quinta-feira, 10 de março de 2022

O baile e a minha saudade, por Flauberto Fonseca

 

Em determinados momentos de turbidez de muitas recordações nada é maior e mais presente que aqueles revoar das andorinhas que em um sincronismo de um bailado perfeito nos presenteava com um show diurnamente entre o Campanário da Igreja Matriz, o Mercado Público e o Vidal de Negreiros, locais escolhidos por elas como abrigo e para postura.

Não sei se por coincidência ou devoção a nossa mãe Senhoras das Mercês, mas logo dos primeiros dias de agosto e com representatividade maior no mês de setembro que é para nós a plenitude e o extravasar de nossa fé, elas em bandos se faziam presentes e até eram parte integrante das festividades em prol da mãe.

Nada mais prazeroso que o ressoar dos sinos da matriz que como canção nos consentia usufruir de um baile em plena luz do dia.  

Reavivo em minhas lembranças que no alvorecer ou no entardecer de nossa cidade havia sempre uma festa a céu aberto, cujo palco era o infinito e os espectadores eram aqueles que guiavam as suas vistas para o horizonte com meio de contemplar e até de embebece o seu mais puro estado de contentamento diante de tamanha beleza.

Em contrapartida sempre busquem diante de minha plena ignorância entender e até criar uma relação entre dois pontos intrigantes e ao mesmo tempo convergentes no diz respeito à migração tão e/ou quase semelhante entre pessoas e aves e encontrem respostas plausíveis como meio de amansar as minhas apoquentações.

Pois, em primeiro plano passei a entender com maior clareza o deslocamento de nossos irmãos e irmãs lá nos idos dos anos sessenta e setenta em buscam de novos horizontes e entre os diversos motivos, essa mudança permanente de residência seria causada por causas predominantemente econômicas devido às disparidades entre os espaços de origem e destino como meio de se sustentarem.

Já como relação as andorinhas havia a premente necessidade de sobrevivência e da perduração da espécie e que de forma natural e instintiva a locomobilidade era o caminho que permitia levarem algo próximo de cinquenta dias em uma viagem continental que percorriam uma distância de  aproximadamente sete mil quilômetros entre o hemisfério norte e semi-árido nordestino tudo em razão do rigoroso inverno em seu habitat e assim tomavam contam da região, em especial a Serra de Cuité que é um lugar de clima afável e muito próximo do ambiente nativo delas.

Como toda chegada de um viajante em trânsito a sua partida já está previamente marcada e no apagar de novembro as mesmas tomavam a sua rota de volta as suas origens, como em um ato de despedida nos davam sinais de que era apenas um até logo e jamais uma despedida final, pois com certeza no próximo circular climático elas se fariam presentes entre nós.

Sendo que com o passar do tempo e a voraz intervenção do homem no meio ambiente elas se dissiparam em buscam de outras paragens.

Hoje, frente aos resquícios de minhas rememorações tem seu Heleno Viana a apregoar que elas sujavam muito, mas eram sempre bem-vindas como o instrumento de renovação da vida.

Agora na culminância de minhas saudades aqueles revoar eram um verdadeiro baile sem orquestra e um colírio para os meus olhos.

Flauberto Fonseca

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