pela luta e esforço de muitos cuiteenses, por que naquela época não era fácil conseguir que um Distrito passasse a categoria de cidade, segundo a historiadora Lêda Venâncio durante os 33 anos de 1904 a 1937 Cuité viveu sob o jugo de rivalidades, mesquinharias e interesses sediado em Picuí, o que sobrou para Cuité foi um lento desenvolvimento, ou mesmo um considerável atraso, por isto e contra isto, estava empenhado toda a comunidade cuiteense em prol de sua Emancipação.

Ainda segundo a historiadora Lêda Venâncio, o processo que desencadeou a possibilidade concreta de nossa Independência Política tem suas origens no reordenamento de forças do Estado a partir de 1930. Naquela época o político de maior influência no estado era o Sr. Argemiro de Figueiredo, em Cuité nas eleições de 04 de outubro de 1934, o Sr. Jeremias Venâncio dos Santos chega a suplente de Deputado Estadual em 24 de Janeiro de 1935 concretizou –se a posse dos eleitos para a Assembléia Legislativa da Paraíba, Seu Jeremias tinha ficado de fora, mas apenas cerca de dois meses depois em março um jovem advogado, eleito Deputado em 1934, morre vítima de um acidente automobilístico, esse jovem era o Deputado Tavares Cavalcanti, então a vaga foi preenchida pelo suplente Jeremias Venâncio dos Santos, então é a partir desse momento e com essa força política na Assembléia que começa a luta oficial pela Independência de Cuité, pela Emancipação Política do Município.

Os termos encaminhados de nossa Independência foram para apreciação dos Senhores Deputados, que por unanimidade aprovaram as condições para a Emancipação Política de Cuité, o que posteriormente foi confirmando pelo governador Argemiro de Figueiredo, através da Sansão da Lei, Nº 99 criando o Município e o Termo Judiciário de Cuité, em 18 de dezembro de 1936.

Não poderia deixar de citar o Sr. Ezequias Fonseca, artesão de profissão e um dos grandes batalhador pela nossa Emancipação, sendo o braço direito de seu Jeremias em Cuité. O Sr. Ezequias era o encarregado de executar as tarefas práticas para que se cumprissem as exigências legais necessárias para que fosse possível a Emancipação Política de Cuité. Uma das exigências era colher assinaturas necessárias para a efetivação do processo de Emancipação, e sendo assim ele percorreu a pé, a cavalo todo o Município, casa por casa, até conseguir todas as assinaturas para essa etapa do processo.

Foi ele também que demarcou toda a área que viria a ser o Município de Cuité, com a finalidade de delimitar sua extensão com a elaboração de um mapa de Cuité referentes aos nossos limites territoriais.

Então a nossa Independência resulta de um movimento onde todos se empenharam em um só bem comum, praticamente toda a população participou direta ou indiretamente no sentido de adquirirmos a autonomia política e administrativa de nossa terra.

Foi muito válido a contribuição do Sr. Jeremias Venâncio dos Santos como Deputado na Assembléia Legislativa da Paraíba, como também o corpo a corpo diretamente com o povo do Sr. Ezequias Fonseca, e não poderíamos deixar de registrar o empenho de muitos outros ilustres cuiteenses nessa luta que foi de todos nós: há exemplos do Sr. Basílio Magno da Fonseca, Benedito Venâncio dos Santos, Padre Luis Santiago, Jovino Pereira da Costa, João Venâncio da Fonseca, João Teodósio da Silva Coelho, Rivaldo Silvério da Fonseca, Ulisses Viana da Costa, Benedito Regino Cabral, Amalio Limeira entre outros.


Eliel Soares - Historiador

Fonte: Cuité; Diagnostico Sócio – econômico; SEBRAE; João Pessoa – 1996

Ao Nosso Querido Oswaldo/ Lêda Venâncio, João Pessoa: Idéia, 2010





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