segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Padre Edjamir Sousa Silva: “Vendo que o seguiam” (v. 38a)




Depois do batismo de Jesus, no Rio Jordão, por João Batista, iniciamos mais um ciclo, o do Tempo Comum. Compreenda-se que o Tempo Comum é o percurso cotidiano onde Deus se manifesta como caminho, verdade e vida.

Muitos entram em Seu caminho por que O buscam, por que dentro de si ainda existe os bons ideais de justiça, de paz, de fraternidade, partilha… e, assim, se encontram. É um caminho vocacional de ideais partilhados.

É possível que haja pessoas que há muito tempo estão dentro das comunidades eclesiais sem dar-se conta do evangelho. Mas, muitos cristãos entraram, de fato, no caminho de Jesus, por fé e convicções compartilhadas com os Seus ensinamentos e não por um mero preceito ou coisas vazias.

No Evangelho (Jo 1, 35-42) João Batista ver Jesus passar pelo caminho e como um mestre/profeta que ensina o povo o caminho da justiça do Reino, afirma: “Eis o Cordeiro de Deus”. Esse é o papel das nossas comunidades, apontar para o Cordeiro.

O evangelho testemunha que ao ouvirem as palavras do Batista (v. 27), os discípulos passaram a seguir Jesus. Chega-se a Jesus sempre através de um intermediário. Quem descobre a pessoa de Jesus percebe que Ele tem palavra de vida, de esperança, de salvação; por isso, não guarda para si essa descoberta libertadora.

João Batista nos ensinou que nenhum de nós, membros da igreja, deveríamos arrastar discípulos para nós mesmos. Quem não recorda o episódio triste da polarização na comunidade de Corinto que se reúne entorno de personalidades que tinham colaborado ali, como Paulo e Apolo (1Cor 3,4). Havia um grupo que talvez fosse o mais perigoso deles que, não gostavam de estar debaixo de nenhuma mediação, e se dividiam dizendo “ser do grupo de Cristo” (1, 12).

Esse é um risco que nos chama à vigilância, particularmente a nossa geração midiática que delira quando ver em seus perfis de redes sociais “Tal pessoa começou a seguir você” e/ou “15 milhões de pessoas seguem tal influenciador(a)”. Quem compreenderá o que nos ensinou o profeta: “Que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3, 30)?

“Vendo que o seguiam” (v. 38a). Jesus percebe aqueles que estão se aproximando d’Ele e não hesita em perguntar-lhe sempre: “O que vocês estão procurando?” (v. 28b). Essa pergunta também é para mim e para você.

“Rabi, onde moras?” (28c). A pergunta se dá num amplo significado que vai além de um lugar estático, mas de um caminho. Jesus lhes propõe um caminho: “Vinde ver” (v. 39).

Domingo passado ouvíamos que a adoração dos Magos custou aos videntes vindos do Oriente um novo caminho para casa. Hoje, ouvimos a mesma coisa. Encontrar Jesus é ter a certeza de que A VIDA PODE ALTERAR-SE. Eis o significado de converter-se ao evangelho. Muitas vezes Jesus propôs esse caminho aos rígidos e instalados da religião de seu povo (moralistas) e as autoridades civis de seu tempo (sanguinários e exploradores dos pobres), mas eles não quiseram ouvir e nem seguir.

No decorrer do caminho o discípulo entende que o seguimento de Jesus visa precisamente tornar-nos morada do Senhor. Ele vem até nós, para fazer em nós a Sua morada. São Paulo ensina: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós e vos foi dado por Deus? (1 Cor6, 19-20). Pela água e, sobretudo, pelo Espirito Santo, somos novas criaturas onde Deus habita. A nossa identidade coloca-nos na rota de Deus. D’Ele vimos, para Ele caminhamos.

“Encontramos o Messias” (v. 41). Não passa despercebida a evolução, não totalmente completa, da compreensão dos discípulos a respeito de Jesus: de Rabi a Messias. Caminhar com Jesus faz compreender quem Ele é.

“André conduziu” (v. 42). Aqui começa uma nova fase no caminho deles: o testemunho. Jesus continua a chamar a muitos outros, através do convite que fazemos para conhecê-Lo e permanecer com Ele.

Alguns fatos curiosos se destacam nesse clima vocacional do evangelho. Jesus não está em ambiente litúrgico (Templo), mas num ambiente de pesca, de trabalho, do cotidiano, da vida comum das pessoas. Jesus não se restringe aos espaços de culto; e, assim, nos ensina que o Caminho de Deus é vasto, é o caminho de cada pessoa (que é templo de Deus).

Jesus não convidou, inicialmente, para a composição de seu grupo, as autoridades religiosas de seu povo, pois fechados e legalistas como eram, talvez causassem problemas sérios (como, de fato, aconteceu mais tarde e continua a acontecer).

O anúncio da Nova Aliança (Reino de Deus) precisa de um novo fragor, de pessoas abertas, de flexibilidade, de compreensão da vida à luz do Espirito e não da letra (que mata), de gente concreta e não pessoas pré-fabricadas nas ideologias e máscaras de perfeição. Por isso que nos sentimos atraídos pela lógica do Reino.

ABANDONAR A VIDA PASSADA NÃO SIGNIFICA ABANDONAR A VIDA, isso chega a ser patológico. Há pregações angelicais que se propagam com tanta facilidade arrancando das pessoas o fragor e a arte de viver. Por vezes, o que se pede dos que desejam seguir a Jesus, é algo desumano e, ainda dizemos, “o Deus das coisas impossíveis há de fazer”. Será mesmo que Jesus compactua certos radicalismos? Será que Jesus se deu aos caprichos dessa gente?

Por isso que no grupo de Jesus não tinha essas figurinhas, mas pessoas que desejavam a vida e a vida em abundancia e quando um ou outro queria dissimular o caminho, o Mestre o reprendia (cf. Mt 16, 23. 26, 31-35. Mc 14, 27-31. Lc 22, 24-38. Jo 13, 31. 38.). Jesus é a salvação para um mundo sem vida, dominado pela ignorância (trevas) e sujeito as dominações desumanas.

Guardemos isso no coração: MUDAR O CAMINHO é dirigir a vida para a lógica do Reino de Deus: “Vinde ver!” (v. 39).


Boa semana!

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