Faleceu na noite desta terça-feira, 12 de outubro, a cuiteense Áurea da Costa Dantas, aos 103 anos. Dona Áurea Dantas, símbolo da cultura e religiosidade no município de Cuité.
Veja a
biografia de Áurea da Costa Dantas, por Osmael Oliveira.
“Às vezes tem gente que diz “Áurea, deixa disso, tu não tem mais idade pra isso não” (risos) e eu digo “me deixe morrer primeiro” (risos). Eu gosto, gosto muito de teatro, gosto muito.”
Quanta jovialidade presente em apenas uma frase. E mais interessante é saber
que tal frase pertence a uma senhora de 95 anos: Áurea da Costa Dantas,
popularmente conhecida por Dona Áurea. Juntamente com Francisca Emília da
Fonseca, seu nome é sempre remetido à história do teatro cuiteense como atriz e
diretora.
Filha de Celso Otaviano da Costa e Rita Florentina da Costa, Áurea nasceu no
dia 1° de outubro de 1918 no sítio Imbé do município de Cuité-PB. Aos 6 anos de
idade, mudou-se para cidade com sua família, e passou a morar na casa
construída por seu pai na rua João Pessoa.
No início dos anos 30, foi convidada pela senhora Francisca Emília (Dona
Chicota) para compor o elenco de alguns “dramas” (termo bastante utilizado na
época para se referir a apresentações teatrais) que estavam sendo montados.
Dona Chicota reunia o elenco em sua casa, passava os textos e dirigia os
espetáculos, além de ser responsável também pelo cenário e figurino.
Uma das primeiras peças apresentadas chamava-se “A Louca do Jardim”, uma
comédia protagonizada por Áurea Dantas. Como ainda não existia teatro na
cidade, as apresentações aconteciam no Mercado das Três Portas, no armazém de
Jeremias Venâncio (marido de Chicota) situado na Rua João Pessoa e na Usina de
beneficiamento do algodão de Benedito Venâncio (atual Mercado Público).
Áurea permaneceu no elenco de Chicota até 1944, quando se casou com Nilton
Sátiro Dantas e foi morar na cidade de Teixeira-PB. Após ficar viúva, retornou
à Cuité em 1961, onde se aposentou anos depois.
A partir de então, Áurea Dantas começou a organizar seu próprio elenco,
passando a encenar, dirigir e produzir novos espetáculos. Na época, muitas das
apresentações aconteciam no Salão Paroquial Nossa Senhora das Mercês. Foram
apresentadas as peças “A velha debaixo da cama”, “Estela”, “Caduquice de Avó”,
“Dan a Pequena Mártir do Cristo Rei” entre outras.
Ao longo dos anos, além de apresentar seus trabalhos em Cuité, Áurea conseguiu
levar alguns espetáculos para as cidades de Cacimba de Dentro e Nova Floresta
na Paraíba, e Santa Cruz no Rio Grande do Norte.
Em 2004, como uma forma de homenagear quem tanto contribuiu para a cultura
cuiteense, foi inaugurado o Teatro Municipal de Cuité com o nome de “Francisca
Emília da Fonseca”, e o auditório do espaço foi nomeado de “Áurea da Costa
Dantas”.
Recentemente, a artista escreveu ainda duas comédias teatrais: “A Patroa
Velhaca” e “A Bruxa”. A primeira retrata a vida de uma empregada que sofre com
as cobranças dos comerciantes direcionadas a sua patroa que “vive no luxo”, mas
não paga uma conta sequer. Já “A Bruxa” conta a história de uma senhora que
desejava entregar de presente uma “bacorinha” ao bispo, mas é questionada por
um grupo de alunos se ela seria uma bruxa, devido aos trajes exóticos que
vestia. As duas comédias já foram apresentadas diversas vezes, tanto no salão
paroquial quanto no Teatro Municipal, e ambas aclamadas fortemente pelo
público.
Em março de 2010 a Cia. de Teatro Adorai decidiu fazer uma homenagem para
Áurea, alterando o nome do grupo teatral para Cia. de Artes Áurea Dantas –
CAAD. Até hoje ela tem acompanhado as atividades da companhia e sempre está
presente nos eventos culturais da cidade.
Atualmente Áurea Dantas é integrante do Apostolado do Sagrado Coração de Jesus
na Paróquia de Nossa Senhora das Mercês e participa do Programa “Confia no
Senhor” da Rádio Comunitária Caminhando na Luz. Também coopera na organização
da Festa da Padroeira e participa, sempre que possível, de eventos culturais
ligadas ao teatro e ao Museu do Homem do Curimataú.
Dona Áurea, hoje com 95 anos, transborda seu carisma por onde passa, e tem a satisfação de contribuir com a cultura local. Uma cuiteense ilustre e humilde, que sempre demonstrou e demonstra alegria no que faz.
“O teatro
foi a coisa melhor do mundo que eu já pude encontrar na minha vida...”
(Áurea da Costa Dantas)
Osmael Oliveira, 2013
Perdemos uma referência de nossa tão combalida cyltura, mas ficou o seu legado e uma história como meio de incentivo para as gerações vindouras.
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