Continuamos a iluminar e saborear
a nossa vida a partir das parábolas de Jesus (Mt
22,1-14), contadas aos seus oponentes (v. 1).
Certamente nos lembramos na última parábola de Jesus o proprietário que
confia a sua vinha aos vinhateiros e, chegando o tempo da colheita, manda os
seus servos para receber os frutos. Os vinhateiros respondem com insultos,
agressões e morte. Matam inclusive o Filho do dono da vinha para ficar com a
herança que Lhe pertencia.
Na
parábola desta semana, algo semelhante, acontece. O rei convida para uma festa.
Envia seus servos para dizerem aos convidados que a festa está pronta (tempo da
colheita). Os servos são tratados com frieza, desculpas de todo o tipo,
violência e morte.
Nessa
parábola, o destino dos convidados é semelhante ao dos vinhateiros: são mortos.
A morte dos vinhateiros e dos convidados frios e violentos não se dá por
vingança odiosa por parte de Deus, mas tem o mesmo sentido do que diz o
evangelista João: “quem não crer já está condenado/morto” (3,18). Sendo assim,
a vinha é confiada a outros vinhateiros. O banquete tem outros convidados.
Esquecendo
a parte bélica da parábola, convém lembrar que o rei é o próprio Deus que continua
a convidar. Uma leitura imediata do texto faz-nos compreender que aqueles que
se julgam salvos (os judeus piedosos, os grupos que recusaram Jesus e o Seu
Evangelho) estão a cavar a própria sepultura.
A
parábola descreve que Jesus, na Sua missão evangelizadora, vem pelos caminhos e
encruzilhadas da vida, do mundo, da história, e chama a todos, pois a salvação
é para todos. A condição para segui-Lo é deixar o que se está a fazer (a vida
anterior), tudo o que nos distancia de Deus e dos outros, para entrar na
alegria da salvação, entrar na lógica do reino de Amor que Jesus inaugura.
Os
que se arrogam justos e salvos, não entram na festa. São como aquelas virgens
imprudentes (falta o azeite da sabedoria e a luz da vida dentro de si). Porém,
a sala enche-se a partir do momento em que todas as periferias vêm para o
centro, vêm para Jesus, ou no momento em que o amor de Jesus (que dá vida em
abundância) chega a todos os recônditos.
Se
na parábola das dez virgens o critério era ter a luz para entrar na festa,
nesta parábola a orientação da festa é ter o traje nupcial. Precisamente,
deixar a roupagem anterior, pesada, suja, para vestir-se de um traje luminoso,
que nos torne transparentes, afáveis, próximos, mais iguais, mais irmãos,
dóceis, mais justos, mais amigos, mais família; um traje ágil, leve, atraente,
que nos permita acariciar, dar as mãos, beijar, afagar o rosto do outro; trajes
que não nos afastem e não nos dividam em categorias (ricos pobres/ chiques ou
bregas), roupas com muita etiqueta, mas com pouco amor. É preciso deixar que a
nossa vida, atravessada pelo Espírito Santo, transpareça Jesus Cristo.
A
lição do Evangelho (do Reino) é sugestiva: cuidado com os formalismos, com os
legalismos e as etiquetas que tanto nos categorizam, pois quem não se sente bem
entre irmãos, num banquete, cheios de formalismos vazios, não entende o
critério da festa. Somos filhos e esse é um tratamento de qualidade.
Se
formos filhos, estamos em casa, sentimo-nos mais descontraídos: “Sobre este monte, o Senhor do
Universo há de preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos,
um banquete de vinhos deliciosos: comida de boa gordura, vinhos puríssimos. Sobre
este monte, há de tirar o véu que cobria todos os povos, o pano que envolvia
todas as nações; destruirá a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as
lágrimas de todas as faces e fará desaparecer da terra inteira o opróbrio que
pesa sobre o seu povo”
(Is 25, 6-8).
O
Banquete do Reino de Deus é o melhor que pode haver: “O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva-me a
descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e reconforta a
minha alma. Para mim preparais a mesa à vista dos meus adversários; com óleo me
perfumais a cabeça e o meu cálice transborda”. (Salmo 22, (23)).
Em
Jesus a promessa do Senhor se cumpre, pois Ele é o Bom Pastor. Traz-nos Deus.
Abre-nos o Céu. Mostra-nos a eternidade. Antecipa a glória do amanhã.
Salva-nos, aqui e agora. Convida-nos, a todos, para o banquete. Sem exceção. E,
ao mesmo tempo, nos envia, para que vamos, aos caminhos e encruzilhadas, e
chamemos mais: “saíram pelos caminhos e reuniram todos” (Mt 22, 29)
Na
Eucaristia, saboreamos a presença de Deus que desce e nos eleva, e nos
compromete. Quanto mais em Deus, mais disponíveis para amar. A Eucaristia
faz-nos Igreja, faz-nos Corpo de Cristo, faz-nos irmãos. Identificando-nos.
A cada domingo o Senhor nos
convida ao banquete da eucaristia como um sinal prefigurativo do banquete
nupcial no seu Reino. É o Senhor mesmo a preparar esta mesa farta de esperança
e solidariedade. Contudo, para que haja comunhão perfeita nessa mesa,
precisamos todos nos convencer, arrepender e converter de nossas atitudes
mortas.
Boa
semana!
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