
O
ser humano nem sempre entende as duras situações da vida, mas isso não quer
dizer que ele fique inerte, que se contente com explicações rasas, pessimista
ou estagnado no obscurantismo à mercê dos oportunistas; é nesse momento que
Deus se propõe como companheiro na vida (cf. Jo 14, 16). Mas, se Deus
preocupa-se com os homens onde está nos momentos de sofrimentos e de
dificuldades?
Na primeira leitura (Jó 38, 1.8-11), Jó
interroga-se acerca do sofrimento que o atingiu e do papel de Deus no seu drama
pessoal. Alguns dos seus amigos procuram responder às suas questões,
apresentando as explicações dadas pela teologia oficial: o sofrimento é sempre
o resultado do pecado do homem (cf. Gn 2, 17. 3, 16. Is 53, 3-5. Jo 9, 1-2).
Para muitos a vida é sempre um drama, um castigo e quem se retira dela se
liberta da divida que tinha a pagar. Jó recusa essas conclusões simplistas,
fatalista e demonstra a falência da doutrina oficial sobre o sofrimento.
Com um apurado sentido crítico, Jó vai
desmontando os dogmas da fé de Israel e recusando esse Deus “contabilista” que
Se limita a registar as ações boas e más do homem para lhe pagar em
conformidade. Parece que algumas pessoas conseguem amadurecer frente ao
sofrimento, outros vivem o tempo inteiro buscando “respostas prontas” ou nos
“lobos de Wall Street”.
A segunda leitura (2 Cor 5,14-17), nos ensina
que Deus não é indiferente, que deixa os homens abandonados à sua sorte. A
vinda de Jesus ao mundo mostra que Deus nos ama e faz o caminho da vida
caminhando conosco. Jesus não está preso a vade-mécum, pois ele sabe que a vida
não é um jogo de perguntas e respostas prontas, apenas caminha com o ser humano
e caminhando o faz discernir caminhos (cf. Lc 24, 13-35).
O episódio que evangelista Marcos narra,
neste domingo, acontece durante a travessia do Lago de Tiberíades (Mc
1,14-8,30). Era território pagão, considerado pelos judeus completamente à
margem dos caminhos da salvação. Para entendermos o que está em causa neste
episódio convém ter as questões da primeira leitura.
O “Mar da Galileia” é um lago de água doce,
alimentado, sobretudo pelas águas do rio Jordão. O “mar” na mentalidade
judaica: era uma realidade assustadora, indomável e desordenada, onde residiam
os poderes caóticos que o homem não conseguia controlar, poderes maléficos que
queriam destruir os homens. Só Deus, com o seu poder podia pôr limites ao mar,
dar-lhe ordens e libertar os homens dessas forças descontroladas do caos que o
mar encerrava (Sl 106(107)).
Situar o barco com Jesus e os discípulos “no
mar” (vers. 36), é colocá-los num ambiente hostil, perigoso, caótico, rodeados
pelas forças que lutam contra Deus e contra o homem. A “noite” é o tempo
das trevas, da falta de luz; aparece como elemento ligado ao medo, o desânimo,
a falta de perspectivas. O “mar” e a “noite” definem uma realidade de
hostilidade total. O “barco” é, na catequese cristã, o símbolo da comunidade de
Jesus que navega pela história. Jesus está nele, mas são os discípulos que se
encarregam da navegação, pois é a eles que é confiada a tarefa de conduzir a
comunidade pelo mar da vida.
O “sono” de Jesus (vers. 38) durante a viagem
refere-se, à sua aparente ausência ao longo da “viagem” que a comunidade cristã
faz pela história. Os discípulos, ocupados em guiar o “barco”, têm a sensação
de que estão abandonados à sua sorte e que não está com eles a enfrentar as
vicissitudes da viagem.
Onde está Ele? Na
verdade, Jesus está com eles no “barco”; Ele prometeu ficar com eles “até ao
fim do mundo”. Desde o Antigo Testamento o povo professa sua fé ensinando: “Saibam que
Deus caminha à nossa frente” (2Cr
13,12). “Ninguém
sairá apressado, ninguém correrá como se estivesse fugindo, pois Javé caminha à
sua frente. Atrás de vocês vem o Deus de Israel” (Is 52,12). “Não fiquem
aterrorizados nem tenham medo deles. Javé seu Deus irá na frente de vocês” (Dt 1,29-33).
O Senhor esteja convosco. Ele está no meio de nós.
Paraíbaonline
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