Iniciamos o mês de Setembro com uma grande motivação eclesial: o mês popularmente dedicado a Sagrada Escritura. A Igreja nos recorda de nosso compromisso de ler, meditar e viver a Palavra de Deus, que em Jesus (Verbo Encarnado), quis que compreendêssemos a justiça do Reino.
A meditação diária/semanal, pessoal/comunitária e desinteressada da Palavra de Deus faz o discípulo(a) ir às aguas mais profundas dos ensinamentos de Jesus e perceber, à luz do Espirito Santo, que nem todo aquele que fala de Jesus é discípulo de Dele, exatamente por uma coisa: não o segue; ou seja, não faz o caminho apontado pelo próprio Cristo, mas caminhos paralelos: a mesma mentalidade dos opressores e tiranos (cf. Sb 9, 15. Mt 20,21-27), a devota ambição, a vaidade e idolatria das riquezas (cf. Mt 19, 23.), os altivos e arrogantes (cf.Lc 14, 11), a luta interior/ exterior para ser maior e se sobrepor num carreirismo sutil ou escancarado (cf. Mt 9, 33. 34; 10, 35-37), etc…
É importantíssimo perceber esses detalhes (caminhos e descaminhos) que se
alinham/desalinham, pois provocam a questão da autêntica identidade de uma vida nova em Cristo (cf. Cl 3, 3), o estado de vigilância para não cairmos nas modinhas religiosas do nosso tempo de pregações meramente motivacionais, disciplinadoras e moralistas e uma frenética ideologia de um cristianismo com mentalidade burguesa enraizado num seguimento de outra pessoa que não é o Jesus dos evangelhos.
É nesse contexto e para este público de um caminho paralelo que entendemos o que Jesus diz hoje: “Quem não se desapega de sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). No fundo, o Senhor quer verificar as reais motivações daqueles que estão fazendo o caminho com Ele. Daí a radicalidade do amor: "Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26).
O amor a Cristo não nos mantém (por isso não é tradicionalismo), não nos conserva (por isso não é conservadorismo), mas é abertura e saída às questões que eticamente nos transcendem: “qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!" (v. 33). Jesus é presença sem mescla de “egoísmo”: o centro de sua vida não está em si mesmo, mas na comunhão com a vontade do Pai que é misericordioso e solidário com os últimos e sofredores.
O encontro com Jesus e a escuta de sua palavra modifica a maneira de perceber toda a realidade: a família, os outros, a vida eclesial, os bens, o nosso próprio eu. Em Jesus, a vida é percebida de um modo novo.
No realismo da mensagem de Jesus entendemos que não é a renúncia em si que nos salva, mas o desenvolvimento e a expansão da vida em direção à plenitude. Por isso, Jesus faz uma teologia libertadora, com decisão e responsabilidade. O apego às coisas ou às pessoas impede-nos de mover com facilidade. Perdemos o fluxo da vida e o impulso do movimento, a suavidade do “deslizar pela existência”.
O desapego não é para nos deslocar e fazer caber obsessivamente num enquadramento doutrinal ou esvaziamento sem sentido, mas nos tornar pessoas maduras, livres e servir ao Deus que dá Vida (cf. Gl 5, 1).
A cruz não significa um patíbulo e instrumento de tortura imposta para um sacrifício cruel, mas um seguir o programa do Jovem de Nazaré que teve vida expansiva e descentrada em favor dobem comum. A cruz é entendida a partir de uma causa que transcende nosso bem estar pessoal: O Reino (cf. Mt 5, 1-16). Compreendemos?!
A vida nova em Cristo é muito mais serviço ao próximo do que sucesso pessoal e preocupações empreendedoras, tão ideologicamente romantizadas pela burguesia neoconservadora e militante no século atual.
Não pode ser discípulo de Jesus pessoas e grupos que seguem apenas seus interesses (cf. Fl2,4-7) de sucesso e bem estar. A cruz desintoxica as idolatrias demoníacas de um mundo narcisista que fala de Jesus, mas não o segue.
A cruz é sinal de salvação para quem se compromete. Nunca é sofrimento buscado, como se
Deus necessitasse de nossa dor para nos redimir. Carregar a cruz não é ser amigo da dor,
mas sinal de lucidez.
Na semana da pátria, ao comemorarmos os 200 anos de história de uma luta ardorosa pela independência e vida de nosso povo, é gratificante trazer à memória tantos homens e mulheres que são presenças não odiosa e violenta, mas misericordiosa à maneira de Jesus que, com a força do Espirito, pregou a liberdade, o respeito ao outro, fez/faz a roda da vida girar e trazer os últimos e excluídos para o centro.
Esses entenderam o evangelho da vida. Muitos tentam intencionalmente e odiosamente anular ou apagar o nome de tantas pessoas boas – como do próprio Jesus – que com sua presença ablativa faz a vida de muitos acontecerem com dignidade.
Paraíbaoline
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