“Aquilo dá para alimentar pessoas fragilizadas, mendigos, desamparados.
Melhor do que deixar estragar", disse Guedes
Brasil de Fato: O
ministro da Economia, Paulo Guedes, sugeriu nesta quinta-feira (17) que sobras
de restaurantes sejam destinadas às populações pobres e vulneráveis, como forma
de política de combate à crise social e aos crescentes índices de insegurança
alimentar do país. “Aquilo dá para alimentar pessoas fragilizadas, mendigos,
pessoas desamparadas. É muito melhor que deixar estragar”, afirmou, durante
participação virtual em evento promovido pela Associação Brasileira de
Supermercados (Abras).
O ministro propôs que “desperdícios”
da cadeia e “excessos” cometidos pela classe média poderiam ser mais bem
aproveitados e distribuídos à crescente massa de brasileiros em situação de
pobreza, muitos já em condições extremas.
Para justificar o raciocínio, o economista afirmou que o prato
de um cidadão de classe média da Europa, “que já enfrentou duas guerras
mundiais”, seria “relativamente pequeno”. E prosseguiu. “E os nossos, aqui,
fazemos almoços onde (sic) às vezes há uma sobra enorme. E isso vai
até o final, que é a refeição da classe média alta. Até lá, há excessos”,
prosseguiu.
“Como utilizar esses excessos que
estão em restaurantes e esse encadeamento com as políticas sociais, isso tem
que ser feito. Toda aquela alimentação que não for utilizada durante aquele dia
no restaurante, aquilo dá para alimentar pessoas fragilizadas, mendigos,
desamparados. É muito melhor do que deixar estragar essa comida toda”.
Vencidos
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que também
participou do evento, fez coro com o colega da Economia, defendendo a
flexibilização de regras que tratam da validade de alimentos, também como forma
de atuação do governo para combater a atual disparada dos preços dos alimentos.
A ideia do governo Bolsonaro é que
alimentos que atualmente poderiam ser considerados “vencidos” possam ser
vendidos “a baixo custo” ou até mesmo doados. “A gente poderia fazer uma
adaptação, sem precarizar nada. Podemos rever uma série de fatores e gargalos,
principalmente em relação à validade dos nossos alimentos. A pandemia nos trouxe
esse tema de maneira perceptível, temos que agir rapidamente”, afirmou.
Desconhecido
Reações às declaração de Paulo Guedes mostraram indignação pela
ideia de distribuir restos de alimentos aos pobres, ignorando a questão da
crescente desigualdade do país, ampliada pelas reforma neoliberais e pelos
resultados da condução da pandemia pelo governo de Jair Bolsonaro.
A Fenafisco (Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital)
divulgou nota em que critica Paulo Guede e diz que ele demonstra
“desconhecimento do funcionamento de seu próprio país.” A entidade cobra
“políticas sérias e efetivas” de combate à desigualdade. “Guedes novamente se
posiciona de forma elitista, ao falar que os brasileiros de classe média comem
demais e as sobras de alimentos deveriam ser utilizadas para mitigar o problema
da fome”, diz a nota. No comunicado, a Fenafisco reafirma a defesa da
tributação dos mais ricos para financiamento de programas sociais, entre
outras.
“Não é de hoje o desprezo de Guedes com os pobres. Mas a
perversidade não tem limites e ele defende dar resto de comida pra quem tem
fome. Pra completar o terror, Tereza Cristina, da Agricultura, fala em
alimentos vencidos. Não basta o vírus e a fome, esse governo é higienista!”,
escreveu a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann.
19 milhões de brasileiros
Segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar
no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, conduzido pela Rede Brasileira
de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan),
publicados pela Folha de S. Paulo, a fome alcançou 11,1% das residências
chefiadas por mulheres e para 7,7% nos casos em que o homem é considerado o
chefe da família.
Um total de 19 milhões de brasileiros sofreram com a fome
durante a pandemia ao longo do ano passado. Ele estão entre as 116,8 milhões de
pessoas que registraram algum grau de insegurança alimentar no final do ano
passado, o que alcança a 55,2% dos domicílios.
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