O Livro do
Deuteronômio, contexto da 1ª Leitura de hoje (5, 12-15), faz grande
memória histórica da escravidão de Israel no Egito e a libertação nela se
insere como intervenção divina que transformou a vida do povo.
Essa liberdade era sempre celebrada.
O preceito do sábado funcionava como o dia da memória “semanal” dos grandes
feitos do Senhor, ao mesmo tempo era símbolo dos deveres do povo para com o
Senhor Deus (O libertador de Israel) e o compromisso social continuo pela
libertação.
A primeira leitura nos convida a
regressar aos fundamentos da celebração: só é dia do Senhor se for dia do
direito a vida e do descanso daqueles mais oprimidos na sociedade. Criação e
libertação se iluminam e dão fundamento ao sentido da celebração.
O sábado para os judeus e o domingo
para os cristão são dias proféticos que denunciam a servidão e o culto a tudo
aquilo que desfigura o SER HUMANO.
NA 2ª LEITURA (2Cor 4, 6-11) Paulo
defende seu ministério, mesmo que nenhum cristão tenha vindo em sua defesa,
dizendo que seu ministério está em consonância com o de Jesus Cristo e não tem
nenhuma pretensão de protagonismo, uma vez que é sua mensagem que assume o
protagonismo e não ele.
No evangelho proposto para este domingo (Mc
2, 23-3,6) encontramos Jesus sendo questionado por fazer o bem em dia de sábado
e na sinagoga ensinando a interpretar a lei a partir da misericórdia: “é
proibido fazer o bem em dia de sábado (...) salvar uma vida ou deixa-la morrer?”.
A sinagoga era o lugar onde se recordava e se celebrava o Deus que havia conduzido
o seu povo “com braço estendido e mão forte” para a terra da liberdade, agora
se converteu em um lugar onde a Lei afoga a liberdade dos filhos de Israel.
A sinagoga se
transformou no espaço onde se gerou submissão, medo e escravidão; em vez de pôr
as pessoas de pé, a caminho de uma nova Páscoa; atrofia seus braços e as
paralisa. Ela deixa de ser lugar de celebrar a vida para ser lugar de
indiferença, de exclusão e preconceito.
O sábado era o dia de festa pelo bem-estar de todas as criaturas do repouso da
Criação em Deus. Porém, o legalismo fez da libertação um jugo e um pranto.
Dentro da
Sinagoga Jesus expressa sua profunda irritação porque lhe dói a dureza de
coração daqueles que fizeram de Deus uma propriedade privada e do lugar
sagrado um ambiente de uma moralidade
que gera descriminações.
Na Sinagoga,
no centro do espaço litúrgico está um púlpito onde quem preside faz a leitura da
Torá. Ali está o lugar onde se ilumina a vida humana. É para aquele lugar que
Jesus chama o homem da mão atrofiada: “levante-se”. Ele vem para o centro de
todas as atenções.
Jesus aproveita a ocasião para
interpretar a Torá fazendo uma leitura a partir da vida de um homem
estigmatizado por uma má interpretação da lei. Em Jesus, fala o espirito da lei
e não a letra.
A intenção teológica da cura no evangelho
de Marcos não é de fazer sensacionalismos com Jesus, mas de reposicionar a
religião segundo os desejos de Deus: “O homem não foi feito para submissão da
lei, mas a lei que foi feita para libertar o homem”.
Quem ler o evangelho percebe que o
legalismo (na sua vertente religiosa) é um risco constante na vida pessoal e
eclesial (mesmo que se viva um profundo desejo de piedade).
É preciso dizer que há concepções de Deus
que matam a alegria, a festa e o prazer de celebrar a vida. Impressiona a
maturidade e a liberdade de Jesus para denunciar o legalismo religioso.
Com gestos de misericórdia e acolhida
para com os excluídos, Jesus desperta a fúria e a inveja.
Há pessoas que não suportam a alegria dos
outros, não se alegram com outros, não sabem revelar a ternura e a compaixão de
Deus. Vivem como pessoas atrofiadas por um
legalismo e sentem orgulho e segurança nisso. Eles não conseguem revelar
a verdadeira face de Deus.
“A
lei foi feita para o homem”. Nenhum tirano-legalista-ditador compreende
isso. Sua satisfação não é humanizar a vida, mas atrofiar e reprimir todas as
possibilidades de uma interpretação onde justiça-amor-paz se abracem.
Com o coração, mãos e braços atrofiados
não conseguem chegar nem próximo a Deus, nem junto ao outro (irmão). É nesse
coração chagado e endurecido que Jesus quer tocar.
Na sinagoga de nosso Coração deixemos
Jesus falar. Superemos nossa incapacidade de interpretar com misericórdia as coisas
de Deus . Talvez, hoje, seja fundamental retirar de nossos púlpitos “os lobos
revestidos em pele de cordeiro”, isto é, religiosos desumanos.
Trabalhemos para não subverter ninguém a
obrigações vazias e até mesmo narcisistas, mas para libertar e fazer a vida
acontecer para todos. RELIGIÃO QUE NÃO LIBERTA NÃO SEGUE JESUS E NÃO CONTRIBUI
PARA A EVANGELIZAÇÃO É UM MERO DESSERVIÇO.
Boa semana!
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