segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Padre Edjamir Sousa Silva: A misericórdia e a ingratidão



 Jesus está a caminho, quase chegando à etapa final da viagem: Jerusalém. A estrada é a vida e a missão de Jesus, enviado para revelar o rosto misericordioso de Deus aos homens (cf. Lc 6, 36-38. Jo 14, 7-17). A sua estrada é marcada pela solidariedade e cuidado para com os mais excluídos e sofridos.

Entre Jesus e aquela estrada, que conduz a Jerusalém, há uma relação vital: Ele é o “autor” daquela estrada; Ele é a estrada do cumprimento da vontade de amor e de salvação do Pai; Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Essa estrada deverá ser a mesma também dos discípulos, a do seguimento, a que conduz à Cidade santa, à plena bem-aventurança.

Um Caminho que faz viver e realiza a comunhão em plenitude. Revestido com o Amor e o poder divino, Jesus, no caminho, cura as pessoas. Aqui não se usa o termo milagres, mas de curas e nos faz lembrar o inicio do evangelho quando Ele assume este compromisso de cuidar bem das pessoas (cf. Lc 4, 18-19).

Em Nazaré, diz-nos o Evangelho, Jesus realiza curas, mas não milagres! A cura pode acontecer sem que leve à transformação da pessoa. Os milagres nem sempre conduzem à gratidão, nem sempre têm como consequência a conversão. A conversão pode ser espontânea e/ou repentina, mas depois precisa ser alimentada, cultivada, resistindo ao regresso ao passado, aos vícios e costumes de antigamente.

A gratidão, por outro lado, faz o milagre acontecer, a vida ter sentido, o coração dilatar, abrindo-se a Deus, aos outros, ao mundo. A gratidão convoca a alegria e a paz, faz-nos ver a nossa interdependência com o universo que nos rodeia, predispondo-nos a descobrir a verdade e o bem que acontece, prepara-nos para reconhecer e acolher os dons de Deus.

Vêm ao encontro de Jesus dez leprosos. A lepra é uma doença que provoca asco, medo, que afasta as pessoas.

Naquele tempo, qualquer doença de pele era considerada lepra e não apenas a lepra como doença contagiosa. O medo e a precaução em não contagiar a família, os amigos, os vizinhos, a comunidade, levou a que se elaborassem leis rigorosas, revestidas de pendor religioso. 

Um leproso tinha que se afastar da família e da povoação, evitar passar junto das outras pessoas e avisá-las quando havia algum tipo de aproximação. Até a forma de vestir os excluía, pois tinham que vestir andrajosamente e com o cabelo em desalinho.

“Jesus, Mestre, tem compaixão de nós”. Jesus os vê, olhos nos olhos, sintonizado com o seu sofrimento, e manda-os ir aos sacerdotes e pelo “caminho”, ficam limpos da lepra. 

A cena é muito comum e não dá lugar ao espetáculo e nem congrega pregadores histriônicos. Jesus age discretamente. Mostrar-se aos sacerdotes aponta para o louvor e gratidão a Deus e não marketing religioso. 

Reconhecer-se doente/pecador já é caminho. Colocar-se em movimento para procurar ajuda, também é caminho. Acolher e realizar o que o médico/Jesus recomenda abre à cura, mas não exatamente ao milagre.

Um deles, que era samaritano, ao ver-se curado, correu ao encontro de Jesus, para Lhe agradecer, louvando a Deus.

Jesus diz a este homem: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou». O milagre aconteceu. A sua fé salvou-o, não apenas o curou, fisicamente falando, mas transformou-o num homem novo, alegre e agradecido, pois uma segunda oportunidade lhe foi dada.

“Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?” A gratidão humaniza-nos, aproxima-nos uns dos outros, torna-nos dóceis e humildes, no reconhecimento do bem que ooutro faz ou, pelo menos, tentou fazer. 

Coisas simples, quando nos dão um copo de água, quando nos abrem a porta para passar, quando nos colocam um prato de comida à frente, quando, no trânsito, nos deixam avançar sem que tenhamos prioridade! 

Até pode ser que seja a obrigação da pessoa, ou o seu trabalho profissional, mas o “obrigado” é sempre um gesto de delicadeza e de reconhecimento pela outra pessoa e pelo serviço, gratuito ou remunerado, que nos presta.

O agradecimento mostra que o outro, quem servimos, nos presta atenção e aos gestos que fazemos. Enche a alma, desarma as pessoas, faz-nos mais iguais. Uma pessoa grata abre o coração aos outros e ao Outro. Uma pessoa ingrata fecha-se, encerra-se sobre si mesmo, torna-se fria, insensível, arrogante, indisposta com tudo e com todos.

“Nós Vos pedimos, Senhor, que a vossa graça preceda e acompanhe sempre as nossas ações e nos torne cada vez mais atentos à prática das boas obras”. (oração do dia)

Paraíba Online

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