segunda-feira, 22 de maio de 2023

Padre Edjamir Sousa Silva: Ensinando a cumprir o que vos ordenei

 


A subida de Jesus ao céu não significa o distanciamento dele em relação a nós, mas a possibilidade da nossa participação na Glória de Deus: “vou preparar um lugar para vós” (Jo 14, 2-4). Diz santo Agostinho: “Ele não abandonou o céu descendo até nós e nem se afastou de nós quando de novo subiu ao céu” (Apud CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C. São Paulo: Ave Maria, 2012, p. 320).

Os discípulos viveram durante quarenta dias a experiência da Ressurreição do Senhor que apareceu ao grupo sempre que estavam juntos (Jo 20,1-9. 19-31. Lucas 24, 13-35. Mt 18, 20) . Preparou-os para a vinda do Espírito Santo, fez refeição com eles (Jo 21, 1-14) Agora chega o momento de expandir a obra do Reino. É preciso caminhar firme com a certeza de que o Senhor caminha ao lado daquele grupo, orientando-os com a Palavra e alimentando-os com o seu corpo.

“(…) Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28, 16-20). A partida de Jesus gera o envio e a missão dos discípulos, na certeza de que Ele permanece conosco, sempre, até o fim.

Jesus, não faz discursos apocalípticos, moralistas ou proselitista, mas recorda os discípulos de ensinar a amar como Ele amou, a cuidar como Ele cuidou e até mesmo, se for preciso, dar a vida como Ele assim O fez pelo bem do mundo numa causa justa.

São Lucas, no Livro dos Atos dos Apostolos, faz-nos olhar para o Céu e para a terra, com implicações mútuas. A meta é o Céu, mas a terra é a oportunidade de chegarmos ao Céu. Não faz sentido ficar olhando para o céu se não nos comprometermos com a missão de ensinar a cumprir o que Jesus nos mandou: Anunciar a Boa Nova do Reino.

A Ascenção de Jesus nos ensina que uma boa espiritualidade (cristã) é marcada por este movimento: céu e terra. O pássaro voa ao mais alto dos céus, mas sempre movido pela atração da gravidade da terra. A terra, o chão é essencial, mas também a força da gravidade. Só assim o voo é estável e só assim é possível voltar a casa, de contrário, os pássaros desapareceriam na estratosfera. Sem a noção do cotidiano, das lutas diárias, da luta pela justiça social (a gravidade), a espiritualidade se perde num espaço sem rumo e sem sentido (vácuo espiritual).

A Ascensão de Jesus faz a ligação aos dois livros, Evangelho e Atos dos Apóstolos, sublinhando que agora os apóstolos têm ao seu encargo a missão de Jesus, cabe-lhes anunciar o Evangelho a toda a criatura.

As dúvidas e as hesitações de alguns, como tínhamos visto no Evangelho, persistem e manifestam-se (nas primeiras comunidades) na espera iminente do Reino de Deus ou na restauração de Israel. A resposta de Jesus é contundente: “Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade”, não é para ficarmos fazendo pregações sobre o final dos tempos num tom ameaçador; porem, ”recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra”, isto é, nossa preocupação é anunciar o Reino de Deus e a sua justiça.

Jesus elevou-Se à vista deles! Os discípulos continuam com dificuldade em assentar os pés na terra e comprometer-se com este chão, este mundo, a história, com os nossos irmãos. Ficar olhando demasiadamente para o céu pode ser um sintoma negacionista em relação aos reais problemas da vida: “Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu”.

A Galileia, periferia de Israel, não é citada aqui por acaso, há muitas situações que afligem aquele povo, como também “os confins da terra”. Há também as periferias existências que precisam ser melhor entendidas e assumidas como terreno de missão.

No início da celebração rezamos na oração coleta: “Deus todo-poderoso, fazei-nos exultar em santa alegria e em filial ação de graças, porque a ascensão de Cristo, vosso Filho, é a nossa esperança: tendo-nos precedido na glória, como nossa Cabeça, para aí nos chama, como membros do seu Corpo”.

A nossa identificação a Jesus terá como consequência e sequência o sermos assumidos por Ele na eternidade, para sempre.

Boa Semana para Todos!

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